“Estratégias de procurement na era da transformação digital: inovação, sustentabilidade e eficiência”, foi o mote que deu vida à Procurement Conferência, organizada pela Supply Chain Magazine, e que decorreu a 10 de outubro, no Hotel Vila Galé Sintra. Este foi um dia enriquecedor do qual os profissionais puderam retirar insights para levarem para as suas organizações, visando a eficiência operacional, e nunca esquecendo temas tão fundamentais como a tecnologia ou a importância das pessoas. 

Joaquim Duarte Oliveira, partner da Deloitte, apresentou o estudo “CPO Survey: Insights challenges and trends in procurement”, realizado em 2023, que procurou saber como a função de compras pode ser um orquestrador na área da supply chain através de investimentos inteligentes nas áreas de modelo de operação, talento, digitalização, ESG e resiliência. A consultora avaliou o nível de maturidade das várias organizações que participaram no estudo, tendo os CPOs a destacar quatro preocupações principais: eficiência operacional, ESG, digitalização e resiliência. “Estão a emergir novas áreas dentro da função de compras e, ao detrimento do que é sempre o foco na redução de custo, não querendo dizer que não é uma preocupação, mas começam a surgir outras áreas, que estão a ter preponderância para os CPOs”, explica Joaquim Duarte Oliveira.

Assim, a Deloitte procurou saber como a função de compras pode gerar valor, destacando três estratégias principais: a primeira passa pela tecnologia que irá alavancar a comunicação com os fornecedores. De seguida, a previsibilidade para as organizações terem a capacidade de prever alguns riscos e preocupações nas várias categorias, nomeadamente na área da sustentabilidade. Por último, um equilíbrio na força de trabalho, ou seja, cada vez mais as organizações privilegiam o equilíbrio entre uma estrutura fixa, com uma estrutura que possa incluir outsourcing para categorias específicas.

Na área de ESG, a pesquisa concluiu que as empresas com um nível de maturidade mais avançado são as que estão mais preocupadas com as questões ambientais, e as que alocam mais investimento. Outra das conclusões do estudo é que os níveis de risco aumentaram nos últimos 12 meses para 70% dos participantes. Os CPOs identificaram vários deles, nomeadamente questões associadas às cadeias de abastecimento, os atrasos nos transportes, e o balanço no inventário. No futuro, os participantes anteveem como potenciais riscos a inflação, conflitos geopolíticos, a resiliência na cadeia de abastecimento e a retenção de talento. Já na área tecnológica, esta é uma área que os CPOs pretendem continuar a investir. No entanto, surpreendentemente, os investimentos reduziram cerca de 9%, comparativamente com o último estudo realizado em 2021.

Assim, para os CPOs se tornarem orquestradores de valor e superarem os principais desafios, devem agir nas áreas de maior prioridade. As organizações de compras bem sucedidas focam-se na configuração do modelo operacional, gestão de talentos e digitalização. Além disso, a Inteligência Artificial (IA) e o RPA são utilizados para melhorar a eficiência operacional nestas empresas. Contudo, as equipas estão a enfrentar dificuldades na continuidade do fornecimento, na gestão de pressões de custo decorrentes da inflação, e no atendimento da demanda diversificada dos stakeholders. Uma das preocupações dos CPOs é a falta de recursos e visibilidade inadequada da cadeia de abastecimento e operações de mercado. Para o futuro, os CPOs têm de priorizar a resiliência e gestão de risco, focando nos fatores de ESG, devem tomar decisões baseadas em dados, e apostar na aquisição e retenção estruturada de talento.

De seguida, José Oliveira, vice-president product & technology da Efficio, trouxe o tema “Emerging AI solutions to leverage procurement and supply chain efficiency”, focando na importância da IA para alcançar a eficiência na área do procurement.

José Oliveira identificou as áreas em que a IA tem um grande impacto na área do procurement, desde logo spend analysics, supplier management, predictive analytics, supplier forecastment, entre muitas outras. Destacou ainda o potencial desta tecnologia na geração de documentos e na parte dos contratos. Contudo, ressalvou que estas são ferramentas interessantes, mas têm de ser adaptadas à empresa, e à sua gestão diária, pois uma das dificuldades é a adaptação das soluções às necessidades das equipas, seja pela qualidade dos dados, adaptação de processos, ou formação dos trabalhadores.

No fim, deixou algumas sugestões sobre o que as empresas devem priorizar, e o foco principal deve ser as nas pessoas. Compreender os padrões de trabalho e conhecer os pontos de dor da equipa, identificar tarefas que as pessoas mais querem desempenhar, avaliar as skills necessárias para interações eficazes entre humanos e IA, são algumas das sugestões deixadas por José Oliveira.

A primeira mesa redonda do evento contou com a moderação de Marcela de Castro, professora adjunta do Instituto Politécnico de Setúbal, e com a participação de Andrea Nunes, country general manager do Grupo Constant, Dinora Guerreiro, procurement business area manager da VW Autoeuropa, e Vanda Veríssimo, diretora de compras & logística da Amorim Luxury Group. O tema “Procurement insights: os desafios de quem lidera”, deu espaço às oradoras para exporem as preocupações na área do procurement para quem está numa posição de liderança.

Andrea Nunes começou por fazer a comparação entre um perfil de um profissional de procurement, com o atual. Evoluiu-se do “senhor das compras” que estava integrado na área financeira ou da logística, para um purchasing manager que passou a ter uma diversidade de funções, como a implementação de ERPs ou garantir a rastreabilidade de informação determinante. Através disto, a função acabou por se transformar num cargo de relevo como um Chief Procurement Officer, demonstrando o importante papel desta função nas empresas.

Um dos desafios identificados por Andrea Nunes passa pela atração e retenção de talento. Dentro do que são funções intermédias, a empresa lida com candidatos jovens que requerem uma atenção diferente do que as empresas estão habituadas, não mostrando a recetividade necessária. A country general manager apontou que esta mentalidade deve mudar por parte das empresas, mas que também os jovens devem entender o que é o mundo do trabalho e criar uma postura coerente. Já Dinora Guerreiro apontou o desafio que é a relação da Volkswagen Autoeuropa com empresas de estruturas diferentes, pois uma PME necessita de um acompanhamento mais detalhado, e tem mais dificuldade em ultrapassar o processo de onboarding e cumprir determinados critérios. Por fim, Vanda Veríssimo destacou a importância da relação de parceria com os fornecedores para lidar com imprevistos. “As relações têm de ser construídas com base em confiança, compromisso e perspetivas de futuro”, referiu.