Na 9.ª edição da Empack e Logistics & Automation Porto, a aposta na automação, na Inteligência Artificial (IA) e nas soluções verdes confirma a maturidade de um setor que procura, cada vez mais, operar com eficiência, segurança e consciência ambiental. Mas também levanta novas perguntas sobre os desafios que ainda estão por resolver.

 

O setor logístico e de embalagem português volta a afirmar-se como um laboratório de tendências e inovação com a 9.ª edição da Empack e Logistics & Automation Porto, que decorreu na Exponor. Nos dias 9 e 10 de abril, o evento recebeu 3.114 visitantes e foi palco de 10.777 conexões comerciais.

O pavilhão 6 da Exponor foi um espelho do investimento das empresas na transformação digital, na robotização e na sustentabilidade – sem esquecer os desafios estruturais que continuam a marcar o quotidiano da cadeia de abastecimento.

Oscar Barranco, managing director da Easyfairs Iberia e diretor da Empack e Logistics & Automation Porto 2025, refere que foi registada uma “forte presença” de empresas que oferecem soluções “inovadoras em sustentabilidade”, como materiais de embalagem ecológicos, tecnologias de reciclagem e processos de produção sustentáveis. “Paralelamente, foi-nos permitido ver como a automação é atualmente um foco do setor para aumentar a eficiência operacional, reduzir erros e otimizar a cadeia de abastecimento.”

Entre exoesqueletos, robôs móveis, embalagens circulares e softwares inteligentes, a feira tornou-se um retrato vivo das transformações que marcam o setor: mais digital, mais sustentável e mais consciente do fator humano. Um ecossistema onde eficiência e responsabilidade social caminham lado a lado.

Por sua vez, Oscar Barranco acrescenta que foi também possível perceber durante o evento como a IA está a transformar os setores da logística e das embalagens, nomeadamente ao prever tendências de consumo. “Soluções como algoritmos preditivos, automação de armazéns e análise de dados em tempo real estão a permitir que as empresas tomem decisões mais informadas e melhorem a sua competitividade.”


Uma feira, três pilares: tecnologia, pessoas e planeta

Organizada pela Easyfairs, a feira não se limitou a ser uma montra de produtos. Representou uma visão abrangente sobre o futuro da cadeia de valor, onde a convergência entre tecnologia, ergonomia e ambiente se fez notar em cada stand.

Logo à entrada, era impossível passar ao lado dos exoesqueletos Japet.W+ (iDR Domótica e Robótica) e ARTUS (Digity) sem parar. Um exemplo de como a inovação não se limita ao software ou à automação – começa também na saúde dos trabalhadores. O Japet.W+ oferece proteção ativa à coluna lombar, enquanto o ARTUS se apresenta como “exoesqueleto para os dedos”, uma solução ergonómica que promete revolucionar o suporte manual nas operações.

Um dos sinais mais evidentes da transformação do setor esteve na diversidade de soluções orientadas à automação e à inteligência artificial. Desde os sistemas de armazenamento multidirecional da Smartlog, aos softwares de gestão preditiva da Generix Group, ficou claro que a tecnologia deixou de ser um “nice to have” para se tornar um “must have”.

A BOWE Group, por exemplo, apresentou o Tugbot 2, um robô móvel autónomo (AMR), que reforça a capacidade de rebocagem inteligente e navegação em ambientes industriais complexos – uma resposta concreta à escassez de mão de obra e à pressão por eficiência contínua nas operações.

Também a Körber Supply Chain trouxe uma abordagem diferenciadora, com uma experiência imersiva em realidade aumentada e virtual, permitindo aos visitantes “entrar” nos seus sistemas e explorar funcionalidades como o Operator Eye, uma ferramenta de IA capaz de identificar padrões de erro e minimizar tempos de paragem no picking. Uma mostra clara da digitalização como fator de competitividade e produtividade.

Já no domínio da automação e inteligência artificial, o destaque foi para o sistema Smartpallet da Smartlog, um robô de armazenamento multidirecional, e o XLOG Vision, um sistema de leitura ótica de códigos de barras com aplicação direta na rastreabilidade e controlo da cadeia de abastecimento, já adotado por empresas como a Abreu Logistics.

A sustentabilidade foi omnipresente. A regulamentação europeia em matéria de plásticos e resíduos está a reformular o mercado e a acelerar a inovação. A feira refletiu isso de forma inequívoca: cintas de papel (Signode), big bags sem costura e 100% recicláveis (Interjute), paletes feitas com plástico reciclado pós-consumo (Inka Palet e Craemer) e contentores de pooling reutilizáveis (Rotom/2Return) são apenas alguns dos exemplos de soluções ali patentes que alinham desempenho técnico com objetivos ambientais.

Diferentes empresas e soluções evidenciaram como as escolhas de materiais e a conceção de produto são hoje parte da equação de sustentabilidade. Uma mensagem comum e clara: sustentabilidade e competitividade não são opostas, mas sim cada vez mais interdependentes.

 

Dois espaços para partilhar, debater, transformar

Com mais de 30 iniciativas e sessões temáticas ao longo de dois dias, o programa de conferências refletiu a transversalidade da feira. A Supply Chain Magazine marcou presença com a moderação de duas mesas redondas, uma sobre o caso da Luís Simões com a  integração entre TMS e WMS e a outra, “Criando uma supply chain melhor e mais inteligente”, que reuniu vozes do setor para discutir resiliência, agilidade e colaboração num contexto de volatilidade geopolítica e tecnológica.

Destaque também para a digitalização no retalho e o impacto da nova regulação europeia das embalagens, bem como para a  sessão “GreenPack & Sustainable Logistics”, um apelo por um equilíbrio entre eficiência económica e consciência ambiental – onde as embalagens sustentáveis e a logística verde deixam de ser exceção para se tornarem regra. O packaging do vinho, as tendências na logística do setor têxtil, a mobilidade, as infraestruturas e a intermodalidade também não foram esquecidas e tiverem direito de palco.

O keynote speaker Andrea Iorio, com a sua palestra sobre “Inteligência híbrida”, deu o tom da transformação de mentalidades. A sua mensagem foi clara: não basta adotar tecnologia – é preciso repensar competências, emoções e comportamentos para liderar na era da IA.

 

Pessoas, cibersegurança e infraestruturas: os temas quentes da atualidade

A tecnologia não substitui as pessoas – complementa-as. Com a crescente exigência física e cognitiva das operações, surgem soluções que protegem, capacitam e valorizam os trabalhadores. Por isso, nem só de soluções se fez esta 9.ª edição da Empack, Logistics & Automation. Os desafios também foram tema central, especialmente no que toca à escassez de talento – ao ponto de a feira incluir uma bolsa de emprego ativa durante os dois dias. Como salientou Óscar Barranco, diretor da Empack e Logistics & Automation Porto, “o setor precisa de talento qualificado para implementar e operar soluções cada vez mais complexas”.

A cibersegurança, outro tema incontornável, foi várias vezes apontada como prioridade estratégica – um campo onde muitas empresas ainda estão em fase de adaptação. E, no que diz respeito às infraestruturas, a mensagem foi de ambição com realismo: Portugal tem progredido, mas a intermodalidade e a coesão logística nacional continuam a pedir mais investimento e sobretudo planeamento e visão de longo prazo.

 

Innovation Tours: o futuro à distância de uma visita guiada

Uma nota final para as Innovation Tours, que voltaram a ser um sucesso. Estes percursos temáticos permitiram aos visitantes conhecer in loco as inovações mais impactantes do certame, com foco ora na embalagem, ora na automação logística.

Para quem procura inspiração, benchmarking ou decisões de compra informadas, a Empack, Logistics & Automation Porto 2025 foi, mais do que um evento, um barómetro das transformações em curso.

Num setor onde a pressão para entregar mais, melhor e mais depressa coexiste com exigências ambientais e desafios de talento, a feira mostrou que o futuro se constrói na intersecção entre inovação tecnológica, visão estratégica e compromisso social. A edição de 2025 não foi apenas uma montra – foi um manifesto de ambição e de mudança.

Na Empack, Logistics & Automation Porto 2025 viu-se mais do que produtos, equipamentos e soluções: viu-se visão. Uma cadeia de abastecimento em mutação, com profissionais mais conscientes, soluções mais inteligentes e empresas tendencialmente mais abertas à mudança.

Entre robôs que circulam autonomamente, softwares que “pensam” o fluxo logístico em tempo real e embalagens que respeitam o planeta, o recado é claro. Nada disto é apenas tendência. Está mesmo a acontecer! E, quem não acelerar, arrisca-se a ficar para trás.

A 10.ª edição da Empack e Logistics & Automation Porto ficou agendada para os dias 22 e 23 de abril de 2025, para a qual já está confirmada a participação de 53% das empresas que marcaram presença este ano.