2040 é o ano “D” para os principais fabricantes automóveis: a Volvo será 100% elétrica em 2030, a General Motors em 2035, a Daimler em 2040, a Volkswagen e a Toyota só assumem esta meta quando uma e outra assinarem o acordo. Por sua vez, a China não elimina as minas de carvão e, pelo contrário, está a construir mais, e esse é o ponto 2 para a Volkswagen não assinar o acordo. A BMW indica ter muita relutância em assinar o acordo porque os países não têm as infraestruturas necessárias ao carregamento deste tipo de viaturas.
A par destas indecisões, os fabricantes têm de manter marcas a fabricar motores de combustão para mercados como África, América do Sul e Médio Oriente, mas o que releva aqui é que os países mais importantes da Europa também dão sinais de acompanharem esta meta no sentido de pararem a construção e a comercialização de veículos novos com motores de combustão.
Como sabemos, os carros não irão desaparecer e uma das formas de garante da continuidade da mobilidade é o recurso ao Lítio ou, com mais pormenor, o Hidróxido de Lítio, componente-chave para o fabrico de baterias que tem de ser extraído do Lítio que, por sua vez, está debaixo de terra e, como tal, será necessário destruir, no sentido literal da palavra, serras e montanhas para o extrair.
Tendo isto em conta, as sociedades europeias não parecem reagir de igual forma quanto ao desaparecimento de aldeias inteiras para fazer mais uma bateria e assim presenciamos o aparecimento de países que passaram a ser, nem que seja por decreto, os maiores fornecedores de Lítio na Europa.
Portugal é, desde há muitos anos, consumidor e exportador de Lítio para a indústria vidreira. Contudo, as transações são tão residuais que não aparecem no radar. Quando a mobilidade verde obriga ao aparecimento de novas soluções, é inevitável a colocação de uma flag nas reservas de Lítio em Portugal.
Segundo o Relatório Português de Competitividade de 2020, a nível global, 65% do lítio foi usado em baterias, 18% na cerâmica e vidros, 5% em lubrificantes, 3% na indústria metalúrgica/siderúrgica, 3% em polímeros, 1% em purificação de gases e do ar e 1% noutros usos.
Portugal tem, em teoria, nove regiões com potencial de exploração: Serra de Arga, Barroso, Seixoso, Almendra, Barca de Alva-Escalhão, Massueime, Guarda, Argemela e Segura, e era o país da Europa com as maiores reservas de Lítio. Digo ERA porque a Europa está a trabalhar arduamente para que a Ucrânia não perca a autonomia e a importância geoestratégica que permite aos europeus conter os interesses russos. Então, foi criada a expectativa, não se sabe bem por quem, de que a Ucrânia teria as maiores reservas de Lítio a serem descobertas na Europa.
Este movimento é fantástico de se ver, porque a Europa quer fazer da Ucrânia a “uzina” do continente, uma vez que ainda no mês passado foi deliberado que a Europa iria investir na criação de energia verde na Ucrânia, como consequência da guerra aberta do NS2 com a Rússia (vide artigo Faz tanto frio na Alemanha).
Não tenho ilusões quanto à necessidade de lítio para o futuro que a humanidade está a criar, com o pretexto de sermos mais verdes. Também não tenho ilusões quanto aos componentes naturais necessários para fabricar uma bateria de lítio, mas espero que os líderes europeus não pensem que reindustrializar a Europa seja transformar a Europa numa gigantesca mina de exploração de lítio a céu aberto.
A Europa é, neste momento, o único continente onde não é extraído Lítio em massa, tal como acontece nos restantes continentes, em especial na América do Sul, Ásia e um pais continental como a Austrália. Assim, nesta expectativa europeia, de que Portugal afinal já não será “o Pais” com as maiores reservas de lítio, mas antes a Ucrânia, Portugal perdeu o balanço e a ‘pole position’ das reservas de lítio na Europa.
Resta-nos ficar com as montanhas, serras e vales verdejantes.
Henrique Germano Cardador, Corporate Strategy Analyst Europe & Africa