Como criar valor através do procurement? Esta questão foi o fio condutor da última meda redonda da Procurement Conferência, esta quinta-feira, 10 de outubro. E nas respostas dadas pelos oradores há dois elementos comuns: inovação e criatividade.

A conversa foi conduzida por Pedro Silva Caldeira, professor da Universidade Nova de Lisboa, tendo envolvido o diretor de Customer Care da Pendular, João Cúmano; a Head of Procurement do Grupo GM Cosmética Portugal, Sandra Martins; o Head of Procurement da Aviludo, Ricardo Dias Ferreira; e o procurement specialista da Samsic Portugal Facility Services, Afonso Guerreiro.

Em foco nesta mesa redonda o tema geral da conferência – “Estratégias de procurement na era da transformação difícil: Inovação, sustentabilidade e eficiência – com o moderador a acrescentar, aos fatores enunciados, a eficácia. E porquê? “Porque podemos ser eficientes e estar a cometer um grande erro”, comentou.

No que toca à criação de valor através do procurement, começou por enunciar quatro grandes áreas em que ela se manifesta – custo, tempo, qualidade e disponibilidade –, notando que, entre elas, não está o preço, porquanto é da esfera da negociação com o fornecedor.

Estas quatro áreas assentam numa plataforma comum de transformação digital, inovação, compliance, gestão de risco e sustentabilidade.  Transversal é o elemento humano, com a criação de valor em procurement associada ao desenvolvimento de competências, ao conhecimento científico e empírico, à visão, à tomada de decisão assente em dados, e à cocriação.

Esta foi uma mesa redonda em que a teoria se cruzou com a prática. E foi exatamente um caso prático que Sandra Martins, em nome da GM Cosmética Portugal, partilhou. Sendo uma empresa focada em colmatar as necessidades do setor da hospitalidade, e dados os requisitos de sustentabilidade em vigor, tornou-se necessário encontrar alternativas a um produto até recentemente de uso comum: o sabonete individual existente nos quartos de hotel. A legislação obrigada à sua substituição, o que gerou algumas dificuldades no abastecimento, com a empresa a iniciar um processo colaborativo com marcas e laboratórios.

Este processo assenta num posicionamento em que o departamento de procurement está integrado com a equipa técnica, assumindo um papel crítico nas especificações técnicas que chegam às compras.

Outro exemplo que a oradora levou à conferência envolve uma matéria-prima polémica: o óleo de palma, muito usado nos produtos de higiene pessoal. É um facto que possui uma pegada ecológica muito elevada, dadas as geografias de onde é proveniente, mas, segundo Sandra Martins, não existem alternativas com o mesmo preço, qualidade e desempenho. A Europa dispõe do azeite como ingrediente para estes produtos, mas não nas quantidades de que o mercado necessita. Para compensar os riscos associados ao óleo de palma, a empresa recorre apenas a fornecedores certificados, com o produto proveniente de florestas sustentáveis e com atenção particular ao seu impacto nas comunidades envolventes.

Diz-se que a necessidade aguça o engenho, mas, no caso do projeto desenvolvido por Ricardo Dias Ferreira, o engenho foi aguçado pela antecipação da necessidade. Tudo aconteceu antes de assumir as funções de Head of Procurement da Aviludo.

Subjacente está a importância de otimizar a experiência do consumidor, que pretende receber as encomendas com a máxima conveniência. É um facto que existem cacifos automáticos, mas também é um facto que as plataformas de entrega domiciliária, nomeadamente de refeições, conhecem um sucesso crescente. E, neste segmento das entregas, os drones estão a surgir como uma opção, já usada em logística, na gestão de armazéns, mas com potencial de extrapolação para o dia a dia.

Mas, uma questão se colocava: como fazer chegar as encomendas aos apartamentos através de drones? A resposta assumiu a forma de uma plataforma acoplável aos parapeitos das janelas, invenção que patenteou e, entretanto, vendeu. “Identificámos uma necessidade de mercado, que começa a ganhar materialidade nos países do Norte da Europa e nos Estados Unidos”, comentou, considerando que, além da comodidade, esta solução gera eficiência e é sustentável.

Comentando, o moderador deixou a nota de que “80% do potencial de poupança das organizações está neste tipo de soluções”.

Já na Aviludo, uma das inovações que Ricardo Dias Ferreira introduziu foi a criação da função de gestor de categoria – dado o portefólio amplo da empresa. É mais do que um comprador, é um especialista numa dada oferta. Deste modo, é possível potenciar as competências de procurement, libertando os profissionais de processos manuais e repetitivos, para que estejam mais próximos do cliente e do fornecedor e tenham mais espaço mental para pensar a oferta.

A sustentabilidade, um dos subtemas desta mesa redonda, voltou à conversa pela voz de Afonso Guerreiro, da Samsic, que partilhou alguns exemplos de como o procurement gerou valor para o negócio da sua empresa.

Reduzir as emissões em 50% até 2030 é o propósito da estratégia Planet 2030, pelo que se impunha identificar os caminhos para lá chegar. Um dos passos dados envolveu o desenho de produtos cujas mais-valias, nomeadamente na logística, justificassem investir na sua produção desde o zero. Assim aconteceu, há dois anos e meio, com os detergentes usados na limpeza dos espaços dos clientes: aumentando a concentração, foi possível usar menos embalagem; com menos embalagem conseguiu-se mais entregas por rota e menos rotas. Sem prejuízo do resultado final do poto de vista do serviço prestado. E com uma redução de 60% nos custos. E assim está a acontecer com a lixívia, que, desde há dois meses e meio, está disponível sob a forma de pastilhas, e não líquido em garrafões, com uma poupança na ordem dos 40%.

A propósito, o moderador notou como a otimização do procurement, ao diminuir a estrutura de custo, teve impacto no negócio da organização.

Reduzir custos está também no ADN da Pendular, uma empresa de serviços focada no outsourcing de compras. João Cúmano partilhou que a plataforma centraliza soluções que visam reduzir, igualmente, a complexidade dos processos: na prática, trata-se de simplificar e racionalizar os processos de compras.

“Não somos uma empresa de consultoria normal, vamos de A a Z, isto é, asseguramos todas as etapas, da negociação à logística do final da cadeia, passando pela faturação”, descreveu.

São dois os pilares da empresa: por um lado, a gestão de compras, e, pelo outro, a gestão de contratos, sempre racionalizando processos e mitigando riscos, retirando da organização atividades que consomem tempo e retiram valor.