A tarde do primeiro dia da conferência foi dedicada à geopolítica, às exportações e importações e aos desafios do transporte de animais marinhos. A abrir a sessão, Jorge Rodrigues, coordenador do Observatório de Risco Geopolítico para Empresas da PBS, abordou a “Vingança da Geopolítica” e os cenários para 2030. A geopolítica é um dos fatores que impacta diretamente a área dos transportes e logística. Assim, e tendo em conta que “a geopolítica está na centralidade do momento”, como afirmava Jorge Rodrigues, importa falar sobre o contexto político que o mundo vive atualmente, nomeadamente uma disrupção trumpiana, a emergência de novos atores (influenciadores, como Elon Musk), ou competição entre o G7 e o BRICS.
Nesta era de instabilidade, a Europa tem de se evidenciar, algo que não está a acontecer. Segundo o coordenador, o continente tem de ser reconhecido a nível internacional, estar incluído na mesa de negociações e ter uma posição respeitada. Para o futuro, o cenário é muito incerto, mas Jorge Rodrigues apontou o cenário mais provável, que consiste na competição entre os EUA e a China, e um modelo de negócio de nearshoring, ou o cenário mais perigoso, que passa por uma escalada dos conflitos e uma competição desregrada entre os EUA e a China.
A primeira mesa redonda do evento contou com a participação de Gonçalo Garcia, do Gabinete de Estudos da APICCAPS – Associação Portuguesa de Calçado, Sofia Veloso Ferreira, assessora da da Direção da AIMMAP – Metal Portugal, Gil Nadais, secretário-geral da ABIMOTA, José Couto, presidente da AFIA e Rui Oliveira, vice-presidente da Comunidade Portuária de Aveiro. A moderação esteve a cargo de Miguel Nuno Silva, senior consultant & Int’l Trainer in Supply Chain Mng, procurement and logistics da Admicami. O painel abordou, de um modo geral, as exportações portuguesas das indústrias das quais fazem parte as suas empresas, bem como os desafios inerentes e a importância para destacar o país a nível internacional.
O primeiro dia do Cargo Freight Portugal Summit terminou com João Correia, fundador da Flying Sharks, a falar sobre tubarões, bacalhaus e raias. De um modo cómico, o general manager falou sobre os desafios de transportar animais marinhos de um ponto ao outro do mundo, contando as peripécias envolvidas nas operações realizadas pela empresa.
António G. Salas, coordenador e porta-voz do Sudoeste Iberico EN RED, inaugurou o segundo dia da conferência para falar sobre a importância de tornar a Península Ibérica como um hub logístico europeu global, nomeadamente através de um corredor sudoeste ibérico.
De seguida, passamos para o transporte marítimo, em que foram abordadas, por Fernando Cruz Gonçalves, professor na ENIDH, as novas alianças estratégicas levadas a cabo pelos grandes players, para fazer face à volatilidade e incerteza que marcam a atualidade do setor.
A importância da colaboração foi o que trouxe Dália Moreira, head of supply chain da Sogrape, e Nuno Oliveira, customer care manager – external markets da Sogrape ao evento. Foram evidenciados os desafios que marcam a cadeia de abastecimento da Sogrape, como a incerteza económica e política e as alterações climáticas, bem como o setor do vinho, desde logo a regulamentação, as tarifas, as alterações no padrão de consumo, entre outros. Tendo isto em conta, a visão da empresa assenta em três pilares: o foco no cliente, a gestão de risco, e a sustentabilidade, que só é possível através da colaboração com todos os players das operações.
“Cadeias de transporte sustentáveis e resilientes: o papel da colaboração na gestão de riscos e eficiência logística” foi o tema que juntou Nuno Claro da Fonseca, managing partner da Portir Transitários, Alex Faria, general manager da Kuhne & Nagel, Celina Rodrigues, shopping logistics director da Corticeira Amorim, e Miguel Basto, Portugal country representarive & head of direct transport CX for Iberia & France A. P. Moller Maersk. A moderação esteve a cargo de Bárbara Fraga, executive director of supply chain and logistics consulting da Logistema.
Durante a sessão, o painel evidenciou os desafios complexos que o setor enfrenta atualmente, como a volatilidade do mercado e as alterações climáticas. Tendo isto em conta, a resiliência e a colaboração são dois fatores-chave para ultrapassar estes desafios. A transparência sobre a carga no setor marítimo e no rodoviário é um dos handicaps que algumas destas empresas ainda sentem. Assim, os oradores destacaram a importância de os operadores logísticos serem ágeis e resilientes e estabelecer colaborações fortes. No entanto, foram também apontadas as dificuldades que as PME têm em estabelecer colaborações devido a margens apertadas em comparação com empresas de grandes dimensões.
“Regionalização vs. globalização”, foi o mote de Hermano Sousa, managing director da ESTE Shipping, nomeadamente a necessidade de construir uma infraestrutura de transporte potente que suporte a reindustrialização da Europa. Carla Neiva, supply chain and logistics manager da Atepeli, apresentou o projeto da empresa que consistia em rever o transporte, otimizar o serviço, reduzir os custos operacionais e tornar a operação mais sustentável. Após o diagnóstico dos problemas e da implementação do novo modelo de transportes, obtiveram uma maior fiabilidade dos dados, um impacto ambiental positivo através da utilização de biodiesel, e a otimização das rotas.
“Desafios que criam oportunidades: a competitividade no transporte global através do regime DDP”, foi o tema que Rute Silva, logistics coordinator, senior structural engineer da BERD trouxe à conferência. As cadeias de transporte globais estão a passar por uma transformação acelerada, impulsionada por desafios geopolíticos, mudanças regulamentares e expectativas crescentes dos consumidores. No meio dessa evolução, surge a necessidade de adaptação e inovação, principalmente na forma como as empresas abordam as operações logísticas. O regime Delivered Duty Paid (DDP) surge como uma solução estratégica para empresas que desejam melhorar a competitividade e proporcionar uma experiência mais transparente e eficiente para os seus clientes. Rute revelou aos presentes como a implementação do regime DDP tem permitido à BERD superar desafios, melhorar a oferta ao cliente e posicionar-se de forma mais competitiva no mercado global.
Dalila Tavares, diretora de transportes da Leroy Merlin Portugal, marcou presença no evento para apresentar a estratégia da empresa na área dos transportes, que tem como objetivo simplificar e aumentar a eficiência.
A escassez de motoristas, um dos problemas que assombra o setor dos transportes atualmente, foi o foco de Pedro Paiva, diretor de logística da Panidor. Começou o discurso com uma pergunta-chave: “E se não houver motoristas?”. A resposta é simples: os bens essenciais deixam de chegar aos consumidores. E isto é uma preocupação. O diretor de logística destacou os problemas que levam a que este seja um setor pouco atrativo, desde logo as longas horas de trabalho, o baixo rendimento e a falta de boas infraestruturas. Algumas das soluções passam por melhorar as condições salariais, ter o apoio do governo para melhorar as infraestruturas, implementar modelos cross-docking para reduzir os tempos de viagem, e melhorar as condições de trabalho para atrair jovens e mulheres.
A última mesa redonda do evento centrou-se no tema “Transporte 4.0: como a digitalização está a redefinir o futuro dos transportes”, e contou com a participação de Pedro Martins, sales consultant da Devlop, Anabela Pinto, director of supply chain & regulatory affairs da Bondalti, André Dória, CEO & founder da Value Negotiation Technologies, Fernando Gomes, cargo and mail manager da Emirates Airline-SkyCargo, e Luís Mendes, CEO da Meight. Célia Pedro, consultant & trainer supply chain and leadership, moderou a sessão. Os oradores evidenciaram o papel da digitalização no setor nos transportes, nomeadamente otimizar e desburocratizar as operações. No entanto, foi ainda apontada a necessidade de quebrar mentalidades, pois ainda há muita resistência à mudança. A digitalização é uma realidade, portanto, as empresas devem de apostar na tecnologia para alcançarem sucesso.
O evento terminou com um momento fora do comum, levado a cabo por Fausto Figueiredo, global transportation Lead MP&L da Visteon e Susana Pinho, diretora de logística da Altri. Os oradores responderam a perguntas inusitadas selecionadas pela audiência, como o momento mais surreal vivido numa operação de transporte, a solução mais criativa (ou improvisada) que utilizaram para salvar uma operação, ou como explicariam o seu trabalho a uma criança de quatro anos. Entre contentores perdidos no mar e soluções criativas para imprevistos, o encerramento refletiu o espírito inovador e resiliente do setor.