No mundo VUCA (Volatilidade, Incerteza, Complexidade e Ambiguidade), jamais podemos deixar de nos preocupar com o abastecimento, desde toda a alimentação, medicamentos, combustível, matéria-prima, tecnologia e muito mais. Gary A. Smith (2020) afirma que as empresas devem seguir os 8 tópicos mais importantes para melhorar a cadeia de abastecimento e ultrapassar obstáculos.

As 8 etapas para a reorganização da cadeia de abastecimento:

  1. Criar uma visão e cultura de verdadeira visibilidade de ponta a ponta: O objetivo de qualquer distribuidor é ter capacidade de rastrear desde a compra até ao consumidor final. A visibilidade vai desde o nº de série, lote, SKU, da forma mais prática possível, pois se ocorrer problemas com um produto, este deve ser localizado, rastreado e resolvido adequadamente. A transparência é fundamental de ponta a ponta, ou seja, desde a compra à entrega final.
  2. Alavancar a tecnologia;
  3. Implementar um sistema em toda a empresa de um programa de melhoria contínua – Continuous Improvement (CI);
  4. Realçar o planeamento sobre a previsão;
  5. Forecast com fornecedores;
  6. Criar um plano de risco da cadeia de abastecimento;
  7. Mudar o mindset de “compra” para “aquisição e colaboração”;
  8. Implementar Sales and Operations Planning (S&OP).

A importância deste tema é que, cada vez mais, as cadeias de abastecimento estão em destaque, principalmente nos últimos anos desde 2021. Não pelas melhores razões, mas pelos atrasos e falta de alguns produtos, falta de espaço nos navios, e o crescente aumento na procura de transporte.

Também há outros procedimentos que poderão ser muito úteis na sua logística

Conforme fui lendo e investigando, alguns procedimentos fazem todo o sentindo, principalmente na atualidade:

  • Dual sourcing para minimizar o risco de relações dependentes de um único parceiro em domínios críticos; processos mais diretos e menos extensos para evitar o risco de disrupção em cadeias longas; e maiores níveis de stock a curto/médio prazo para fazer face aos desafios de sistemas de produção just-in-time;
  • Esforço de (re)industrialização europeia: expectativas de políticas de (re)industrialização no quadro da União Europeia, internalizando parte de uma produção industrial deslocada para outras geografias;
  • Estar alerta aos impactos da guerra comercial Estados Unidos – China: a imposição de tarifas aduaneiras tem um impacto negativo nas cadeias de abastecimento, perturbando os canais de distribuição e abastecimento. Eventualmente, os lucros das empresas americanas podem diminuir devido ao aumento dos custos, e os lucros das empresas chinesas também via redução das exportações para mercados finais (ex. anúncios de retalhistas e empresas de base tecnológica a realocarem produção para outros mercados asiáticos);
  • Investimento tecnológico é um elemento fundamental numa era em que o comércio digital, e o surgimento de um novo consumidor mais exigente, exige velocidade no processo de compra. Para além da integração de profissionais, as empresas devem guardar uma parte do seu orçamento para o investimento tecnológico. A automatização, a Internet das Coisas (IdC) e a utilização de drones em armazéns são algumas das tecnologias já utilizadas por algumas das maiores empresas de e-commerce do mundo.
  • A velha metodologia de trabalhar em just-in-time e ter o mínimo stock possível, agora terá de ser repensado porque à mínima rotura, os compradores ficam sem stock, não tendo tempo para se abastecer.
  • Tem de haver o objetivo de melhorar esforços e o abastecimento para conseguir enfrentar esse eventos disruptivos e ameaças globais. As organizações devem ter um pacote de resiliência que inclui colaboração, flexibilidade, visibilidade e orientação analítica.
  • As empresas devem investir em internet das coisas (IoT), cloud computing, data analytics, inteligência artificial, drones e veículos autónomos, e negócios mais transparentes, menos dependentes de mão de obra.

Novas tendências da cadeia de abastecimento estão a ser discutidas por todo o lado, e muito centradas no cliente. A tecnologia é uma das conversas centrais, assim como a digitalização, IA, automação, blockchain e filosofia Lean. A pandemia reforçou a importância de haver cadeias mais resilientes que consigam antecipar eventos inesperados. Mas, para isso, é preciso desenvolver uma cultura de visibilidade na cadeia de abastecimento, flexibilidade, colaboração e adaptação, bem como formação constante. Estar atento às novas tendências irá fazer com que o líder se destaque e crie valor. Só assim poderá sair desta e de outras crises que possam surgir.

Na minha opinião, existirão também novos players no mercado, com melhor tecnologia e novas tendências. Haverá novas disrupções e, por isso, temos de ser flexíveis e pensar em novas formas de abastecimento. Está na altura de mudar!

Anabela Marcelino, Diretora Geral | Keta Foods