Setenta e sete municípios da Região Centro de Portugal e da província espanhola de Salamanca exigiram o reforço da ligação ferroviária do Corredor Atlântico no troço Aveiro – Viseu – Guarda – Salamanca, com prolongamento até Madrid. A reivindicação conjunta foi expressa na Declaração Regional assinada no final da conferência “Transporte Ferroviário no Corredor Atlântico”, promovida pelo Município da Guarda, no dia 9 de abril.

Reunidos na Guarda, 77 autarcas e representantes empresariais pedem ações concretas para desenvolver o troço ferroviário estratégico para a mobilidade e a economia ibérica. Os autarcas reclamam a implementação da linha de Alta Velocidade neste eixo, a modernização da Linha da Beira Alta com ligação eficaz a Madrid, a criação e requalificação de plataformas logísticas e terminais de mercadorias, bem como a promoção de uma verdadeira intermodalidade entre ferrovia, rodovia e portos marítimos. Em causa está a ambição de reforçar a competitividade logística, fomentar a coesão territorial e potenciar o investimento privado nas regiões do interior.

“A infraestrutura ferroviária não é apenas um projeto de mobilidade — é uma coluna vertebral para o desenvolvimento económico da Região Centro e uma porta aberta para a Europa”, afirmou o anfitrião, Sérgio Costa, presidente da Câmara da Guarda, sublinhando o potencial transformador do Corredor Atlântico.

A conferência contou com a presença de várias entidades institucionais e empresariais dos dois países, incluindo Carlo Secchi, coordenador europeu do Corredor Atlântico, José Luis Sans Merino, Consejero de Movilidad da Junta de Castilla y León, Cristina Pinto Dias, secretária de Estado da Mobilidade, e Miguel Cruz, presidente da Infraestruturas de Portugal. A representação empresarial incluiu também Armindo Monteiro, presidente da Confederação Empresarial de Portugal, que frisou: “Não estamos a discutir comboios, estamos a discutir desenvolvimento. E este projeto já devia estar concretizado.”

As regiões abrangidas — representadas por seis comunidades intermunicipais e cerca de 1,5 milhões de habitantes — registam anualmente 10 mil milhões de euros em exportações e 9,3 mil milhões em importações. Os agentes económicos presentes consideraram o corredor essencial para aumentar a eficiência e reduzir os custos logísticos das empresas exportadoras e importadoras, bem como para captar novos investimentos.

Do lado político, os autarcas destacaram o caráter transfronteiriço e unificador da iniciativa. O alcalde de Salamanca, Carlos García Carbayo, criticou o esquecimento a que estas regiões têm sido votadas pelos respetivos governos. Uma visão partilhada por Luís Tadeu, presidente da CIM das Beiras e Serra da Estrela, e por Ana Bastos, vereadora da Mobilidade da Câmara de Coimbra, que defendeu um critério de custo-benefício mais equilibrado entre os vários corredores ferroviários em estudo.

A secretária de Estado, Cristina Pinto Dias, reafirmou que o Plano Nacional Ferroviário contempla o reforço das ligações internacionais e que decorrem estudos para a concretização do troço ibérico. Informou ainda que a modernização da Linha da Beira Alta está em fase de testes no troço entre Pampilhosa e Mortágua.

O presidente da Câmara de Aveiro, Ribau Esteves, e o presidente da CIM de Viseu Dão Lafões, Fernando Ruas, apelaram à continuidade deste movimento intermunicipal e sugeriram uma reunião urgente com os ministros das Obras Públicas de Portugal e Espanha.

Este foi o terceiro encontro transfronteiriço sobre o Corredor Atlântico, depois de Salamanca e Viseu. O próximo terá lugar em Aveiro.