Um relatório recente publicado pela Comissão Europeia – no âmbito do estudo MOVE-C1-Study-2023-138 – expõe fragilidades estruturais na rede europeia de áreas de estacionamento seguro para veículos pesados (SSPAs). O documento destaca um cenário preocupante: apesar dos investimentos em novas infraestruturas, o desequilíbrio entre a procura e a oferta deverá manter-se até 2040, comprometendo a segurança rodoviária, a atratividade da profissão de motorista e a resiliência da cadeia de abastecimento.
O estudo aponta que 85% dos operadores de transporte reportam incidentes de roubo ou vandalismo quando os veículos estacionam em áreas não seguras. Nas zonas protegidas, esse número desce para 41%, revelando a urgência de reforçar os níveis de segurança. Entre os incidentes mais frequentes destacam-se roubos de combustível, arrombamentos, embarque ilegal de passageiros e assaltos violentos que colocam a integridade física dos condutores em risco.
A distribuição desigual de áreas de estacionamento seguras agrava o problema. Muitas regiões da União Europeia não cumprem os níveis mínimos exigidos, deixando os motoristas sem alternativas seguras para os seus períodos de descanso. A consequência direta é o estacionamento ilegal e inseguro, sobretudo em corredores logísticos de elevada densidade.
A disparidade entre a procura crescente pelo transporte rodoviário e a oferta de infraestruturas adequadas exige uma resposta imediata: modernização de áreas existentes, melhoria dos níveis de certificação de segurança e acesso a financiamento público direcionado.
A falta de condições dignas para descanso afeta diretamente a segurança e saúde dos motoristas. O relatório sublinha que a dificuldade em encontrar espaços seguros contribui para a fadiga e o stress, com impacto na segurança rodoviária. As motoristas do sexo feminino enfrentam desafios adicionais relacionados com higiene e segurança pessoal, o que limita a diversidade no setor.
Estes fatores agravam a escassez de profissionais e dificultam a renovação geracional, ao mesmo tempo que reduzem a atratividade da profissão, num contexto já pressionado pela procura de soluções mais sustentáveis e resilientes.
A transformação digital ainda não chegou à maioria dos parques de estacionamento. O relatório denuncia a ausência de dados em tempo real, plataformas de reservas e conectividade inteligente, que poderiam facilitar a gestão das rotas e reduzir o stress operacional dos motoristas.
Para garantir a segurança dos motoristas e a fluidez da cadeia de abastecimento europeia, o estudo recomenda uma combinação de intervenções de baixo custo (como a melhoria do nível de segurança de Bronze para Prata), apoio público à modernização e iniciativas privadas baseadas em dados e tecnologia.
A mensagem é clara: sem uma resposta coordenada e ambiciosa, a Europa continuará a comprometer a eficiência e a segurança de um dos seus pilares logísticos mais críticos.