“Sustentabilidade na Supply Chain” foi o tema escolhido pela Supply Chain Magazine, em parceria com o ECO, para abordar durante a manhã da passada quarta-feira, 11 de setembro, no Auditório da Auchan Retail. Embora seja um tema tão importante e abrangente, que tem informação para discutir durante mais do que um dia, foi uma manhã produtiva em termos de conhecimento e partilha sobre para onde as empresas se devem dirigir nesta jornada em prol de planeta mais sustentável. 

A primeira intervenção da manhã esteve a cargo de António Barroso Vieira, sustainability and climate change senior manager da PWC, e Pedro Pinto Barros, business transformation senior manager da PWC, que apresentaram o estudo global da PWC “Reinventing supply chains 2030”, publicado em junho de 2024. Uma das principais conclusões do relatório é que a revisão e redefinição das cadeias de abastecimento é inevitável. A partir dos dados obtidos das empresas que participaram no estudo, apurou-se que, por um lado, os diretores acreditam que as tendências se vão acentuar nos próximos 10 anos e, por outro, as supply chains já se encontram num período intenso de transformação. Ainda assim, os oradores identificaram algumas das tendências que irão afetar mais as organizações nos próximos anos: resposta rápida a disrupções, avanços tecnológicos, competição por sistemas integrados, crescimento do talento, a necessidade emergente de novos modelos de negócio, e ESG compliance, sendo, este último, o foco da apresentação. O ESG não versa apenas sobre as questões ambientais, mas também as áreas sociais de governance. O estudo aponta que mais de 40% das empresas considera que o ESG compliance irá causar uma grande disrupção no futuro, uma vez que os novos requisitos obrigam as empresas a operar de uma forma mais sustentável e transparente.

O primeiro painel-debate, intitulado “Sustentabilidade na Supply Chain: a Visão da Indústria e do Retalho”, reuniu um conjunto diversificado de especialistas que partilharam perspetivas valiosas sobre a intersecção entre logística e sustentabilidade. Ana Rita Cruz, diretora de responsabilidade ambiental e social da Auchan Retail, Cláudia de Brito, global head of transportation operations da Nokia, Rui Baptista, diretor de logística da Volkswagen Autoeuropa, Ricardo Marques, supply chain director da Bel Portugal, Manuel Bastos, responsável por assuntos públicos, comunicação e sustentabilidade da Coca-Cola Europacific Partners, moderados por Pedro Silva Caldeira, investigador e professor convidado na Universidade Nova, FCT e SBE, protagonizaram uma conversa enriquecedora. Este diálogo entre profissionais de logística e sustentabilidade é crucial para promover práticas que não apenas otimizem a eficiência das cadeias de abastecimento, mas também respeitem e preservem o meio ambiente.

Cláudia de Brito, começou por explicar que está responsável pela área de transporte global da empresa, uma das mais centrais no que diz respeito à sustentabilidade. “Tenho, em conjunto com a minha equipa, de fazer mover os bens através do planeta, o que cria emissões de dióxido de carbono”. A Nokia tem o objetivo de descarbonizar até 2040 e, por isso, um dos projetos implementados foi o transporte através de comboio, no inbound. Por sua vez, Rui Baptista apresentou os planos de sustentabilidade da Volkswagen. A nível da fábrica destacou uma estação de tratamento de águas residuais que permite a redução do consumo de água utilizada para a pintura dos veículos; uma nova instalação, projetada para setembro de 2029 que permitirá terminar com o uso de gás, que consiste num dos principais emissores de CO₂ da fábrica; a utilização de energia geotérmica; e a redução da quantidade de papel, plástico e esponja dos produtos, para transportar mais produtos na mesma embalagem.

Ana Rita Cruz, da Auchan, indicou que a empresa reviu as prioridades estratégicas e identificou três eixos: packaging sustentável, combate sustentável e o plano climático. Na área da logística aderiu ao Lean & Green uma vez que conseguiu reduzir em 36% a pegada de carbono na área de armazenamento de produtos. Contudo, é na comercialização que está concentrada as maiores emissões de CO₂. É através da relação com os fornecedores que a Auchan está a trabalhar para reduzir a pegada carbónica. Será implementada uma plataforma que irá ligar sistemas de logística para analisar o impacto de diferentes produtos, de fornecedores, e da cadeia de abastecimento para atuarem consoante a informação. No Grupo Bel têm vindo a ser implementadas várias medidas nos últimos anos, de acordo com Ricardo Marques. Em 2020, a empresa decidiu reduzir a sua pegada ambiental em 20% até 2022. Desde então avaliaram o fluxo nas fábricas, e nos armazéns, e tomaram algumas medidas. Foi criado um segundo armazém na zona norte para evitar que os produtos fizessem viagens desnecessárias pelo país, e passaram a utilizar megatrucks transportando agora 106 paletes, em vez de 66. Segundo o responsável, hoje já têm condições para concorrer para obter uma nova estrela Lean & Green. Quanto à Coca-Cola Europacific Partners, algo curioso, é que todos os oradores do painel já participaram em sistemas de sustentabilidade e/ou social da empresa. Uma das medidas implementadas pela Coca-Cola, foi a criação de um armazém ao lado da fábrica que reduziu a movimentação de paletes.

Martijn Vlutters, vice president, member of the executive management da VGP Parks, falou sobre a relação entre a sustentabilidade ambiental e os empreendimentos logísticos. “Building Tomorrow Today: Real Estate Meets EU Taxonomy” foi o mote da sua apresentação. A EU taxonomy consiste numa metodologia para identificar atividades sustentáveis, e estas só são assim consideradas se fizerem uma contribuição sustentável para, pelo menos, seis objetivos ambientais, e se não prejudicarem os restantes cinco objetivos. No caso da VGP, 31% do seu portfólio está confirmado e estão prestes a atingir a compliance da EU taxonomy. O responsável destacou a importância das infraestruturas para o sucesso das operações das empresas, e do investimento inicial em sustentabilidade para as metas ambientais dos seus clientes.

Após o coffee break foi tempo de em formato de mesa redonda o foco incidir na visão da logística e do cargo freight sobre estas questões da sustentabilidade. A moderação estava a cargo de Nuno Sousa Santos, CI EMEA logistics manager da McCormick & Company, que contou com a presença de Gonçalo Rosmaninho, diretor de logística da Auchan Retail, Luís Ferreira, diretor-geral da HAVI Portugal, Cláudia Simões, coordenadora de desenvolvimento sustentável da Luís Simões, e Tiago Fernandes, diretor de negócio portuário e logístico da APSS.

Todos partilharam os seus esforços em torno da sustentabilidade ambiental. Na Auchan Retail, por exemplo, “os esforços de sustentabilidade têm de ser em colaboração com os nossos parceiros”, reflete Gonçalo Rosmaninho. Na sua ótica, o grande desafio passa por conseguir uma política de partilha de ganhos com os fornecedores. Destacou ainda a importância de trazer a academia para junto das empresas, sobretudo nas áreas de gestão operacional, para ajudar a solucionar desafios que se avizinham.

Cláudia Simões trabalha há 17 anos na área da sustentabilidade, e a Luís Simões foi a primeira empresa em Portugal a criar um relatório nesta área. “A visão de futuro da administração não iria para a frente se não puséssemos em prática medidas sustentáveis”, refere. Destaca como um dos maiores desafios instruir os trabalhadores dos vários elos sobre os “palavrões” sustentáveis com os quais se deparam, isto porque “não é possível ser um operador de logística sem ser eficiente”. Por sua vez, Luís Ferreira explica que a eficiência é um dos pilares que têm mais presente na organização. Trabalham com empresas que asseguram materiais sustentáveis, otimizam a utilização de água, bem como as rotas de transporte.

A sessão seguinte contou com Denis Frojmowicz, SHEQ manager da LPR Portugal, que falou sobre a visão circularidade pela qual a empresa se distingue, nomeadamente o reaproveitamento das ditas ‘paletes vermelhas’. Iniciaram projetos de energia verde, nos quais alteraram os contratos energéticos, o que representa 56% de paletes verificadas; de combustíveis, em que, em parceria com a Prio, utilizam várias ecologias de biodiesel B50 e HVO; e tratamento térmico, em que estão a fazer a transição para sistemas de pellets e biodiesel B100.

As últimas três conferências do evento focaram-se na relação da sustentabilidade nas áreas de procurement, na importância do cálculo da pegada carbónico na medição da sustentabilidade, e na importância da rastreabilidade na cadeia de valor.

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