Na área da produção, tal como acontece noutras indústrias, o crescimento da robótica, da automatização e da inteligência artificial (IA) deu lugar a receios relativamente à deslocação de colaboradores, ao desemprego e até à obsolescência. No entanto, estas preocupações contrastam diretamente com a forte e amplamente divulgada escassez de colaboradores a nível mundial. A resposta passa por adotar a tecnologia com uma abordagem empática, integrativa e centrada no colaborador.

A realidade é que estas tecnologias apresentam uma solução simples que pode aliviar a pressão exercida sobre uma mão de   obra em grande parte presa a tarefas manuais, repetitivas e pouco satisfatórias, criando novas e apelativas funções de valor acrescentado, simultaneamente capacitando os colaboradores com competências essenciais para o futuro.

Conforme o Relatório Future of Jobs de 2020, do Fórum Económico Mundial, a transferência de mão de obra de humanos para máquinas pode levar à extinção de 85 milhões de postos de trabalho até 2025, criando simultaneamente 97 milhões de outros postos. Esta mudança representa uma oportunidade para as empresas reinventarem a força de trabalho no futuro. Em vez de colocarem a tecnologia a substituir os seres humanos, as empresas devem criar um ambiente simbiótico em que as máquinas podem automatizar funções aborrecidas, perigosas, desagradáveis e difíceis de preencher, deixando as funções gratificantes e de valor acrescentado para os colaboradores.

De facto, muitas tarefas simples, mas críticas para a empresa, trazem muito pouca satisfação e aumentam a fadiga, a frustração e o risco de lesões, além de se revelarem difíceis de preencher. Estas tarefas representam centenas de horas de trabalho por semana. Na produção, são exemplos destas tarefas a elaboração de relatórios de produção, a inserção manual de dados, as extrações, as transferências, o acondicionamento e a paletização, e os processos de controlo de qualidade físicos. Essas tarefas podem ser facilmente automatizadas através da utilização da robótica e ferramentas automatizadas, destinadas a replicar processos simples com grande precisão.

Exemplos destes tipos de automatização incluem a etiquetagem e a verificação de produtos, com software avançado de automatização da codificação que elimina a necessidade de introdução manual dos dados, e sistemas de visão artificial que verificam a exatidão dos códigos dos produtos. Estas soluções automatizadas oferecem uma precisão muito maior em comparação com os processos manuais, reduzindo a pressão nos colaboradores da área da produção e proporcionando mais tempo para as atividades de valor acrescentado.

Um estudo recente da Universidade Stanford também promove os benefícios da IA em tarefas como a classificação de imagens, que pode ser usada no controlo de qualidade com visualização por máquina. No entanto, sugere que essas ferramentas ficam aquém do desempenho humano em tarefas mais complexas, que exijam senso comum, raciocínio e planeamento. A investigação encontrou dados que sugerem que os colaboradores eram mais produtivos quando utilizavam ferramentas de IA para tarefas repetitivas, maximizando simultaneamente as capacidades analíticas humanas.

Nos últimos anos, assistimos a um crescimento de propostas de “equipamento como serviço” baseadas em resultados, que promovem o uso estratégico da tecnologia para ajudar os fabricantes a atingirem os seus objetivos. Essas soluções apoiam a mudança de mão de obra manual para mão de obra baseada em máquinas e, na prática, reduzem o risco de erros e melhoram a eficiência e a segurança, entre outros aspetos.

A mão humana

Permitir que a automatização e a robótica se encarreguem de tarefas repetitivas não só diminui o desfasamento das competências dos fabricantes como também contribui para o aumento da produtividade, além de criar espaço para que os colaboradores humanos se concentrem em trabalhos mais variados e interessantes. Deste modo, aumentará a satisfação da força de trabalho e os locais de trabalho serão mais atrativos para potenciais colaboradores.

Naturalmente, nem toda a tecnologia é totalmente autónoma e muitos dos novos sistemas e soluções exigem um certo grau de colaboração humana. Além das tarefas simples e repetitivas, os robôs colaborativos ou “cobôs” têm um papel importante a desempenhar.

Por exemplo, assistimos neste momento a um forte aumento na utilização de tecnologia robótica nos processos de soldadura industrial, em que as máquinas realizam a soldadura enquanto os soldadores humanos com formação tradicional supervisionam o processo. Outros exemplos incluem ensaios e medições robotizados, em que a supervisão humana qualificada pode ser mais adequada para analisar e interpretar os resultados. Em ambos os casos, a tecnologia robótica permite-lhe obter resultados precisos e rápidos, menos desperdício e maior segurança para os colaboradores. Entretanto, a mão humana proporciona criatividade, resolução de problemas, formação e desenvolvimento de novos recursos.

Ao reduzir as exigências de pessoal, uma empresa pode criar um ambiente de trabalho mais apelativo com funções de elevado valor, como a integração de dados, o planeamento e a garantia de qualidade, que são mais suscetíveis de atrair talentos. Num estudo recente aos colaboradores da Geração Z realizado pela Dell Technologies, 80% dos inquiridos manifestaram o desejo de trabalhar com tecnologia de ponta, tendo 91% referido que o tipo de tecnologia utilizada seria um fator importante na escolha de um empregador.

 

Novas competências para o futuro do trabalho

A robótica, a automatização e a IA devem ser consideradas ferramentas de apoio e atração de recursos e não substitutos das competências humanas e da inovação. As empresas devem garantir que os atuais colaboradores fazem parte de um processo de debate colaborativo para as novas implementações tecnológicas e que as funções que oferecem maior satisfação aos colaboradores são preservadas.

À medida que forem surgindo novas funções de valor acrescentado que requerem robótica, automatização e IA, será também necessário proceder-se à requalificação e à reconversão profissional. As empresas devem fomentar uma cultura de aprendizagem no que diz respeito à adoção de novas tecnologias, investir em recursos internos na melhoria de competências e reciclagem de conhecimentos, e dar aos colaboradores tempo e espaço para incentivar a investigação, a experimentação e o pensamento criativo.

Ao adotar estas inovações na robótica, na automatização e na IA, os fabricantes podem melhorar o futuro do trabalho, permitindo que os colaboradores se concentrem em tarefas mais gratificantes e de valor acrescentado, aumentando, simultaneamente, a produtividade e a segurança no local de trabalho.

Uma abordagem da integração tecnológica com enfoque no colaborador, não só ajudará a resolver a atual escassez de competências, como também abrirá caminho a uma indústria transformadora mais sustentável e eficiente, em que os seres humanos e as máquinas trabalham em conjunto para o maior benefício possível.

Kate Rattigan, Gestora de Produto Sénior – Serviços Avançados, Domino