Os produtores de leite estão a ter margens de lucro cada vez mais baixas entre os preços de custo e de venda, devido aos preços praticados pelos hipermercados. A Associação Nacional dos Industriais de Laticínios (ANIL) culpa a grande distribuição de utilizar o leite como “isco” para atrair clientes, praticando preços muito baixos no leite e aumentando as margens de lucro noutros produtos. “O consumidor vai no engodo”, faz notar a associação em comunicado oficial.
“Como é que é possível pagarmos o leite a quase 36 cêntimos/litro, termos 10 cêntimos no cartão e haver leite nos hipermercados a 50 cêntimos?”, comenta ao Jornal de Notícias (JN) Maria Cândida Marramaque, diretora-geral da ANIL. A fonte também nota que enquanto nos hipermercados portugueses o leite UHT meio gordo estava a 50 cêntimos, em Espanha o mesmo produto estava a 67 cêntimos.
A indústria dos laticínios já faz notar este problema há muito tempo, tendo os custos de produção aumentado em mais dois cêntimos entre dezembro e janeiro, e com os constantes aumentos na eletricidade, combustíveis e matérias-primas, as margens são alarmantes para as empresas, podendo mesmo levar “à ruína de muitas empresas”, alerta a responsável também ao JN.
“A curto prazo levará ou à falência de muitas empresas, com as evidentes consequências sociais para os seus trabalhadores e com real impacto no abastecimento de laticínios nacionais ao mercado; ou ao retrocesso dos aumentos do preço do leite já realizado aos produtores, com consequências obviamente nefastas ao nível da produção de leite e à sobrevivência dos próprios produtores”, afirma a ANIL no mesmo comunicado.
A diretora-geral recusa a intervenção direta do Estado, mas aponta para a fiscalização, comentando que os mecanismos “já existem”, mas que falta agora fazer com que sejam cumpridos, estancar a inflação e ajudar a indústria da mesma maneira que apoiam outros setores afetados. “Porque é que, com a subida dos combustíveis há ajudas para transportadoras e táxis e não há para a indústria?”, exemplifica ao JN.
A ANIL defende que as cadeias de distribuição devem considerar “a absoluta necessidade de subida de preços”, e que “não modificar de imediato esta política de desvalorização dos produtos lácteos, deixará a indústria de laticínios nacional sem capacidade de fazer face aos seus compromissos de abastecimento do mercado nacional”.
“No continente e desde outubro de 2021, foram feitos aumentos de preço de aquisição de leite aos produtores, que totalizam já 9,5cts por litro, o que representa um aumento superior a 30%”, pode ainda ler-se no comunicado.