A cadeia de abastecimento tem emergido como um elemento central na estratégia empresarial moderna. Não é apenas como mecanismo operacional para movimentar produtos (ou providenciar estrutura para prestar serviços) de um ponto A para um ponto B; tornou-se, antes, um diferenciador competitivo sério em termos de práticas empresariais.
Com a crescente atenção aos critérios ESG (Environmental, Social e Governance), as empresas são pressionadas não só a optimizar as suas operações, mas, também, a garantir que essas operações sejam sustentáveis e socialmente responsáveis. A cadeia de abastecimento é, muitas vezes, o ponto de interseção onde as políticas ESG encontram a realidade operacional, prática. Desde a qualificação de fornecedores que devem adotar práticas ambientais corretas até à garantia de condições de trabalho justas em todas as etapas, a cadeia de abastecimento é um espelho das práticas ESG de uma organização.
É aqui, igualmente, que a Inteligência Artificial entra como uma ferramenta transformadora. A IA permite uma visibilidade sem precedentes em toda a cadeia, possibilitando a análise de dados em tempo real e a identificação de riscos e oportunidades que seriam impossíveis de detetar manualmente. Com algoritmos avançados, é possível prever interrupções, otimizar rotas de transporte para reduzir emissões de carbono e até mesmo monitorar o cumprimento de normas ambientais e sociais por parte dos fornecedores.
A integração da IA na gestão da cadeia de abastecimento não é apenas uma questão de eficiência operacional; é uma necessidade estratégica para atender aos padrões ESG e, ao mesmo tempo, permanecer competitivo num mercado hipercompetitivo cada vez mais exigente. As empresas que conseguem alinhar essas dimensões tendem a ganhar a preferência dos consumidores, investidores e outras partes interessadas.
Concluo, a cadeia de abastecimento moderna deve ser vista não apenas como uma função (mais) operacional, mas como um ativo estratégico que, quando bem gerida com o apoio da Inteligência Artificial e orientada por princípios ESG, pode gerar valor significativo e sustentável para a organização e para a sociedade. Chama-se a isto, eu chamo, evolução. Porque a cadeia de abastecimento, essa, é mais do que milenar, embora os princípios de gestão se venham alterando ao longo do tempo e dos milénios e séculos.
José Crespo de Carvalho, Presidente do ISCTE Executive Education, Coordenador da Pós-graduação em Logística e Gestão da Cadeia de Abastecimento