Desde que ontem, 1 de outubro, 45 mil estivadores e trabalhadores de 36 portos americanos na Costa Leste e no Golfo do México entraram em greve que se temem as repercussões que a mesma pode vir a ter no comércio global e nas cadeias de abastecimento. Caso a paralisação se prolongue no tempo, analistas do setor falam mesmo de um caos logístico à vista. Cerca de metade das importações americanas são feitas através daqueles portos, pelo que indústria e retalho estão a preparar-se para o pior.
Mas porque foram para a greve estes estivadores e trabalhadores portuários norte-americanos? De forma sucinta, as reivindicações passam por melhores salários e por restrições à automação das suas atividades. O movimento grevista é liderado pela International Longshoremen’s Association (ILA), que não aceitou as contrapropostas da United States Maritime Alliance (USMX).
A ILA reivindicava um reajuste nos salários de 39 dólares para 69 por hora trabalhada, num aumento escalonado de 77% ao longo de seis anos. Agora aceita um reajuste de 61,5%. A crescente automação nos portos é outro ponto em discussão, já que os trabalhadores temem que o uso de novas tecnologias possa reduzir os postos de trabalho. O líder da ILA, Harold Daggett, disse que os empregadores não têm oferecido aumentos salariais adequados ou não concordaram com as exigências de interromper os projetos de automação portuária. A USMX disse em comunicado na segunda-feira que havia oferecido um aumento salarial de quase 50% ao longo do novo contrato, além de aceitar discutir alguns limites à automação. No entanto, as partes não chegaram a um consenso e os trabalhadores avançaram para a paralisação.
“Estamos preparados para lutar pelo tempo que for necessário, para permanecer em greve pelo tempo que for preciso, para obter os salários e as proteções contra a automação que os nossos membros merecem”, disse ontem o líder da ILA, acrescentando ainda que “o USMX é o dono desta greve agora.” “Os membros da ILA merecem ser compensados pelo importante trabalho que realizam para manter o comércio norte-americano a fluir e crescer”, disse o sindicato na manhã de segunda-feira, denunciando os “milhões de dólares em lucros” arrecadados pelos portos e transportadoras marítimas.
Apesar da pressão das associações empresariais para uma intervenção da Casa Branca, Joe Biden preferiu defender a continuidade das conversações e disse que não faz tensões de invocar o Taft-Hartley Act.
A greve está a preocupar as empresas que dependem do transporte marítimo para exportar os seus produtos ou garantir importações cruciais, pois afeta 36 portos que movimentam uma série de mercadorias em transporte contentorizado. Nos últimos meses, alguns retalhistas têm acelerado as importações de fim de ano para mitigar o problema e têm estado a transferir, sempre que possível, algumas cargas para a Costa Oeste.
“Esperamos que a greve em si dure de cinco a sete dias até uma intervenção do governo… mas é provável que o efeito cascata seja sentido em todas as redes na Europa e na Ásia pelo menos até janeiro e fevereiro”, disse Peter Sand, analista da Xeneta.
Esta é a primeira vez que a ILA orquestra uma greve a nível costeiro desde 1977. Os custos económicos desta decisão estão estimados em milhares de milhões de dólares por dia. Uma estimativa da JP Morgan aponta para prejuízos da ordem dos 5 mil milhões de dólares por dia, segundo David Shepardson, Doyinsola Oladipo e Lisa Baertlein na Reuters.
Para já, há cerca de 100 mil contentores à espera para serem descarregados somente nos portos da cidade de Nova York, agora paralisados pela greve, e 35 navios porta-contentores com destino a Nova York na próxima semana, segundo revelou a Autoridade Portuária de Nova York e Nova Jersey.
A gigante dinamarquesa Maersk estimou que uma semana de paralisação poderá implicar entre quatro a seis semanas para normalização do transporte.
Entretanto, Casa Branca disse nesta terça-feira (1 de outubro) em comunicado que está a monitorizar os efeitos na cadeia de abastecimento “e a avaliar maneiras de lidar com possíveis impactos”.
FOTO: Ilaunion.org
Bom artigo. Reflecte a realidade que se está a viver nos portos do Leste dos EUA. Parabéns à autora