A guerra entre a Rússia e a Ucrânia continua a ter repercussões, e embora a UE esteja a reforçar as sanções aplicadas à Rússia, ainda não incluiu um embargo ao gás deste país. A necessidade energética europeia ainda se encontra dependente desta fonte, mas os esforços por encontrar alternativas rápidas intensificam-se.
Foram pausados vários projetos, como é o caso do recém-terminado Nord Stream 2, que juntamente com o seu primeiro homónimo, ligava a Rússia à Alemanha, sendo uma fonte direta de gás para o centro da Europa.
Como alternativa ao fornecimento russo, encontram-se em cima da mesa planos para terminais de gás natural liquefeito (GNL) no norte da Alemanha, Finlândia e França, bem como novas rotas através de Portugal e Espanha e do Mediterrâneo oriental. Os esforços europeus são cada vez maiores para terminar com a grande dependência russa, mesmo que essas soluções demorem anos a ser implementadas.
Em Portugal, o Porto de Sines planeia duplicar a capacidade do seu terminal de gás em menos de dois anos e assumir-se como uma porta de entrada de gás para a Europa, através de Espanha, sendo que até o país vizinho poderia ser uma alternativa viável por se encontrar conectada por um gasoduto à Argélia, no entanto o acesso a França ainda permanece uma barreira ao fornecimento de gás para a Europa.
A norte da Europa, a construção de um projeto de gasoduto, que levaria gás da Noruega para a Polónia através da Dinamarca, esteve suspensa durante muito tempo, e foi retomada após a invasão da Ucrânia. Os trabalhos já foram recuperados em Middelfart, na ilha dinamarquesa de Fiona, um interesse também para este país, pois passará a ser também ele abastecido pelo gasoduto.
Este projeto foi desenvolvido há quase 20 anos, começou a funcionar em 2018 e com a retoma urgente da sua construção, após uma suspensão de nove meses, deverá ficar concluído em outubro deste ano, começando a operar no primeiro dia de 2023. “Temos uma cooperação muito boa com todos os empreiteiros para acelerar, para fazer tudo o que pudermos para cumprir o horário”, aponta Juul Larsen, chefe do projeto no operador dinamarquês de infraestruturas energéticas Energinet, à AFP Søren. A retoma da licença envolvendo os impactos ambientais desta construção também teve de ser acelerada.
Após a sua conclusão, este gasoduto terá uma capacidade anual de transporte de 10 mil milhões de metros cúbicos de gás, metade do consumo da Polónia. Com este projeto em mente, há três anos a Polónia tinha anunciado que em 2022 rescindiria o contrato com a russa Gazprom.
No entanto, Zongqiang Luo, analista na empresa Rystad, aponta que “este projeto deverá ajudar a Polónia, mas poderá levar a uma diminuição das exportações de gás norueguês para o Reino Unido e Alemanha. O mesmo comenta que embora ainda existam diversos contratos a longo prazo entre a Rússia e fornecedores europeus, estabelecidos entre os próximos 10 e 15 anos, é possível prescindir completamente do gás russo “muito antes de 2030”.
A Noruega também está a fazer os possíveis para abastecer a Europa, no entanto não consegue abastecê-la na totalidade. Alternativas mais longínquas como GNL transportado por navio dos EUA, Qatar e África implicam a construção de grandes terminais, ou a compra de unidades flutuantes de armazenamento e regaseificação.
Em alternativa ao já referido Nord Stream 2, a Alemanha relançou três projetos urgentes de instalação de terminais de GNL, que até agora tinham sido considerados de baixa prioridade, um para estar pronto entre 2023 e 2024, e os outros apenas depois de 2026.
A Finlândia, juntamente com a Estónia, anunciou ainda um projeto de aluguer de um navio terminal de importação como alternativa ao gás russo.
Existe ainda em cima da mesa a opção alternativa de ligar o gás do Mediterrâneo oriental à Europa, descoberto em massa ao longo dos últimos 20 anos ao largo de Israel e Chipre.