O Grupo Luís Simões soma já 75 anos de história. Fernando Luís Simões e Delfina Rosa Soares começaram a transportar, com uma carroça, hortaliças e frutas produzidas pelas suas famílias, até aos mercados abastecedores de Lisboa e Malveira. Após terem criado, paralelamente, uma atividade hortícola e aberto uma mercearia, Fernando Luís Simões tirou a carta de condução de veículos pesados, e o casal acabou por comprar o seu primeiro camião. A partir daqui, a história escreveu-se. Atualmente, o Grupo Luís Simões apresenta soluções de transporte, logística e serviços auxiliares, e tem um serviço consolidado em Portugal e Espanha. Luís Freitas, diretor-geral da empresa, deu uma entrevista à Supply Chain Magazine na qual falou sobre o legado do Grupo Luís Simões, e ainda sobre os próximos capítulos desta história.

 

SCM – Como descreve a evolução do grupo Luís Simões ao longo destes 75 anos? Se tivesse de escolher o momento ou momentos mais desafiantes ou marcantes nesta trajetória, qual ou quais seriam?

Luís Freitas – Grupo Luís Simões começa com a divisão de transportes há 75 anos com uma carroça a fazer transporte de fruta em Lisboa, e foi evoluindo. Os fundadores compraram os seus primeiros camiões, tiveram no negócio de construção civil e entraram na logística no final do século passado em Portugal. Foi-se desenvolvendo nos negócios de transporte e logística. Na década de 80 entraram com o transporte em Espanha, e na primeira década de 2000 cresceram na área da logística. Neste momento já faturamos mais em logística em Espanha do que em Portugal, e a logística, neste momento, já é o negócio que mais fatura no Grupo Luís Simões em termos de volume de vendas.

O Grupo chega a 2024 com um crescimento sustentável ao longo dos anos, tanto em logística, como em transporte, e também nos negócios complementares. Fizemos esta trajetória em 75 anos, com um crescimento relevante, e vamos fechar o ano próximos dos 300 milhões de euros. Registamos um crescimento sustentável no entorno da Península Ibérica com duas alavancas muito importantes: os negócios de transporte e da logística. Isto é onde estamos. Para onde vamos? A visão estratégica ficou aprovada até 2029, e o seu objetivo passa por trabalharmos no mesmo entorno de Península Ibérica. Nós vemos a Península Ibérica como uma região única, onde queremos dar soluções sustentáveis aos nossos clientes nas áreas de transporte e logística, e é nestes mercados que nos vamos posicionar nos próximos anos.

Quais os principais desafios que se perfilam durante esse período para o setor? E onde se vêm daqui a 10 anos?

Estamos a assistir à entrada em força ao que em Espanha chamam as MDDs (as marcas de distribuidores de marca branca), face às marcas de fabricantes. Existe aqui uma grande luta por quota de mercado, por volume, e nós, ao estarmos posicionados nas FMCG (Fast Moving Consuming Goods), precisamos de ter flexibilidade para responder às diferentes necessidades do mercado. Aquilo que nos tem permitido crescer também é a nossa capacidade de inovação, de processo e de flexibilidade para conseguir dar uma resposta ao mercado.

Um dos pilares em que nos vamos focar para a próxima década é a aposta em inovação e automação. Nós temos dois armazéns automáticos, um em Lisboa, outro em Madrid, e temos um sorter de expedição também em Madrid, que nos tem permitido tornar as operações mais eficientes. Por isso, esta tendência será para manter. Uma aposta e um investimento em inovação, em tecnologia e, em paralelo, uma renovação dos nossos sistemas de gestão de armazém e de distribuição. Seja na parte de hardware com novos automatismos e processos – em que queremos liderar em termos de inovação neste setor –, seja na parte de software, em que vamos implementar novos sistemas informáticos. Por isso, a inovação e automação vão ser um pilar que nos vai permitir dois grandes objetivos: sermos os melhores, não queremos ser os maiores, queremos ser os melhores no que fazemos, e sermos muito competitivos, ou seja, dar o melhor nível de serviço a um custo muito competitivo.

O outro grande eixo, além da inovação e automação, é a sustentabilidade. Criarmos condições para sermos mais sustentáveis mantendo a competitividade passa por continuarmos o investimento em viaturas euromodulares, que nos permitam ser mais eficientes. Passa também por termos frota elétrica para fazer a última milha, e aumentar a nossa densidade geográfica com o posicionamento em novas regiões na Península Ibérica, o que nos vai permitir aproximar-nos dos destinatários, e trabalhar em soluções de viaturas elétricas para a última milha. Os nossos armazéns já são maioritariamente armazéns de última geração, muito sustentáveis. Estamos a investir em painéis solares, em máquinas de lítio que nos permitam sermos ainda mais sustentáveis nos armazéns.

Foram dos primeiros operadores nacionais a assumir que internacionalização era ter dimensão ibérica. Como é que esta abordagem ao mercado se reflete na competitividade e capacidade de resposta do grupo?

Portugal é um país espetacular para viver, mas pequeno. Cada vez mais, por dimensão, o mercado vem solicitando soluções estruturais ibéricas. Temos, neste momento, uma presença ibérica que nos permite montar diferentes soluções para abastecer o mercado ibérico, personalizadas para cada cliente. Nós atuamos maioritariamente em cinco grandes regiões: o norte e o sul de Portugal – Porto a norte e Lisboa a sul –; um eixo muito importante que é Madrid – a zona centro, em Canabillas e Guadalajara –; a zona de Catalunha e
Levante, onde estamos em Barcelona e Valência; e a zona de Sevilha. Então temos a capacidade de construir soluções competitivas que permitam aos nossos clientes posicionar a sua mercadoria em qualquer um destes pontos e, a partir daí, temos uma rede que permite, em lead times muito curtos, estar a servir o mercado com níveis de excelência mais elevados.

Quais as práticas e valores fundamentais para uma empresa ser bem sucedida na área da sustentabilidade ambiental, especialmente num dos setores que possui mais pegada carbónica, como o setor dos transportes?

A área que tem mais impacto a nível ambiental é, de facto, a área do transporte. Primeiro ponto, eu diria que, neste domínio, as viaturas euromodulares assumem um papel determinante. Segundo ponto, a renovação da frota própria tem sido também um investimento muito relevante no Grupo Luís Simões. Temos também uma parte de frota que é subcontratada, e estamos a trabalhar para garantir que esta seja mais sustentável, acompanhando os nossos subcontratados e dando-lhes condições para alcançar esse objetivo.
Um terceiro ponto que é muito importante na área de transporte, e que creio que é mais disruptivo, passa por trabalhar em processos e projetos de colaboração com os nossos clientes e destinatários para garantir que somos mais competitivos e mais sustentáveis na última milha. Eu creio que este é o grande desafio: garantir que toda a cadeia de abastecimento é consciente e trabalha em conjunto para o propósito final, que é ser mais sustentável, mas aumentar também a competitividade.

A Luís Simões apresentou o primeiro relatório de sustentabilidade há mais de 15 anos e foi pioneira. Está nos nossos valores e é um dos dois pilares para a próxima visão estratégica: a automação e inovação, claramente, e a sustentabilidade. Toda a organização está a trabalhar, cada um contribuindo com o seu grão de areia, para conseguir cumprir e superar os objetivos que estão marcados.

Como é que o Grupo Luís Simões encara o surgimento e incorporação de tecnologias emergentes como a Inteligência Artificial e automação? Em que pé estamos neste momento?

Nós construímos, em 2008, um armazém automático com capacidade para 55 mil paletes, no Carregado. Passados 10 anos, construímos um armazém em Guadalajara com capacidade para 85 mil paletes com automação. Estes armazéns já têm embutida Inteligência Artificial que permite melhorar a performance ongoing. Acreditamos que o futuro passa por isto. Estamos a trabalhar em soluções para outras tarefas e atividades dentro do armazém, nos quais vamos incorporar automação que nos vai permitir ser mais eficientes. Por isso, a automação obriga-nos a uma nova realidade em que precisamos ter uma equipa mais eficiente, mas claramente o caminho passa por adotar estas tecnologias, seja para as operações – para um incremento da automação e de inovação – seja para a parte de análise e gestão, e reporting, em que estamos a fazer um investimento também muito relevante em Power BI e de modelos preditivos, que nos vão permitir acelerar o processo de tomada de decisão nos próximos anos.

Qual o conselho que daria a um jovem que está a entrar nesta área, e para os que entrarão no futuro?

Este é um setor muito intenso, com muitas oportunidades, com muita capacidade de crescimento, e que permite adquirir skills que depois podem ser utilizadas em qualquer outro setor. Eu diria que, para o jovem, este é o setor do futuro. Nos próximos 100 anos, vamos continuar a comer todos os dias, a tomar banho, a ver televisão e a ter telemóveis. Por isso, estes bens vão ter de ser movimentados sempre. Vão ter sempre de existir armazéns, viaturas para transportar, seja por drones, seja por camiões. Este setor vai continuar a ser crucial na economia dos países. Este é um setor de futuro que está a fazer uma transição digital no qual os jovens podem ter um papel determinante.

Pode ler a entrevista completa na edição #57 da SCMedia News.