A Associação dos Transitários de Portugal (APAT) está prestes a celebrar 50 anos de existência. Foi neste ano de comemoração que entrou em funções a direção para o triénio 2024-2026, liderada por Joaquim Pocinho. Em entrevista, o novo presidente da direção aborda os desafios que os transitários têm pela frente e as expectativas para os próximos tempos, face às tensões geopolíticas, às tendências atuais e à política do Governo para o setor.
SCM – Iniciou a sua carreira nos transitários há quase 30 anos. Como recorda o seu percurso e o que o levou à presidência da APAT?
Joaquim Pocinho – Eu comecei nesta atividade em 1997, no Grupo Sousa. Exerço funções nos transitários, desde as operações até à gerência, há quase 30 anos.
Na APAT, puseram-me este desafio em 2015, como vice-presidente, durante os três mandatos de Paulo Paiva. Depois, em 2023, por questões institucionais, ele não se podia recandidatar à presidência, e, dentro da direção, surgiu a ideia de continuar o trabalho das direções do Paulo Paiva. De uma forma responsável, aceitei o desafio de continuar o trabalho dos seus mandatos em serviço à comunidade transitária, que nós apreçamos ao associativismo e que consideramos necessário para defender os interesses dos transitários junto dos demais players e do contexto do mercado.
Falando exatamente em defender os interesses, quais são as expectativas para este triénio e para o apoio à atividade dos associados?
A APAT e os transitários têm vários desafios à sua frente. O mundo dos transitários e da logística, tal como tudo o resto, tem mudado a uma grande velocidade ao longo dos últimos anos, e nós temos desafios para o nosso futuro, que são, digamos, internos do próprio setor, onde se inclui a modernização, a digitalização das operações, a escala com que os transitários têm de enfrentar o mercado, as novas tendências de consumo ao nível do e-commerce e das entregas ao domicílio – o last mile -, e toda essa envolvente de novas tendências de consumo que os transitários têm de acompanhar. São desafios internos do próprio setor a que as empresas têm de estar atentas para estar de acordo com o aprofundo dos tempos. Depois há desafios externos que têm a ver, obviamente, com toda a interligação dos transitários ao seu meio, nomeadamente as nossas relações com o Estado, todos os contextos que o Estado e o Governo nos oferecem, no sentido de sermos mais, ou menos, competitivos. Portanto, são duas vertentes a que nós temos de dar muita importância nos próximos tempos, para que o setor saia, no futuro, fortalecido.
Depois ainda há questões que têm a ver com o apoio que a APAT tem dado, e quer reforçar, no âmbito dos programas de formação que oferece aos seus associados, e que tem sido uma imagem de marca da APAT nas últimas décadas, com grandes resultados positivos no âmbito da formação constante de técnicos e empresários transitários. A APAT tem tido um papel muito importante nessa área e que quer continuar a reforçar, usando não só a formação clássica e presencial, mas também todas as ferramentas hoje disponíveis de plataformas online para formação à distância.
Outra das vertentes que a APAT, no seu apoio ao setor, considera fundamental para cooperar e dar uma ajuda aos transitários é o começo das consultas jurídicas online para os associados, que vai ser uma realidade em breve. Por outro lado, outro ponto a que nós temos dado muita importância é a ligação das empresas ao mundo académico, nomeadamente às academias portuguesas que lecionam logística e todas as temáticas com os transportes. O conhecimento e a economia devem estar muito ligados, porque só assim é que têm futuro. São estes os desafios que temos para os próximos três anos, e já não são poucos.
A associação celebra 50 anos. Como foi a evolução ao longo destas cinco décadas, não só ao nível de associados, mas também da importância e relevância que o setor tem tido para superar estes desafios?
Os transitários são, por definição, muito resilientes. São empresas que têm uma capacidade de adaptação às mudanças que a economia e o mundo vão tendo ao longo dos anos. A APAT faz este ano 50 anos, e vamos ter um dia do transitário mais especial no final do ano, para comemorar este marco. Em 50 anos tudo mudou, mas o essencial é estável. Os transitários são fundamentais para que a economia funcione de forma ágil e de forma eficiente. Nós somos as veias de um corpo que se chama economia. A esmagadora maioria das exportações portuguesas passam pelas mãos dos transitários. Os transitários representam a carga e o interesse dos seus clientes, e isso faz com que nós tenhamos um papel muito especial neste contexto do transporte, da logística, e há 50 anos que isso não muda.
O nosso espírito multimodal, que é, no fundo, a maneira mais eficiente de fazer um transporte de A para B, usando os meios de transporte mais eficientes para cada contexto e combinado-os de forma racional. A opção pelo transporte multimodal, que hoje está muito em voga, é uma marca de água dos transitários há 50 anos, faz parte do nosso ADN. Nós somos os players do multimodalidade e é por nós que passam as importações e as exportações. São 50 anos de importância e de serviço à economia. Sem nós, as exportações e importações não seriam tão eficientes, e nós damos um contributo muito importante para a economia do país nesse sentido. O essencial, a nossa missão, os nossos valores e a nossa importância na economia, não mudaram nos últimos 50 anos, só se reforçaram, na medida em que, por exemplo, as exportações contribuem hoje com 50% para o PIB português, e há 50 anos contribuíam com muito menos. Com a integração da nossa economia no espaço europeu e mundial, a nossa contribuição, e a nossa importância, só aumentaram.
Agora, tudo o resto mudou: mudaram as tecnologias, mudou a maneira de fazer as coisas, mudaram os players… nós, setor transitário, temos sabido, ao longo dos tempos, acompanhar as mudanças, principalmente tecnológicas, de modo a que hoje mantenhamos a nossa importância e a nossa necessidade de sermos competitivos. A tecnologia e os hábitos de consumo mudaram muito em 50 anos, e os transitários têm sabido acompanhar essas mudanças, mantendo o que é estável, que é a nossa importância na economia, e o nosso saber fazer as coisas.
Olhando um pouco para o futuro, que recomendação deixaria aos transitários para estes próximos desafios?
Os transitários não têm de ter medo dos desafios futuros. Os transitários e os empresários transitários são das pessoas mais resilientes e com capacidade de adaptação às mudanças que conheço. Têm sabido modernizar-se e, portanto, o conselho que deixo é: não tenhamos medo do futuro e dos desafios que aí vêm. O futuro é dos transitários, o futuro é da multimodalidade, o futuro é da carga. Devemos modernizar-nos em termos de tecnologia, analisar e estar dentro das novas tendências para tornar as nossas empresas mais eficientes e mais úteis aos nossos clientes. Estarmos sempre atentos às mudanças e às novas necessidades. Se assim for, daqui a 10 anos teremos um setor transitário com a importância que tem – ou mais -, e o reconhecimento devido, que não temos tido até agora.
É que, quando alguma coisa corre mal numa cadeia de abastecimento, isso é visível. Quando o iogurte chega à prateleira do supermercado sem nenhum incidente, o consumidor vê que aquilo é natural estar ali. Normalmente só se fala das operações logísticas quando elas correm mal, porque 99% das vezes correm muito bem e são muito eficientes. Toda a gente dá isto como natural e garantido. O reconhecimento dos transitários é também uma das nossas batalhas futuras para que, de facto, a economia e a sociedade em geral saibam da importância que nós temos no dia-a-dia da sociedade em geral.
Poderá ler a entrevista completa brevemente, na edição #55 da revista SCMedia News. Fique ligado.