De acordo com os dados mais recentes do Banco Mundial, 2020 verá vários indicadores da actividade global atingirem o seu valor mais baixo das últimas 6 décadas. O comércio global e o consumo de petróleo atingirão quebras históricas este ano, a taxa de desemprego mundial deverá subir para valores que não eram vistos desde 1965, e o número de economias em recessão simultânea deverá ser o maior desde que se iniciaram os registos, em 1870.
Ao mesmo tempo que se fechavam os portos e aeroportos, parando a produção e interrompendo fornecimentos, tal como em crises anteriores o Procurement assumia um papel determinante. Entrando rapidamente em modo de “gestão de crise”, obteve e implementou de imediato soluções, desde o adequado abastecimento de material de proteção individual, às medidas de apoio aos pequenos fornecedores na sua gestão de tesouraria. E é opinião generalizada de muitos responsáveis de compras, a nível global, que esta área de gestão terá um papel ainda mais determinante na recuperação que se avizinha.
Neste preciso momento, as maiores economias do mundo atravessam uma das maiores, senão a sua maior contração económica de sempre. Não obstante, o Procurement já ajudou anteriormente a lidar e a liderar a saída de crises mundiais. De acordo com a informação disponível a nível global, nos 5 anos subsequentes à crise financeira de 2008, não só o retorno acionista (TRS) para as empresas do quartil com melhor nível de Procurement foi em 42% superior ao das empresas do quartil diametralmente oposto como, nos 5 anos pós-crise, as empresas do primeiro quartil em capacidade e qualidade do Procurement também recuperaram, em média, 3 anos mais cedo a performance que possuíam antes da crise financeira mundial, e conseguiram um aumento médio do EBITDA superior ao obtido pelas empresas do quartil mais baixo.
Conseguir liderar uma vez mais a recuperação, implicará repensar todos os aspetos da função Compras: o que faz, como opera e que novas valências deverá ter.
Factores a rever e optimizar no Procurement, transformando a crise em crescimento:
1. Aumentar a capacidade de recuperação e superação (resiliência) da cadeia de abastecimento
a) Gerar transparência na cadeia de abastecimento para além de T1;
b) Assegurar múltiplos fornecedores para itens críticos;
c) Simular cenários prováveis e desenvolver planos de continuidade para cada um desses cenários.
2. Estratégias de base-zero e de criação de valor
a) Repensar profundamente a estratégia das categorias de compra para as quais a dinâmica procura-oferta se tenha alterado significativamente;
b) Reavaliar preço, oferta e oportunidades de afinar especificações, uma a uma.
3. Desenvolver parcerias de fornecimento e inovação conjuntas
a) Explore a parceria com os fornecedores para, em conjunto, inovarem em produtos, serviços e, até, em modelos de negócio;
b) Desenhar e formalizar em conjunto termos contratuais que incentivem a performance.
4. Acelerar a adoção do digital e da análise de dados
a) Acelerar a digitalização dos processos de Procurement, permitindo o trabalho remoto;
b) Apoiar as decisões em base analítica, para gerar vantagem competitiva e contrariar pressões na margem.
5. Evoluir para um modelo pronto para os desafios futuros
a) Adotar métodos ágeis, permitindo às equipas resposta rápida a alterações de objectivos e circunstâncias;
b) Desenvolver as capacidades potenciais que permitam novas formas de trabalho, caso necessário;
c) Manter o rumo, evolução e crescimento e não estagnar em relação à concorrência.
Fontes: Tradingeconomics.com, McKinsey & Co, The World Bank, IFC.
Pedro Vozone, Especialista em Compras e Logística