A Apple é uma das empresas mais inovadoras que temos e mudou a indústria tecnológica. Contudo, a sua faceta sustentável não mascara o custo ambiental das atualizações anuais de produtos, que a empresa promove de forma implacável.
A cada novo modelo, damos passos para trás na sustentabilidade, e grandes saltos para a frente no consumo excessivo e desnecessário.
A narrativa de sustentabilidade da empresa é prejudicada, essencialmente, pelo seu impulso contínuo para ‘upgrades’ anuais, uma estratégia que é tanto ambiental como eticamente questionável. Apesar das iniciativas de marketing “verde”, a estratégia de crescimento da Apple baseia-se em convencer os clientes de que precisam do modelo mais recente, perpetuando um ciclo de sobreconsumo e contribuindo para a cultura do descarte. Milhões de aparelhos eletrónicos são deitados fora todos os anos, libertando gases poluentes que prejudicam o ambiente e a saúde humana. Este problema está a agravar-se e a maioria dos consumidores não tem consciência disso.
Rotular um produto como “neutro em termos de carbono” e, ao mesmo tempo, alimentar um ciclo de tecnologia descartável, que precisa de ser substituída ou reparada após uma utilização mínima, é como plantar uma árvore numa floresta em chamas – é mais simbólico do que substancial. Importa que a Apple torne os seus produtos reparáveis e duradouros, para evitar a substituição após um ano de utilização.
Este mês, prevê-se que a Apple lance quatro novos iPhones, cada um com atualizações mínimas, semelhantes às realizadas das versões anteriores para as atuais. Verdadeira inovação seria focar-se em caraterísticas que prolongariam o ciclo de vida de um dispositivo, designs mais duradouros e opções de reparação menos dispendiosas.
A verdadeira inovação não está num novo modelo de telemóvel todos os anos; está na criação de dispositivos que duram, que são reparáveis e que não exigem o sacrifício do planeta para se manterem relevantes.
Enquanto maior vendedora de telemóveis do mundo, a Apple deve liderar pelo exemplo. No entanto, as contínuas alegações de obsolescência programada contra a empresa e a sua hesitante implementação da iniciativa ‘Right to Repair’ sugerem que é dada prioridade aos lucros, em detrimento da preservação dos recursos da Terra. Os gigantes da tecnologia têm de começar a priorizar a sustentabilidade em vez do consumo excessivo, para mostrar que as suas práticas ambientais não são apenas uma tendência, mas uma necessidade urgente. Têm de ser estabelecidas e cumpridas novas normas industriais, para que se contribua de forma significativa para a prevenção das alterações climáticas.
Quanto tempo mais pode o planeta suportar este nível de consumo? Com a produção de novos ‘smartphones’ a exigir, em média, até 13.000 litros de água, e com 232 milhões de iPhones a serem vendidos anualmente, é altura de responsabilizar a Apple pelas suas ações e exigir mudanças e responsabilidades.
Kilian Kaminski, cofundador da refurbed