Com o início do segundo mandato presidencial de Donald Trump, as políticas comerciais globais enfrentarão mudanças significativas. Num relatório abrangente, a AIMMS e a Iter Consulting exploram a forma como as principais nações produtoras se preparam para estas mudanças e algumas das medidas estratégicas que estão a considerar.

“Trump’s Trade Tightrope: A Global Supply Chain Outlook” é o novo relatório lançado pela Iter Consulting e pela AIMMS. O documento revela vulnerabilidades críticas, mas também estratégias para navegar num cenário de comércio global cada vez mais fragmentado. Com base em informações recolhidas junto de 1.000 líderes seniores da cadeia de abastecimento e de produção dos Estados Unidos, Reino Unido, China, Alemanha e Suécia, o relatório fornece uma visão abrangente dos temas macroeconómicos que moldam a cadeia de abastecimento na atualidade. Trazemos-lhe os dados-síntese do documento.

 

Estados Unidos: Preparação limitada perante riscos crescentes
38% das empresas americanas estão pouco preparadas para as mudanças na política comercial, confiando nos fornecedores para absorver o aumento dos custos. Isto deixa-as vulneráveis a aumentos de custos não planeados e a perturbações na cadeia de abastecimento se os fornecedores repercutirem os custos relacionados com as tarifas.

Em resposta ao aumento previsto das taxas aduaneiras, apenas 8% das empresas norte-americanas investiriam no desenvolvimento da produção em casa, o que revela um crescimento limitado da produção interna. A mudança para centros alternativos, como o Vietname e o Camboja, continua a acelerar.

Os gigantes tecnológicos cotados no NASDAQ dependem fortemente dos semicondutores de Taiwan, o que cria um grave risco de tensões geopolíticas. Um conflito em Taiwan poderia paralisar o fabrico de tecnologia nos EUA, fazer disparar os custos dos chips e fazer cair o índice NASDAQ, que é um setor de alta tecnologia.

62% das empresas americanas classificam as tarifas como um risco elevado, mas não dispõem de redes de fornecedores diversificadas, o que as expõe a choques na cadeia de abastecimento. O planeamento avançado de cenários e a diversificação proativa de fornecedores são, de acordo com o relatório, fundamentais para mitigar estes riscos.

 

China: Preparação estratégica mas ventos económicos contrários
43% das empresas chinesas afirmam estar “muito preparadas” para as alterações das tarifas comerciais, ultrapassando largamente a preparação das empresas norte-americanas. Os fabricantes chineses estão a utilizar estratégias como o nearshoring no México e o redireccionamento das exportações através dos países da iniciativa “One Belt, One Road” para atenuar o impacto das tarifas.

39% das empresas chinesas citam o abrandamento da economia nacional como o seu principal risco, ofuscando as preocupações com os direitos aduaneiros. A estagnação económica prolongada ameaça o crescimento e a resiliência a longo prazo.

Prevê-se que as tarifas aduaneiras previstas redireccionem as exportações chinesas para mercados com direitos aduaneiros mais baixos na Europa e na Ásia, reduzindo o acesso dos Estados Unidos a fornecimentos críticos de produção. Esta mudança poderá perturbar as linhas de produção norte-americanas e aumentar os custos para os consumidores.

Em resposta, é provável que as empresas chinesas adotem estratégias de preços agressivas, como o dumping de stocks em mercados ocidentais alternativos. Esta tática corre o risco de desestabilizar as indústrias que dependem de preços equilibrados, como se viu anteriormente no setor dos painéis solares.

 

Alemanha: Excesso de confiança nos modelos de exportação
48% dos fabricantes alemães prevêem impactos tarifários mínimos, exigindo apenas ajustamentos operacionais moderados. No entanto, esta perspetiva ignora as potenciais vulnerabilidades das indústrias que dependem muito das exportações, como a automóvel e a farmacêutica.

O excedente comercial de 63,3 mil milhões de euros da Alemanha com os EUA enfrenta desafios significativos com as tarifas de 20% propostas. O excesso de confiança no atual modelo orientado para as exportações arrisca-se a provocar perturbações económicas a longo prazo.

Apesar dos riscos geopolíticos, como a guerra na Ucrânia (que a Alemanha está a financiar), 39% das empresas alemãs prevêem um impacto reduzido ou nulo dos riscos geopolíticos, o que reflecte a falta de planos de emergência. Este facto deixa as empresas expostas a aumentos súbitos de custos e a perturbações na cadeia de abastecimento.

As exportações do sector automóvel, que representam cerca de 15% das exportações alemãs para os Estados Unidos, são particularmente vulneráveis a escaladas tarifárias, ameaçando uma pedra basilar da economia germânica.

 

Reino Unido: Reativo, mais do que proativo
51% dos fabricantes do Reino Unido não planeiam ajustar as estratégias de aprovisionamento em resposta às alterações da política comercial, evidenciando uma postura reactiva que arrisca dispendiosas perturbações na cadeia de fornecimento.

A dependência de rotas marítimas – utilizadas por 90% do comércio do Reino Unido – expõe os fabricantes a pontos geopolíticos vulneráveis a conflitos.

Em resposta aos aumentos dos direitos aduaneiros, 25% das empresas britânicas aumentariam o abastecimento interno, mas é provável que os fornecedores locais aumentem os custos de produção, corroendo as margens de lucro já reduzidas.

Os EUA continuam a ser o maior mercado de exportação do Reino Unido, com um valor anual de 188,2 mil milhões de libras. As novas tarifas poderão afetar indústrias-chave como a farmacêutica e a petrolífera, tornando essencial a diversificação dos mercados de exportação e o planeamento de contingência.

 

Suécia: Adaptação proativa num contexto de otimismo
56% dos fabricantes suecos estão preparados para alterar as estratégias de abastecimento em resposta às alterações da política comercial para reduzir a dependência das regiões afetadas pelos direitos aduaneiros, posicionando-se para uma maior resiliência.

No entanto, 39% das empresas suecas continuam demasiado otimistas, esperando impactos tarifários mínimos. Esta confiança poderá ocultar futuras vulnerabilidades.

Uma queda prevista de 16% nas exportações suecas para os EUA devido ao aumento dos direitos aduaneiros sublinha a necessidade de estratégias comerciais diversificadas para evitar uma dependência excessiva dos mercados nórdicos e da UE.

De realçar que o estudo inquiriu 1.000 líderes seniores em dezembro de 2024 nos EUA, Reino Unido, China, Alemanha e Suécia, visando perceber os riscos associados ao potencial aumento das tarifas, as tendências emergentes no setor da produção e as estratégias para reforçar a resiliência da cadeia de abastecimento.