Na viragem do Séc. XXI continuamos na época da revolução industrial, impulsionada pela Indústria 4.0 e pela revolução tecnológica em curso. Obviamente também nas profissões irão acontecer alterações, atualizações, modificações e até substituições de paradigmas.
As profissões têm sofrido mutações constantes, embora o acento tónico esteja no binómio rapidez da mudança e velocidade com que expectamos essa mudança.
Olhando para a primeira revolução industrial, onde a máquina a vapor e a invenção de máquinas produtivas, levaram a uma grande adaptação por parte das profissões. Até então, a produção era totalmente realizada de forma manual e muitos dos artesãos tiveram de aprender a lidar com as máquinas, que produziam melhor e mais rápido, para passarem a ser o que agora chamaríamos de técnico de tecelagem. Na realidade, a adaptação foi forçada pela necessidade de desenvolvimento. Estávamos no séc. XVII e esta revolução teve uma duração de cerca de dois séculos.
Na segunda revolução industrial, com o aparecimento da produção em série e a industrialização em massa, devido a fatores como a utilização do petróleo e o aparecimento da luz incandescente, a necessidade de comunicação e a preocupação com as condições das pessoas em ambiente laboral começa a ser uma realidade. Henry Ford cria o primeiro processo de produção em série, provavelmente o maior passo para a industrialização. Nesta época os técnicos passaram a ser engenheiros e os operários técnicos. Esta migração teve uma duração de sensivelmente um século.
A terceira revolução industrial é a da era da tecnologia, da informatização, da globalização e da necessidade de comunicação com contornos inimagináveis. Esta revolução teve uma duração aproximada de meio século. Com a necessidade tecnológica apareceram inúmeras profissões e profissionais que até então não tinham reconhecimento profissional. Começaram a ser cada vez mais frequentes cursos de especialização profissional e verifica-se o crescimento do ensino universitário, como quase uma obrigação imposta pela sociedade.
Atualmente, nesta revolução industrial proporcionada pela Indústria 4.0, será ainda mais rápida que todas as outras. Embora seja provavelmente a mais complicada de adaptação, por vários motivos que identifico:
• A rapidez com que as coisas acontecem, não existem muitos profissionais com experiência para formar e dar condições para que sejam preparados programas de formação adequados às necessidades das industrias;
• A adaptação dos organismos de formação, Estado, universidades, institutos, escolas e as demais entidades formadoras, todos eles só conseguem responder se existir uma aproximação entre eles e a indústria;
• Apesar da grande quantidade de informação produzida, a comunicação continua a ser o maior flagelo das empresas e sociedades. Tanto por falta de estruturação, como por falta de fiabilidade ou mesmo por excesso de ruido. Estas dificuldades na comunicação condicionam o desenvolvimento e a estruturação de novos métodos de pesquisa, do desenvolvimento de novas técnicas de ensino e até das dificuldades em construir mecanismos de diagnóstico de necessidades;
• Cada vez mais todos procuram, o mais rápido possível, atingir o máximo de lucro. Esta fase de transformação condiciona tudo, o risco do investimento, os pioneiros têm de investir e sofrer mais com o desenvolvimento inicial, a estandardização de praticamente todos o procedimentos e processos e, por fim, a inércia ou demora nas autorizações de alterações e introdução de novos métodos de formação e especialização.
Sempre que pensamos no futuro das profissões e dos profissionais, não podemos deixar de pensar que os profissionais de amanhã terão de estar a ser formados agora. Com o formato de ensino que existe, isso será possível? O que está a ser feito para que os cursos e programas sejam ajustados à realidade? Os profissionais que vão dinamizar o trabalho no futuro são os estudantes de hoje, e os professores de hoje foram instruídos no passado; pelo que estão estes a conseguir acompanhar o mercado? Acredito que a grande maioria dos professores está constantemente a estudar e a investir no conhecimento para conseguir acompanhar a evolução mas, mesmo esses, conseguem alterar os cursos? Reformular os programas? Ajustar os conteúdos?
Os licenciados, mestrados e doutorados de hoje não podem ter o mesmo pensamento do passado. No passado existiam duas saídas possíveis: os que conseguiam um lugar em grandes empresas onde iam executar como júniores, parte das coisas que aprenderam na formação de base e a grande maioria não chega a passar de um especialista na área; ao contrário do que é instruído nas universidades e institutos, onde todos chegam a cargos superiores (responsáveis e directores de departamento ou sector).
A outra saída, acho que até a maioria, é para o mercado das PME, onde todos tem de saber como se faz quase tudo, mesmo os que tem especializações em algum momento ou fase terão que realizar outras tarefas e é neste momento que as experiências vão ser o fator diferenciador.
Como se consegue responder às necessidades do mercado ao nível de profissionais no futuro? Só vejo uma hipótese. Serem os próprios empregadores a deslocarem-se às instituições de formação e, em conjunto, reformular cursos e conteúdos. Os empregadores sabem claramente as suas necessidades, o tipo de profissional que precisam, podem dar previsões de carreiras e até aconselhamento.
As profissões, no futuro, não vão deixar de existir, mas antes passar a ter outra configuração. Tal como o artesão passou a ser técnico de tecelagem, agora o engenheiro de informática vai passar a ser o engenheiro especialista de realidade aumentada ou de ciber-comunicação.
No decorrer da minha atividade profissional deparo-me com muitas situações de inconsciência das tarefas profissionais que tem de realizar. Há muitos, mas mesmo muitos profissionais contratados para realizarem funções que não sabem como as fazer. Na minha análise, o que acontece é que as pessoas estudam para uma profissão, não conseguem colocação nessa área, pelo que posteriormente procuram emprego em áreas totalmente diferentes da sua área de estudos, até que aparece uma oportunidade de emprego e lá vão eles, sem experiência, alimentados com a “arrogância” adquirida em anos de ensino, promover o sucesso profissional só porque estudaram!
Infelizmente, a vida profissional não é fácil para ninguém; nem mesmo para quem estuda e é bom aluno, excelente ou até extraordinário. A vida profissional é um conjunto de ações, concertadas com grandes quantidades de qualidades e características, associadas às escolhas e decisões acertadas nas oportunidades de cada um.
Desafio todos os intervenientes, governo, instituições e organismos de ensino, empresários, profissionais atuais e futuros a concertarem-se para que o futuro seja mais promissor e atrativo.
Rui Silva | Consultor | COPLOG – Consultores em Operações de Produção e Logística