A nova tarifa de 25% sobre automóveis e peças importadas, imposta pelos Estados Unidos, está a agitar profundamente a indústria automóvel da região Ásia-Pacífico (APAC). A medida, anunciada a 9 de abril, apesar de contar com uma suspensão temporária de 90 dias, já está a obrigar os principais construtores asiáticos a repensar operações, cadeias de abastecimento e estratégias de produção. A análise é da GlobalData, que alerta para o impacto potencial de longo prazo no equilíbrio do comércio global e na competitividade industrial da região.
Com uma forte dependência do mercado norte-americano, marcas como a Hyundai (com 16% das suas exportações dirigidas aos EUA), Subaru (32%) e Toyota (5%) encontram-se particularmente vulneráveis ao aumento das tarifas. A pressão acrescida sobre os custos, a incerteza nas cadeias logísticas e a perspetiva de relocalização de produção estão a transformar-se em fatores críticos para a estabilidade do setor.
“Embora gigantes como a Toyota Motor tenham registado lucros recorde, os pequenos e médios fornecedores estão já a expressar sérias preocupações”, explica Madhuchhanda Palit, analista automóvel da GlobalData. “O aumento dos preços das matérias-primas e da mão de obra está a dificultar a transferência desses custos para os clientes, sobretudo perante a recente subida salarial generalizada.”
Segundo a analista, o risco para o ecossistema automóvel é real: caso os grandes fabricantes optem por deslocar a produção para os EUA, isso poderá comprometer a sobrevivência de milhares de PME fornecedoras, em especial em países como o Japão, onde a indústria automóvel assenta fortemente numa teia de subcontratação local.
Os fabricantes têm vindo a reagir com estratégias distintas. A Subaru já alertou os seus concessionários de que os preços atuais poderão sofrer alterações. A Hyundai, por seu lado, lançou um programa de “Customer Assurance” com o objetivo de reforçar a confiança dos consumidores num momento de grande incerteza. Já a Toyota, que conta com uma forte presença industrial nos EUA, optou por manter os preços e centrar-se na redução dos seus custos fixos.
Numa jogada estratégica, a Nissan confirmou que irá transferir parte da produção de veículos elétricos para os EUA — uma decisão tomada após ter reconsiderado os seus planos iniciais mesmo antes do anúncio das tarifas. Esta mudança acompanha uma tendência mais alargada: a Hyundai anunciou um investimento de 21 mil milhões de dólares nos EUA, incluindo uma nova unidade siderúrgica no Louisiana, avaliada em 5,8 mil milhões. A Toyota, por sua vez, comprometeu-se com 14 mil milhões de dólares para a construção da sua primeira fábrica de baterias fora do Japão, na Carolina do Norte.
“Embora o mercado automóvel dos EUA enfrente turbulência a curto prazo, estes investimentos em produção doméstica poderão, a médio e longo prazo, fortalecer a economia americana e gerar benefícios para fabricantes e consumidores”, sublinha Palit.
Para já, a suspensão temporária das tarifas oferece uma janela de negociações críticas entre os EUA e os seus parceiros comerciais. No entanto, os contornos finais deste novo capítulo do comércio automóvel global permanecem em aberto. “A indústria automóvel da APAC terá de continuar a adaptar-se, apostando na inovação, flexibilidade e eficiência para manter a sua competitividade no cenário global”, conclui a analista da GlobalData.