Donald Trump venceu as eleições nos Estados Unidos com a promessa “Make America Great Again”. O designado movimento MAGA quer virar os EUA “para si próprios” e ainda antes das eleições o atual presidente defendeu que “tarifa” era “a palavra mais bonita do dicionário”. A sua abordagem “América em primeiro lugar” e agora os avanços e recuos do aumento das tarifas alfandegárias têm feito estremecer parceiros comerciais como Canadá, México ou China e, claro, agora também a Europa. O que é que tudo isto pode significar para o comércio internacional?

 

No domingo à noite, dia 2, Trump repetiu aos jornalistas queixas sobre o grande défice comercial dos EUA com a UE e o desejo de que a Europa importe mais carros e produtos agrícolas norte-americanos: “Não levam os nossos automóveis nem os nossos produtos agrícolas, praticamente nada, e todos nós compramos milhões de automóveis, níveis enormes de produtos agrícolas”, argumentou.

Nestas declarações à comunicação social, o presidente norte-americano, classificando a relação comercial com a Europa, sublinhou: “Estão realmente a aproveitar-se de nós. Temos um défice de 300 mil milhões de dólares (293 mil milhões de euros)”. Por isso, a aplicação de tarifas “definitivamente vai acontecer com a União Europeia, eu posso garantir”.“Eu não diria que há um cronograma, mas será em breve”.

O aviso de Trump foi para os 27 e potencialmente para o Reino Unido, apesar de admitir que os norte-americanos possam vir a sentir parte do peso económico de uma guerra comercial global. Mas “vai valer a pena”, porque vai “tornar a América grande de novo”, defendeu.

A resposta da União Europeia não demorou e Bruxelas avisa que a imposição de mais tarifas pelo governo norte-americano vai ter consequências “nocivas para todas as partes”.

 

Retrato do comércio externo com os EUA

Mas quem são os principais parceiros comerciais dos Estados Unidos e quem poderá ser afetado por estas taxas?

De acordo com os dados mais recentes da Euronews, o México foi o principal parceiro comercial dos EUA no ano passado, representando 776 mil milhões de euros de negócios (apenas mercadorias). Isto representa 15,9% do total do comércio dos EUA.

Em segundo lugar, o Canadá representou 14,3% do comércio dos EUA. Seguem-se a China e a Alemanha, com 10,9% e 4,4%, respetivamente.

Mas o valor do comércio entre países pode ser dividido em totais de exportação e importação. Os Estados Unidos, por exemplo, importam mais do México do que exportam, com entradas de bens no valor de 466,6 mil milhões de euros e saídas de bens no valor de 309,4 mil milhões de euros. Portanto, têm um défice comercial com o México, assim como com o Canadá, com importações no valor de 377,2 mil milhões de euros e exportações para o Canadá no valor de 322,4 mil milhões de euros.

Já as importações da China para os Estados Unidos ascendem a 401,4 mil milhões de euros, enquanto as exportações se situaram nos 131,0 mil milhões de euros no ano passado.

No que diz respeito ao Reino Unido, os dados dos EUA sugerem um excedente comercial, o que significa que os britânicos estão a comprar mais do que a exportar para a América. Mesmo assim, os dados do outro lado do Atlântico mostram um quadro diferente.

O Office for National Statistics do Reino Unido observou que o Reino Unido teve um superávit comercial com os EUA em 2023 de £ 71.4 mil milhões ($ 88.19 mil milhões). Isto diz respeito a bens e serviços. O Escritório de Análise Económica dos Estados Unidos (BEA), por seu turno, relatou um superávit de US $ 14,5 mil milhões (€ 14,2 mil milhões) – sugerindo que os Estados Unidos da América estão a enviar mais para o Reino Unido do que a importar.

 

Protecionismo vs. riscos económicos

Como argumento em defesa desta política tarifária Trump aponta o desejo de promover as empresas e os trabalhadores americanos. “De acordo com o meu plano, os trabalhadores americanos deixarão de se preocupar com a perda dos seus empregos para os países estrangeiros, em vez disso, os países estrangeiros preocupar-se-ão com a perda dos seus empregos para a América”, disse durante a campanha eleitoral do ano passado.

Embora a luta contra a concorrência estrangeira possa ajudar as empresas norte-americanas, há especialistas que apontam uma série de riscos, pois se as empresas americanas continuarem a comprar bens no estrangeiro, verão os seus custos aumentar se os fornecedores estrangeiros mantiverem os seus preços.

Algumas empresas americanas poderão optar por transferir esta despesa para os consumidores/clientes, o que significa que o custo dos bens e serviços poderá subir. Segundo os analistas económicos, o aumento significativo dos preços poderá também resultar em aumentos das taxas de juro, se a Reserva Federal o considerar necessário para controlar a inflação, o que restringe os empréstimos e pode ter um impacto negativo no emprego se as empresas forem obrigadas a despedir trabalhadores.

Outra consequência do aumento das tarifas alfandegárias é poderem provocar uma valorização do dólar, o que pode tornar os produtos dos exportadores norte-americanos menos competitivos a nível mundial, pois potencialmente tornam-se mais caros para os consumidores estrangeiros, o que poderá aumentar os défices comerciais.

No meio deste jogo de forças, a política tarifária de Trump continua a gerar incerteza e apreensão no comércio internacional e nas cadeias de abastecimento globais. Enquanto os Estados Unidos procuram reforçar a sua posição económica através de tarifas e medidas protecionistas, os parceiros comerciais preparam respostas que podem desencadear retaliações e afetar o equilíbrio global.

Resta saber até que ponto esta estratégia será eficaz a longo prazo ou se acabará por ter um efeito contrário ao desejado, dificultando o crescimento económico e as relações comerciais entre os blocos. Certo é que o mundo seguirá atento aos próximos capítulos desta guerra comercial, que tal como o anúncio das tarifas, acontecerá “em breve”.