Com quatro paredes, um teto e uma porta de garagem, assim se faz um armazém. Este poderia ser um refrão para um fado da Amália ou até uma rima para uma canção dos Xutos e Pontapés , mas na realidade é o que a indústria de construção logística fez durante anos em Portugal.
Dotou o país de um conjunto obsoleto de infra-estruturas de má qualidade, hoje muitas delas, para não dizer a maioria, abandonadas e parqueadas em fundos de investimento sem saberem muito bem o seu futuro. Nem tudo tem sido assim tão mau, porque as empresas felizmente também têm vindo a fazer o seu caminho e, melhor ou pior, têm vindo a investir em infra-estruturas de qualidade superior, pelo menos do ponto de vista construtivo.
Mas o legado não deixa de ser preocupante, sobretudo num país onde hoje praticamente não existem instalações de qualidade para arrendar ou comprar. O cenário é então desolador se estendermos esta realidade a infra-estruturas de temperatura controlada. Portugal não tem uma rede organizada de armazéns desta qualificação, não tem uma industria de Real Estate logístico que se saiba com um plano organizado nem a curto nem a médio prazo para combater esta lacuna e mais não resta a quem está neste negócio que não seja o de investir.
Esta realidade trás inúmeras dificuldades à industria, não trás nenhum efeito de potenciação de inovação – salvo raríssimas excepções – e põe Portugal um pouco na cauda da Europa – pelo menos com aquela com quem queremos e podemos competir.
Já lá vai o tempo do mote que deu origem a este artigo de opinião.
Centros logísticos hoje são e terão que ser infra-estruturas de qualidade, cujo layout tenha a capacidade de se poder adaptar à realidade logística de hoje, onde a introdução de automação e robotização sejam factores diferenciadores, que por um lado facilitem o trabalho dentro dos centros mas que também tragam mais-valias produtivas , maior interesse a quem neles trabalha , sem se sentirem meros actores de trabalho indiferenciado , podendo também com esta diferenciação dar mais conhecimento e competências às pessoas, que neste sector que por vezes não são mais do que “pallet pushers“ com pouco valor acrescentado. A introdução de ferramentas de trabalho com mais competências técnicas, tecnologias de informação, serão sem dúvida também um meio de retenção de recursos humanos. A automação e a robotização não têm que ser vistos como redutores de postos de trabalho, pelo contrário poderão e deverão trazer mais-valias comportamentais e de competências acrescidas às pessoas.
Todos – Empresas, Gestores, Real Estate – temos a obrigação de pensar num Portugal logístico de outra dimensão e competência. Se o não fizermos corremos o risco de ver a nossa competitividade ser posta em causa e numa realidade em que os salários também deverão e irão seguramente crescer, o cenário da mão-de-obra barata só por si não nos vai levar a lado nenhum. Continuaremos a ter uma indústria pouco desenvolvida, pouco criadora de emprego especializado sobretudo na base da pirâmide, obsoleta de infra-estruturas e esta combinação noutras indústrias todos nós sabemos onde nos levou.
Carlos Mendonça, Managing Director/Gerente | HAVI Portugal