O tema da escassez de talento não é novo. Há muito que se fala da dificuldade em atrair talento qualificado, mas não só. Se olharmos para aquelas que são as funções mais indiferenciadas, onde naturalmente as qualificações são mais baixas esta também é uma realidade, o que traz desafios para as organizações. A verdade é que se olharmos para o panorama geral do mercado de trabalho em Portugal é de notar um paradoxo: por um lado a escassez de mão de obra e, por outro uma população cada vez mais envelhecida, cujos efeitos são cada vez mais visíveis na economia. 

E nesta dinâmica é necessário introduzir uma variável e que diz respeito à mão-de-obra estrangeira que, muitas vezes, ajuda a colmatar esta escassez em setores muito específicos mas com uma importância muito grande para a economia, como é o caso da indústria, da agricultura ou hotelaria, entre outros. Em 2023, os trabalhadores estrangeiros contribuíram com 2.677 milhões de euros para a economia portuguesa, com um saldo positivo de cerca de 2.200 milhões de euros, após o pagamento de prestações sociais. Este é apenas um exemplo claro do impacto positivo que os migrantes têm no nosso país.

Para além da sua contribuição económica, os migrantes trazem consigo uma riqueza de diversidade, novas perspetivas e um forte compromisso em se integrar e prosperar. As empresas que conseguem integrar estes trabalhadores de forma eficaz são aquelas que, provavelmente, colherão os maiores frutos em termos de produtividade e inovação. A valorização da mão-de-obra migrante é, portanto, não apenas uma questão de justiça social, mas também uma estratégia inteligente para as empresas que procuram ser mais competitivas num mercado global cada vez mais exigente.

Contudo, integrar os migrantes de forma eficaz não é apenas uma responsabilidade das empresas. O Estado tem um papel determinante na criação de políticas públicas que apoiem esta integração, como programas de formação, incentivos fiscais e apoio a serviços essenciais, como habitação e saúde. Estas medidas são fundamentais para garantir que os migrantes não sejam apenas uma mão-de-obra acessível, mas sim um motor de inovação e desenvolvimento. Investir em pacotes de incentivos, como prémios de produtividade e programas de desenvolvimento profissional, é um caminho claro para potenciar a sua integração e valorizar o seu contributo para a economia nacional.

Além disso, a diversidade no local de trabalho tem vindo a demonstrar ser um fator de resiliência e inovação. Empresas que apostam numa cultura inclusiva e valorizam a multiculturalidade estão mais preparadas para enfrentar os desafios do mercado global. Não podemos olhar para a integração dos migrantes apenas como uma necessidade económica, mas sim como uma oportunidade estratégica que pode impulsionar as organizações a um patamar superior. Num momento em que o mercado de trabalho global se encontra em profunda transformação, Portugal tem a oportunidade de se destacar ao adotar uma postura inclusiva e aproveitar todo o potencial que a diversidade pode oferecer.

Em última análise, a produtividade e os incentivos são, sem dúvida, elementos essenciais para o sucesso das empresas e a prosperidade da economia nacional. No entanto, o verdadeiro sucesso será alcançado quando conseguirmos criar um mercado de trabalho em que todos – independentemente da sua origem – possam prosperar e contribuir para o bem comum. Integrar os migrantes de forma eficaz não só é possível, como é absolutamente necessário para garantir que Portugal continue a crescer e a prosperar no futuro.

Tiago Baldaia, Business Director Gi BPO