A revolução da IA e a transformação digital no procurement do setor agroalimentar têm sido forças motrizes nos últimos anos, trazendo consigo mais eficiência e perspicácia. Este artigo procura explorar de que forma essas inovações estão a moldar o procurement deste setor, numa altura em que o mundo enfrenta desafios únicos relacionados com a natureza perecível das matérias-primas, flutuações e complexidade das cadeias de suprimento.

Nesse cenário, a inteligência artificial destaca-se por ser uma ferramenta útil de apoio à decisão. Ao disponibilizar funcionalidades que permitem aprimorar a eficiência operacional e a sistematização da informação, permite que as equipas tomem decisões mais rápidas, informadas e alinhadas com os objetivos estratégicos da empresa a cada momento.

A gestão de compras e fornecimento, tradicionalmente, dependia em grande medida de relações pessoais, intuição e experiência dos gestores. No entanto, esses métodos, embora continuem a ocupar um papel extremamente importante nas negociações, são insuficientes para lidar com a complexidade atual e a escala global das operações. Nesse sentido, a transformação digital e a IA surgem como um enorme aliado das empresas.

No procurement, as palavras-chave são funcionalidade, qualidade, confiança e segurança. Por isso, a gestão eficaz dos fornecedores é um elemento-chave para o sucesso operacional. A escolha das matérias-primas deve suprir as necessidades da empresa, garantindo a sua conformidade, sendo que práticas questionáveis desqualificam imediatamente potenciais parceiros.

Um dos maiores desafios no procurement agroalimentar é, sem dúvida, a escassez de matérias-primas, que pode resultar em aumentos abruptos de preços. Nesses casos, é crucial encontrar fornecedores que possam oferecer alternativas que cumpram com os requisitos e de forma a manter o produto final inalterado ou, em casos mais extremos, o mais fiel possível à sua identidade. Além disso, existe uma tendência global crescente, impulsionada por consumidores cada vez mais conscientes e exigentes, que busca aprimorar os produtos alimentares através do conceito clean label, que se traduz no uso de matérias-primas mais naturais e sustentáveis, assim como na simplificação das listas de ingredientes.

A procura por fornecedores alternativos traz também uma nova dimensão: a promoção da competitividade. Contar com múltiplos fornecedores para a mesma matéria-prima é uma estratégia essencial para garantir negociações mais vantajosas e maior flexibilidade, ao assegurar uma adaptação mais rápida a mudanças nas condições de mercado ou de fornecimento. Esse foco na adaptação e melhoria contínua é essencial para manter a competitividade e a resiliência da operação.

Desta forma, a IA, especificamente através de ferramentas como o Chat GPT, com a sua capacidade de analisar grandes volumes de dados, está a tornar-se cada vez mais uma aliada indispensável no procurement agroalimentar. Ao permitir analisar, de forma quase instantânea, dados históricos, tendências de mercado, condições climáticas e padrões de consumo para prever com precisão a procura futura, torna-se um enorme facilitador na seleção de fornecedores, identificação de oportunidades e otimização de custos.

Adicionalmente, a sua funcionalidade pode ser ainda mais explorada em áreas como a criação de e-mails automatizados para lançar processos de procurement, análise de documentos e comparação de fichas técnicas de matérias-primas – tarefas que, embora essenciais, no dia-a-dia revelam-se repetitivas, monótonas e pouco estimulantes.

Por outro lado, a IA pode assumir tarefas mais desafiantes e de maior complexidade na análise técnica no setor agroalimentar como, por exemplo: monitorizar de forma precisa e rápida fenómenos de crescimento microbiológico em alimentos, estabelecendo diretrizes eficazes de controlo de qualidade, garantindo a segurança alimentar. Ainda neste contexto de maior desafio, a IA facilita a comparação de diferentes tipos de texturantes, como fibras, fornecendo detalhes sobre as suas propriedades e os parâmetros de análise (bem como os procedimentos a seguir), permitindo identificar potenciais substituições que não apenas otimizam processos produtivos e formulações, mas também ajudam a criar produtos diferenciadores, que se destacam no mercado.

A integração da IA e da transformação digital no procurement agroalimentar representa uma revolução que está apenas no início. Os benefícios em termos de eficiência, precisão, sustentabilidade e redução de custos são significativos, e as empresas que adotarem essas tecnologias estarão mais bem posicionadas para enfrentar os desafios futuros. No entanto, é crucial abordar os desafios de implementação e garantir que todas as partes envolvidas estão preparadas para essa mudança, preservando sempre o espírito crítico, pois os dados fornecidos pela IA não são infalíveis e devem ser avaliados cuidadosamente dentro do contexto específico de cada organização.

Alina Ardel | Head of Formulation | Casa Mendes Gonçalves