Vivemos num mundo interconectado, onde cada produto que consumimos percorre um caminho complexo de fornecedores, fabricantes e distribuidores, atravessando muitas vezes continentes. No entanto, esta vasta teia de ligações, que deveria ser uma vantagem, pode ser exatamente o que nos torna vulneráveis à próxima crise. A cada nova disrupção global, a mesma questão coloca-se: estamos realmente preparados?

Todos os dias, milhões de produtos circulam por redes complexas de fornecedores, transportadoras, fabricantes e distribuidores, espalhados pelo mundo inteiro. Mas essa conectividade, que traz tantos benefícios, também expõe as fragilidades do sistema das cadeias de abastecimento.

A verdade é que gerir uma cadeia de abastecimento nunca foi tão desafiante. A incerteza causada por questões geopolíticas, desastres naturais e flutuações do mercado pode parar uma operação da noite para o dia. Para agravar a situação, as empresas enfrentam ainda escassez de mão de obra, inflação crescente, congestionamento portuário e falta de armazéns. Sem contar com a pressão constante por definir caminhos assentes na sustentabilidade.

Com tantas variáveis em jogo, a gestão tradicional da cadeia de abastecimento já não é suficiente. As empresas precisam de ferramentas que antecipem as incertezas e permitam agir antes que os desafios se tornem crises. Neste cenário, a inteligência de dados surge como um alicerce fundamental. Muito se fala sobre a digitalização e de como está a revolucionar as cadeias de abastecimento. É verdade, a digitalização de processos e a automação são passos importantes, mas não são a solução completa. A complexidade e a volatilidade do mercado exigem mais do que uma melhoria da eficiência.

Então, como podemos tomar as decisões corretas neste cenário tão incerto? As empresas precisam de um entendimento profundo das fragilidades da sua cadeia e de soluções que as ajudem a navegar num mundo probabilístico. Obter uma visão completa dos seus processos produtivos, amplificar a quantidade de informações relevantes, identificar os pontos fracos e avaliar os trade-offs de cada escolha. As ferramentas de análise preditiva e inteligência artificial também podem ser utilizadas para extrair o significado correto das informações e antecipar o que está a acontecer, desde a gestão de stocks até à monitorização de congestionamento de navios.

No entanto, a eficácia destas previsões depende de um fluxo eficiente de informação. Não adianta ter os dados certos, se não chegam à pessoa certa no momento certo. É fundamental garantir que as informações mais importantes estão disponíveis no momento exato para quem é decisor, e isso só é possível com um pipeline de dados bem estruturado.

Outro ponto chave é adotar uma abordagem proativa. É preciso identificar possíveis problemas quanto antes, para poder corrigir o curso rapidamente. E mais: integrar dados externos aos dados internos da empresa, oferece uma visão mais ampla do contexto, criando vantagens competitivas que podem fazer toda a diferença.

Além da tecnologia, precisamos de uma mudança na forma como encaramos os problemas e as soluções. Uma equipa multidisciplinar que combine design, tecnologia e negócios, por exemplo, pode ajudar a trazer diferentes perspetivas e amplificar o entendimento dos desafios.

Afinal, as cadeias de abastecimento estão a tornar-se mais ágeis e eficientes, o que é ótimo para os custos e atendimento ao cliente. Mas é essencial não perder de vista as fragilidades que podem estar a ser acumuladas ao longo do tempo. Um sistema que parece estar a funcionar, pode, de repente, ser abalado por uma crise inesperada, se não houver resiliência suficiente.

O momento exige uma co-criação de soluções onde empresas, fornecedores e parceiros trabalhem juntos para desenvolver ferramentas de gestão à altura da complexidade que enfrentamos. A cadeia de abastecimento é, afinal, um sistema vivo, dinâmico e interligado. E o sucesso das organizações do futuro vai depender da sua capacidade de lidar com estas complexidades de forma inovadora, ágil e inteligente.

O futuro da cadeia de abastecimento pertence a quem conseguir transformar dados em insights, incertezas em oportunidades e desafios em soluções criativas e sustentáveis. A questão é: estamos prontos para dar este salto e ultrapassar as próximas crises? Eu acredito que sim.

Danilo Santos | CEO | Numen Europa