Uma simples barra de chocolate tornou-se o epicentro de uma disrupção inesperada na cadeia de abastecimento global. O chamado “chocolate do Dubai”, criado pela Fix Dessert Chocolatier, combina chocolate de leite, creme de pistácio e massa kataifi, uma reinterpretação luxuosa de uma sobremesa tradicional do Médio Oriente: knafeh. No final de 2023, um vídeo explodiu no TikTok, acumulando mais de 120 milhões de visualizações e catapultando a procura global por pistácios para níveis sem precedentes.

A popularidade repentina do produto levou a um aumento exponencial na procura de pistácios, o ingrediente-chave do doce. O preço dos pistácios descascados subiu de cerca de 16,85 €/kg para mais de 22,70 €/kg nos principais mercados internacionais, impulsionado por uma colheita fraca nos Estados Unidos e pela preferência por pistácios com casca, reduzindo a disponibilidade de grãos descascados, essenciais para a produção do chocolate, segundo avança o jornal britânico The Guardian.

Para responder a este aumento inesperado da procura, o Irão aumentou em 40% as exportações de pistácio para os Emirados Árabes Unidos nos últimos seis meses. Na Turquia, a pressão sobre os sotocks internos levou o governo a considerar a importação de pistácios da Síria, numa tentativa de equilibrar o mercado interno, avança a mesma fonte.

Grandes marcas de chocolate, como Lindt e Läderach, lançaram entretanto as suas próprias versões do “chocolate do Dubai”, mas enfrentaram dificuldades para responder a tão elevada procura, o que implicou que alguns retalhistas, como os supermercados Waitrose, impusessem limites de venda (máx. 2 unidades por cliente).

Alguns especialistas pegaram no caso e destacaram à Forbes a importância de tecnologias como a inteligência artificial e a análise preditiva para antecipar tendências de consumo e ajustar as cadeias de abastecimento de forma ágil e responsiva, já que são instrumentos que permitem prever picos de procura e adaptar a produção e a logística em tempo real, mitigando os impactos de fenómenos virais nas redes sociais.

Lições para as cadeias de abastecimento

As redes sociais podem desencadear disrupções reais — o TikTok transformou uma especialidade local num fenómeno à escala global em semanas.

Agilidade e visibilidade são fundamentais — fabricantes e retalhistas devem ajustar rapidamente as suas estratégias de sourcing, produção e distribuição.

A análise preditiva e a inteligência artificial podem ajudar a antecipar fenómenos virais e a planear melhor os recursos.

A dependência de poucos países produtores torna a cadeia vulnerável — diversificar origens e investir em reservas estratégicas pode ser decisivo.