A PwC apresentou recentemente o seu estudo Digital Procurement Survey 2024, através do qual procuraram analisar o estado do setor a nível global. Esta foi a 5ª edição do estudo, onde foram inquiridos mais de 1000 profissionais do setor em 58 países.

André Rodrigues, partner da PwC Portugal, começou por fazer a abertura do dia e por destacar a importância dos dados e da sua correta análise para os processos de procurement, bem como da transformação digital, automação de processos, Inteligência Artificial (IA) e outras tecnologias emergentes. Segundo avançou, é expectável que 70% dos processos de procurement sejam digitalizados no curto-médio prazo, sendo importante para as empresas que percebam como tirar partido destas tecnologias e informação.

 

Seguidamente, Pedro Pinto Barros, business transformation senior manager da PwC Portugal, apresentou o estudo em maior detalhe, começando por deixar claro que, apesar de existir uma diferença entre Procurement e Compras, são dois temas que são cada vez mais impossíveis de dissociar na vertente digital.

Os principais temas do estudo foram as prioridades, digitalização e futuras ações e transformações na função de procurement.

Ao nível das prioridades, os inquiridos destacaram o desempenho de procurement (65%), a transformação digital (46%), responsabilidade social corporativa (35%) e sourcing (35%). Em geral, todas estas prioridades apresentaram decréscimos face ao ano anterior, exceptuando RSC, que subiu três pontos percentuais face a 2022, e 22% face a 2020. No caso do desempenho de procurement, 65% dos departamentos indicam o controlo de custos como a sua prioridade.

A nível nacional, das 52 empresas que participaram no estudo, 62% são fornecedoras de serviços e 38% da área da indústria, enquanto 65% são PME e 36% grandes empresas. Ao nível das prioridades, mais de metade dos CPO portugueses (54%) também destacaram o desempenho de procurement como sendo a principal prioridade estratégica, seguindo-se a gestão da relação com os fornecedores (29%) e RSC (10%).

Para a digitalização, os ganhos de eficiência são a maior motivação e o maior benefício obtido por parte dos inquiridos, seguindo-se da transparência e rastreabilidade do processo e desempenho de procurement.

A nível nacional, todos os CPO inquiridos destacaram a definição de requisitos e processos funcionais e a gestão da mudança pós go-live como sendo fatores-chave para o sucesso da transformação digital.

Portugal também destacou que a digitalização dos processos estratégicos atualmente se encontra nos 38%, e ao nível da digitalização dos processos transacionais nos 50%, e ambiciona atingir 70% nestas duas metas até 2027

Relativamente aos temas ESG, as empresas inquiridas apontaram ter uma maturidade intermédia, e destacaram como prioridades para os próximos anos os riscos ambientais, sobretudo ao nível das emissões GEE, biodiversidade, poluição e uso de recursos naturais. Ainda assim, quase metade das empresas ainda não apresentam uma solução para medir a pegada de carbono dos fornecedores (49%), encontrando-se 29% a testar soluções e 22% com soluções implementadas.

Os departamentos de procurement ambicionam transitar de um processamento transacional, em que têm uma reduzida colaboração e ação limitada, para um modelo de business partners, passando a estar no centro das decisões do negócio, com visibilidade sobre as operações e colaboração ativa.

 

Após a introdução aos resultados do estudo, José Maurício Costa, diretor corporativo, projetos, auditoria e sustentabilidade na MEO, Paulo Fonseca, diretor de compras da Simoldes Plásticos, e Rosa Almeida, diretora de procurement da Teixeira Duarte Engenharia e Construções S.A., reuniram-se numa mesa-redonda moderada por António Vieira, senior manager da PwC Portugal, para debater “O impacto da Responsabilidade Social Corporativa em Procurement”.

Rosa Almeida começa por destacar a importância da vertente social, e que combatem todas as práticas ilícitas de gestão de recursos humanos, apoiando causas de integração social. Dois dos focos da empresa são as áreas de segurança e ambiental, procurando proteger os seus ativos e ambiente que os rodeia.

A economia circular é também uma realidade, contando com fornecedores que já fazem a retoma de materiais excedentes, incentivando-os também a reutilizarem os resíduos. Ainda assim, o controlo sobre as emissões de scope 3 ainda não se encontra num estado muito maturo, sendo difícil para a empresa quantificar estas emissões, tarefa dificultada pela falta de informação de alguns fornecedores. A oradora conta que a Teixeira Duarte tem um sistema de compliance robusto e abrangente, e fazem avaliação de risco dos fornecedores, monitorizando os de maior risco, e que este processo poderia ser melhorado através de uma normalização da informação produzida entre os fornecedores, pois a falta de padronização dificulta a comparação entre estes.

Desde há três anos que a Teixeira Duarte produz um relatório ESG, e desenvolveram uma formação transversal às áreas de atividade, onde também estiveram membros da board, visto todas necessitarem de compreender estes temas.

No caso da MEO, José Maurício Costa aponta que os fornecedores têm um papel importante para a empresa, procurando parceiros que partilhem as ambições da empresa e estabelecendo metas para estes. Explica que têm muitos fornecedores, desde grandes multinacionais a PME, e têm desenvolvido a cadeia toda, desde o fornecimento de equipamentos até ao end-user, conseguindo monitorizar e avaliar 90% dos seus fornecedores.

Ao nível da sustentabilidade, considera-a um pilar estratégico, contando com medidas de responsabilidade social, métricas de análise carbónica e desenvolvimento de carreira de modo a reter os seus colaboradores. A redução carbónica é uma preocupação do grupo, e apesar dos esforços têm encontrado alguns obstáculos, como no caso do interior do país, devido à falta de postos de energia.

Paulo Fonseca considera que as compras têm de ter um enfoque grande na sustentabilidade, e têm promovido o tema entre os colaboradores, tanto ao nível da sensibilização como através do incentivo de cursos. Como exemplo, revela que a Simoldes investiu na redução da pegada de carbono através de duo-trailers, podendo transportar o dobro da carga por viagem, e estando previstos testes com camiões elétricos entre Oliveira de Azeméis e a PSA Mangualde.

Por outro lado, também têm investido ao nível do autoconsumo energético, tendo instalado um dos maiores projetos de painéis fotovoltaicos em Portugal, com uma capacidade para 7,5mW. Enquanto medida de responsabilidade social corporativa, essa energia, partilhada pelas fábricas locais, irá produzir um excedente durante os dias de inatividade, sendo oferecida a entidades e instituições locais.

A partilha de informação tanto com fornecedores como com clientes permitiu-lhes melhorar as suas operações e sistemas, estando já muito fortes ao nível dos scopes 1 e 2, mas ainda com dificuldades na análise de scope 3, por ser um processo complexo e moroso.

Um dos temas também defendido pelos três oradores foi o benchmarking com outras empresas do setor, enquanto partilha de conhecimento, dificuldades e soluções, sendo os fóruns e debates momentos importantes para a difusão destas questões. Por outro lado, também abordaram a partilha com fornecedores, de modo a que possam trazer boas práticas para ambos e crescerem em conjunto.

 

Após a mesa-redonda, Pedro Pinto Barros volta ao palco para apresentar o tema “Projetos de transformação entre as áreas de compras”, que defende desde logo que necessita do envolvimento de todas as áreas anexas, desde operações, sistemas de informação, etc.

O responsável explica que estes projetos são relativos à implementação de novas tecnologias, reestruturação de processos ou mudanças culturais profundas, tendo como objetivo a criação de um novo estado mais eficiente, e que têm obrigatoriamente de passar por quatro fases: diagnóstico, desenho, implementação e evolução.

 

A agenda seguiu com a partilha de Pedro Agostinho, senior manager da PwC Portugal, sobre “O papel da inteligência Artificial na melhoria da performance de Procurement”, onde abordou o papel de ferramentas como inteligência artificial, machine learning, deep learning e IA generativa para os processos de procurement, os seus benefícios e desafios.

 

A concluir o dia, Pedro Sobral, manager da PwC Portugal, e Luís Matos, senior procurement solution advisor da SAP, aprofundaram a vertente tecnológica com o tema “Tecnologia em Procurement: O futuro das compras inteligentes”. Durante esta conversa, os profissionais refletiram sobre o estado do setor e para o que as empresas têm feito ao nível das ferramentas digitais, bem como para a evolução que se sentiu nesta área.

Luís Matos considera que antes a digitalização era um processo difícil, e que hoje já existem ferramentas de suporte à função, que podem ajudar os profissionais em termos de análise e otimização. Defende que hoje existe uma maior facilidade do processo e é importante fazer esta jornada com parceiros e consultores.

Ainda assim, considera que os processos das empresas ainda não estão muito automatizados, à exceção das mais evoluídas tecnologicamente e que já lançam ordens de compra de forma automatizada, e isso já é uma realidade a nível tecnológico.

 

“Mantenham-se curiosos. A roda já foi inventada, por isso o trabalho vai ser mais fácil, e a mudança vai ter obrigatoriamente de acontecer”.

– Luís Matos

 

Ao nível da informação, Luís Matos reforça a importância de ter dados de qualidade e fiáveis para uma melhor tomada de decisão, e reforça que a simples qualidade do dado faz toda a diferença para as empresas.

Fechando com uma das principais dificuldades apontadas pelos oradores ao longo do dia, a visibilidade de scope 3, considera que é uma dificuldade comum, mas que a tecnologia é um catalisador para a tornar realidade, e conclui que deve ser o procurement a tratar estas questões, por ser este a ter relação com o fornecedor, e não a sustentabilidade, podendo ajudar fornecedores mais pequenos a evoluírem ao nível do controlo do processo.