Transitários e operadores de carga aérea queixam-se dos constrangimentos sentidos nos principais aeroportos do país, apontando que estes limitam as suas atividades. As queixas indicadas à ANA Aeroportos por parte dos operadores aéreos apontam que esta não pode ter apenas um papel de “senhorio”, e ameaçam que, se não existirem as devidas condições, terão de sair do mercado.
Este foi um dos temas debatidos durante o Seminário de Carga Aérea da revista Transportes e Negócios, sob o mote “Constrangimentos, desafios e oportunidades”, e que contou com Ana Camacho (APAT), Artur Anjo (Portway), Bruno Aires (TAP Air Cargo), Fernando Gomes (Emirates SkyCargo), José Natário (ANA Aeroportos), José Paulo Rodrigues (AT – Aeroporto do Porto) e Mário Silva (Rangel LG) sob a moderação de Fernando Gonçalves.
Os operadores apontam que esta limitação por vezes força a que estas desviem a expedição de mercadorias que são transportadas por via aérea para aeroportos de Espanha e Norte da Europa.
A ANA Aeroportos reconhece as limitações existentes, e justifica que se devem ao crescimento das mercadorias transportadas, que atualmente atinge as 2,5 toneladas por metro quadrado em Lisboa e Porto. Ao mesmo tempo, defende-se, alegando que não lhe compete a gestão dos terminais de carga.
José Natário, comentou que “a ANA fez um diagnóstico muito exaustivo, de uma forma muito discreta, de há um ano/ano e meio”, o qual confirmou o “fraco desempenho das infraestruturas de carga”, mas “há muitas questões que não dizem respeito diretamente à ANA. Quem gere os terminais de carga não é a ANA”.
Entre os problemas apontados pela fonte, e que limitam a atividade das empresas que expedem mercadoria via aérea, falamos de falta de investimento na modernização das infraestruturas, com terminais “obsoletos” e falta de instalações adequadas de aceitação de carga, medidas de segurança que obrigam ao rastreio da carga na máquina de raio-X, a abertura de grande parte das cargas para verificação visual por parte da Alfândega e da segurança, ou a falta de câmaras frigoríficas.
Artur Anjo reconhece existirem melhorias a fazer, mas aponta a culpa aos operadores de carga: “Os terminais de carga não são armazéns durante duas, três semanas. Um aeroporto é um terminal de entrada e saída. Tudo o que exceda 48 horas não é urgente, perde urgência”.
Os operadores destacam que há vários anos que se fala em constrangimentos, e apontam questões como o excesso de burocracia e falta de investimento, mas que todos trabalham em conjunto para que as operações fluam. Ana Camacho defendeu ainda a construção de um “verdadeiro hub de carga aérea” e de uma nova “cidade logística” em redor do futuro aeroporto, aproveitando “não só a posição geográfica de Portugal, mas também que a infraestrutura deva contemplar as condições para uma cidade logística, numa perspetiva de multimodalidade”.
Neste sentido, José Natário apontou que, com a chegada do novo aeroporto de Lisboa, no campo de tiro de Alcochete, terão 10 anos para criar, juntamente “com todas as entidades uma combinação de várias medidas. Um dos desafios é tentar encontrar as melhores soluções até à chegada do novo aeroporto”.