Querido Portugal,

Sabes qual é o teu problema? És um génio preguiçoso. Tens as respostas, tens o talento, mas escolhes sempre o caminho mais fácil: não fazer nada. Chegámos ao fim de mais um ano, e a pergunta mantém-se: até quando vais ignorar o óbvio?

Saúde: Prevenir custa menos do que remediar
Portugal lidera no consumo de ansiolíticos e antidepressivos na Europa, mas isso é apenas parte do problema. Quase 10% da população tem diabetes, e a obesidade, hipertensão e problemas cardiovasculares não param de crescer. Ainda assim, a nossa aposta é tratar sintomas, não prevenir doenças.

Onde estão as clínicas de saúde preventiva para detetar e evitar estas condições? Onde está o investimento em educação alimentar e programas reais de atividade física? Cada euro poupado hoje na prevenção custa-nos cinco vezes mais amanhã em emergências.

Habitação: Entre o direito e a especulação
Mais de 30% dos jovens entre os 25 e os 34 anos vivem com os pais porque não conseguem pagar uma casa. Enquanto isso, vilas e cidades pequenas estão proibidas de crescer devido a planos territoriais desfasados da realidade, alegadamente para proteger florestas abandonadas, as mesmas coladas às vilas ardem .. e levam as casas consigo.

Precisamos de um ordenamento equilibrado: vilas que cresçam de forma segura e sustentável, alargar as permissões e tipos de construção, e um mercado habitacional que priorize comunidades em vez de especulação.

Floresta: Território abandonado, tragédia anunciada
Desde 2000, já perdemos mais de 4,5 milhões de hectares de floresta.
Grande parte dos incêndios florestais são provenientes de florestas ou terrenos abandonados, mas insistimos em tratar os fogos como inevitáveis.

A solução é clara: desapropriar terrenos improdutivos e entregá-los em leasing a quem possa gerir e gerar valor, como empresas do setor, turismo sustentável ou energias renováveis. Florestas produtivas são florestas protegidas. Romantizar o abandono é garantir cinzas no próximo verão.

Talento: Diplomas errados
Portugal orgulha-se dos seus licenciados, mas ignora o essencial: quem põe as máquinas a trabalhar? Formamos jovens para emigrar – mais de 80.000 saíram nos últimos anos porque aqui não encontram trabalho. Ao mesmo tempo, ignoramos o ensino técnico, que é a base das economias mais produtivas do mundo.

É urgente valorizar o ensino técnico e operacional, com salários justos e formação de excelência. Sem isso, continuaremos a exportar doutores e a deixar as nossas fábricas e oficinas vazias.

Inovação e Impostos: Um ciclo de asfixia
Portugal tem uma das cargas fiscais mais altas da Europa com 36% do PIB. Pagamos para trabalhar, crescer e arriscar. Como é que esperas que empresas inovem num sistema que as sufoca? Ninguém pequeno deseja ser médio, ninguém médio deseja ser grande.

Se 2025 for igual, não será porque não sabíamos o que fazer. Será porque escolhemos não fazer nada.

Portugal, o que custa mais: o preço da mudança ou o peso da inércia?

Com misto de frustração e esperança,
João Figueiredo | CEO | Carmo Wood Engineering