Parece que só ontem é que a indústria de RPA (Remotely Piloted Aircraft), ou aparelhos pilotados via remoto, mais conhecidos por drones, que estava a pairar no horizonte, até se começar a perceber o seu imenso potencial. Em 2016, os drones ganharam particular atenção por parte de investidores, que hoje guerreiam em concorrência aberta na corrida desenfreada para encontrar soluções inovadoras num conjunto de aplicações comerciais, até então consideradas ficção científica pura. Sucede que a trilogia da Guerra das Estrelas, desde o mundo da imaginação e fantasia, desceu do Céu até à Terra, e pelos vistos está para ficar.
Num contexto de Globalização crescente, ao Transporte e à Logística tem-se-lhes imposto desafios de toda a ordem, desde a redução das emissões de CO2, a busca por uma fonte combustível mais económica e amiga do ambiente, a pressão da legislação europeia sobre o transporte rodoviário, o constrangimento provocado pela falta de mão-de-obra qualificada, principalmente motoristas, os impactos das alterações na legislação laboral, a pressão constante para a redução de custos operacionais, a diminuição dos stocks de segurança, a pressão pelo cumprimento de um lead-time cada vez mais exigente… enfim, o Supply Chain tem sofrido alterações e pressões constantes, como nunca antes se viu. Ficaremos por aqui? Claro que não. Ainda há mais.
Os Ubertrucks estão aí mais depressa do que se possa imaginar. A maravilha tecnológica que revolucionou o transporte de táxi, está a caminho do sector do transporte e logística. Acauteladas as devidas especificidades operacionais, no futuro, qualquer cliente expedidor vai seleccionar um camião que esteja mais próximo de si, para vir recolher a sua carga, com total controlo e segurança. Falta apenas dotar estas viaturas com balanças capazes de aferir os pesos, nada que a tecnologia não seja capaz de resolver. O resto, a tecnologia e a robotização já inventou. E se ainda não o fez, é uma questão de tempo. E depois?
Depois vêm os drones, agora equiparados aquando do aparecimento dos primeiros computadores, já que para uns o computador era uma ferramenta de trabalho e para outros um divertimento; tal como os drones, hoje. Uns servem-se para tirar fotos profissionais, e outros deliciam-se por simples lazer, desde os miúdos aos graúdos.
Embora o uso de drones na perspectiva do consumidor possa ser o mais visível, no entanto, não podemos esquecer outras aplicações que poderiam ser exclusivamente transformadas por esses aparelhos que prometem revolucionar o mundo dos transportes e da logística. Em pouco tempo o mundo do transporte nunca mais será tal como é. Neste momento, já existem fabricantes de drones, especializados na produção de aparelhos vocacionados para o transporte.
Actualmente a El Roy, empresa Americana especializada na produção de drones para o transporte desenvolve já um conjunto de equipamentos cujas características são de facto espantosas, tais como, capacidade de carga liquida até 225 kgs, alcance de 500 kms, sem necessidade de aeroporto ou aeródromo para proceder à sua descolagem ou aterragem já que o mesmo sobe/desce na vertical… No seu site de internet, a Empresa refere que já produz drones para uso Comercial, Humanitário e até Militar…
Na Rússia, uma outra empresa procedeu ao registo de patente de um drone preparado para o transporte de contentores, imagine-se. Não será difícil antever o impacto desta nova forma de operar contentores num qualquer terminal portuário, bem como o que sucederá aos recursos humanos hoje envolvidos nestas operações, nomeadamente os estivadores. Talvez nesta fase ainda seja um sonho. Talvez. Há 3 anos o sonho de um drone que permitisse o transporte de mercadorias, é hoje uma realidade. E talvez seja o futuro, não tão distante como possamos imaginar.
Existem muitas outras empresas privadas de drones focadas em preencher lacunas no transporte de medicamentos. Entre essas empresas, está a “Zipline”, que estabeleceu uma parceria com o governo do Ruanda para entregar medicamentos, vacinas, e até sangue, em áreas de acesso muito difícil, ou com lacunas em infra-estruturas que impedem o acesso adequado por rodovia. Em Portugal, tivemos no ano passado um novo decreto-lei que passou a regular a actividade com drones, ainda que o legislador se tenha focado essencialmente na actividade de lazer. Nada se sabe quanto à actividade suportada por drones para o transporte. É uma questão de tempo. Não vai demorar para o transporte por drones se transforme numa actividade corrente. Mas, independentemente do tempo necessário até que tal aconteça, dada a atenção e os recursos dedicados ao fabrico de drones para transporte nos últimos anos, e o promissor progresso precoce em vários sectores, parece inevitável que o uso de drones revolucionará a indústria de transportes e logística. Quando? Eis a questão…
Pedro José Almeida | Sócio-gerente | SERVILOGIS® – Consultores