Em 25 de Julho, o Conselho de Ministros anunciou que “foram aprovados os diplomas que estabelecem as bases da concessão do novo Terminal Vasco da Gama e a ampliação do atual Terminal XXI”.
O novo terminal já está projetado: capacidade 3 M TEU, investimento 642 M Euros, concurso internacional, calendário de execução não identificado. No contexto das negociações sobre a concessão da PSA Sines, o Terminal XXI aumentará a capacidade de 2,3 M TEU para 4,1 M TEU, investimento 547 M Euros, calendário de execução não identificado. É só somar: são 7,1 M TEU e 1,2 MM Euros.
Na minha opinião, só numa democracia com deficit de inteligência política a Ministra do Mar convence o primeiro-ministro a anunciar, em campanha eleitoral, investimentos que os operadores privados vão ou poderão vir a fazer no futuro.
A PSA Sines tem como acionistas, a PSA e a Porthub (Panamá, controlada pela MSC), sociedade 50/50. A MSC opera navios no terminal em parceria com a Maersk (Aliança 2M) escalas do serviço China-Norte da Europa com transhipment (t/s) para Canal do Suez, Brasil e Costa Leste EUA. Em 2018, o terminal movimentou em 1,75 M TEU, dos quais 77% são de t/s e 23% hinterland ibérico.
Os restantes serviços da Aliança 2M operam navios em Algeciras e Tânger. Algeciras tem um terminal da APM (Maersk) e outro da HMM (Hyundai), capacidade total oferecida 6,1 M TEU. Um terceiro terminal foi colocado a concurso em 2017 mas os operadores não se interessaram.
Tânger tem 3 terminais em funcionamento: TC1 (APM/Maersk, capacidade 1,3M TEU), TC 2 (Eurogate, 1,3 M TEU), TC4 Tanger Med2 (APM/Maersk, 5,0 M TEU, desde Junho 2019). O TC 4 onde participam a Eurogate e a ContshipItalia, tem abertura prevista para 2020, capacidade 1,5M TEU.
Assim, os portos diretamente concorrentes de Sines no segmento de t/s terão em 2020 oferta total de 15 M TEU.
O operador chinês, tão apreciado pela Ministra do Mar, a COSCO SHIPPING Ports, assinou em dezembro 2018 um acordo de parceria com a PSA para terminais em Singapura. O mesmo operador adquiriu empresas com concessões de terminais em Valência (terminal Noatum, aquisição Junho 2017, detém 51%) e Bilbao (detém 40%). A CSP optou por controlar o risco financeiro, adquirindo na península ibérica terminais já existentes e a necessitar de investimento para crescer.
Perante esta complexidade de relações no mercado de operadores de terminais, faltou ao Governo orientação estratégica e capacidade de negociação com todos os stakeholders. A marca deixada pela Ministra foi um permanente agitpropque que culmina neste comunicado vazio de futuro.
Fernando Grilo, Business Partner | Wide Four Lda.