A digitalização tem sido um suporte importante para as cadeias de abastecimento, e tem-se sentido a emancipação de tecnologias emergentes, como a Inteligência Artificial (IA) ou o Machine Learning. Ainda assim, existem algumas limitações. Pedro Amorim, Partner da LTPlabs, ajudou-nos a perceber o papel destas tecnologias, de que forma podem ajudar as empresas, e de que forma não devem depender delas.
SCM – Ao nível das cadeias de abastecimento, como tem sido a evolução tecnológica nos últimos anos?
Pedro Amorim – A evolução tecnológica tem transformado profundamente as cadeias de abastecimento, mas de forma desigual. Enquanto algumas empresas adotaram rapidamente ferramentas como inteligência artificial, digital twins e robótica avançada, outras permanecem presas a métodos tradicionais, acentuando disparidades competitivas. Assim, o verdadeiro impacto só será alcançado quando essas inovações se tornarem mais acessíveis e difundidas por toda a indústria.
– Qual tem sido o papel da IA nos processos da supply chain?
A IA redefine o planeamento e a execução da cadeia de abastecimento, oferecendo automação inteligente, previsões mais precisas e capacidade de resposta em tempo real. Empresas líderes utilizam esta tecnologia para otimizar fluxos logísticos, minimizar custos e melhorar níveis de serviço. Trata-se de uma mudança estrutural que mitiga a incerteza como barreira fundamental para uma boa gestão da cadeia de abastecimento.
– Até que ponto, e em que tipo de processos, deverão os processos ser automatizados e geridos através de inteligência artificial, e onde deverá entrar a ação humana?
A IA é ideal para processos repetitivos e de análise intensiva, como previsão de vendas ou otimização de rotas logísticas. Contudo, decisões estratégicas, como reações a disrupções inesperadas ou ajustes de longo prazo, continuam a exigir o julgamento humano. O futuro está na complementaridade entre análise automatizada e liderança informada. Tanto uma como outra vão beneficiar de IA.
– A decisão poderá ser artificial ou ainda terá de ser emocional?
A decisão pode e deve ser informada pela IA, mas o fator humano é indispensável em questões que transcendem números. Decisões puramente racionais podem negligenciar o impacto sobre stakeholders ou ignorar contextos culturais e sociais. A combinação de dados com intuição e empatia oferece o melhor dos dois mundos.
– De que forma pode a IA antecipar disrupções e mitigar o risco associado?
A análise de cenários é um dos pilares da IA na gestão de cadeias de abastecimento. Ao integrar dados históricos com informações em tempo real, a IA permite modelar múltiplos futuros possíveis, antecipando riscos antes que eles se concretizem. Essa capacidade de projeção e preparação transforma incertezas em vantagem estratégica, permitindo respostas mais rápidas e informadas. Num ambiente global repleto de disrupções, a antecipação é o único caminho para minimizar impactos e garantir a resiliência.
– Quais serão as tendências tecnológicas para as cadeias de abastecimento para os próximos anos?
As cadeias de abastecimento serão moldadas por digital twins, IA analítica e IA generativa. A combinação destas tecnologias permitirá atingir novos níveis de automação na tomada de decisão. O avanço destas tecnologias redefinirá também a resiliência operacional, transformando cadeias de abastecimento em sistemas proativos e dinâmicos.
– Quase a iniciar 2025, quais antecipam que sejam os desafios e as perspetivas para este ano?
O ano será marcado por pressões geopolíticas, desafios económicos e a necessidade de acelerar a digitalização. Apesar disso, há oportunidades significativas para empresas que abraçarem a tecnologia como um diferenciador estratégico. Resiliência e agilidade não serão apenas vantagens, mas pré-requisitos para a sobrevivência no novo panorama global.