Os desafios futuros do Retalho irão determinar a necessidade de reavivar os projetos de Colaboração entre Fornecedor e Distribuidor, em contraponto aos aspetos mais confrontacionais e históricos entre os 2 lados.
O tema da COLABORAÇÃO entre o Distribuidor e o Fornecedor não é novo e existem vários estudos e casos de sucesso sobre os benefícios em várias áreas, como por exemplo a redução dos níveis de inventário na cadeia logística, previsões mais corretas pela partilha de dados reais, redução de custos logísticos e mesmo impacto na “pegada” ambiental. Na realidade estes projetos são discutidos desde o início dos anos 90, quando o Retalho consolidou os processos de centralização logística e de gestão e percebeu as oportunidades que poderiam existir no aumento da eficiência e na redução de custos na cadeia de abastecimento, com reflexo no preço final do produto ao Consumidor. No entanto, não foram muitos os distribuidores que implementaram massivamente projetos de Colaboração, pois em primeiro lugar tem de existir a vontade (política) de investir tempo, recursos e esforços para este tipo de projetos.
Um dos maiores desafios da Colaboração, assenta em que muitos dos projetos exigem abordar desafios internos e externos, muitas vezes com objetivos desalinhados e falta de comunicação entre as áreas homologas. Em muitos aspetos ainda está presente alguma desconfiança inerente e histórica entre Distribuidor e Retalhista e também a desigualdade de poderes, que por si só, dificultam os desenvolvimentos de trabalhos conjuntos.
As organizações que promovem a Colaboração entre as partes (como o ECR – Efficient Consumer Response) apresentam várias estratégias em que se destaca:
• Escolha criteriosa de parceiros e projetos: aqueles com maior potencial de ganhos (cost-saving) a curto prazo e projetos que na fase inicial exijam a alocação de poucos recursos;
• Compromissos a longo prazo: as relações devem ser baseadas em colaborações à partida plurianuais para que possam sobreviver aos altos e baixos que irão surgir ao longo do tempo;
• Acordo prévio sobre a partilha de benefícios: acordo inicial e transparente sobre a forma de distribuição dos ganhos obtidos;
• Divulgação interna dos casos de sucesso: mostram que práticas diferentes podem efetivamente gerar benefícios ao longo da cadeia de abastecimento;
• Alinhamento da gestão de topo: o apoio em ambos os lados, desde o início dos projetos e reafirmado ao longo do tempo.
Os vários casos que foram analisados e quantificados por consultoras especializadas, apontam que a Colaboração na cadeia de abastecimento permite uma redução de 4 pontos percentuais nas faltas em loja (out-of-stocks) e uma diminuição de 5% nos custos logísticos (McKinsey, ECR e outros).
O setor do retalho tem presente os inúmeros desafios futuros, em que certamente o Ecommerce terá um impacto preponderante, pelo simples facto de considerar a entrega de artigos de baixo valor acrescentado em reduzidas quantidades e obrigar a elevados custos operativos e de transporte. Claramente, todos estes desafios próximos irão determinar que sejam intensificados e desenvolvidos projetos colaborativos em detrimento das ações e políticas mais confrontacionais.
Face a este enquadramento, coloca-se a questão: qual o primeiro projeto e área a ser abordados para esta nova política de Colaboração? A Supply Chain entre o Fornecedor e o Distribuidor oferece certamente um leque alargado de oportunidades de ganhos conjuntos. Porque não começar com a disponibilidade em conhecer a rede Logística do Fornecedor e a sua capacidade de resposta a curto e médio prazo aos KPI que irão estar presentes no processo de negociação e que culmina no Acordo Geral de Fornecimento?
Para este Acordo que rege a relação entre os 2 lados, estão presentes tópicos como os preços, prazos de pagamento, descontos, linha de produtos e serviços, calendário promocional, formatos de entrega, lead time e periodicidade das entregas e o nível de serviço do Fornecedor. Ao conhecer as características mais gerais da Logística do Fornecedor, o Distribuidor poderá avaliar se este tem condições imediatas em atingir os níveis de eficiência desejados ou segundo um calendário que seja negociado e que possibilite a partir de dado momento, a sustentabilidade dos KPI necessários. Na rede logística do Fornecedor, fazem parte fluxos de mercadoria e informação entre fábricas e seus centros de distribuição, muitas vezes com a intervenção de operadores logísticos, cujo aumento de eficiência irá obrigar à realização de investimentos e alterações de processos, cujo calendário deve ser conhecido e negociado entre as partes.
É certamente uma perspetiva de alinhamento e uma forma de iniciar uma política de COLABORAÇÃO e que irá ter reflexos nos outros projetos comuns e acima de tudo na disponibilidade efetiva e permanente dos produtos em prateleira ao consumidor final.
Manuel José Gomes
Consultoria Logística e distribuição
Artigo muito interessante, na linha dos excelentes textos com que o autor nos tem brindado nas ultimas edições do SCM.