Os metais ucranianos estão a ser substituídos no setor da construção por produções da Índia e da Coreia. Facto que se justifica, em consequência da guerra na Ucrânia, pela escassez de produtos, a escalada de preços e o longo tempo de resposta dos produtores. 

José de Matos, presidente da Associação Portuguesa dos Comerciantes de Materiais de Construção (APCMC), em declarações ao Dinheiro Vivo, explica que “muitos dos produtos em chapa vinham da Ucrânia, mas desde que começou a guerra vêm sobretudo da Índia e da Coreia”.

Manuel Reis Campos, líder da Associação dos Industriais da Construção Civil e Obras Públicas (AICCOPN), relata também a existência de “disrupções associadas a fornecimentos que vinham da Ucrânia, que obrigaram os agentes económicos a encontrar circuitos alternativos de abastecimento”, como o Egito, Índia e China. O líder refere ainda que “têm ocorrido dificuldades pontuais nos mais variados tipos de materiais, incluindo o aço e os derivados, devido aos constrangimentos nas cadeias globais de produção e logística”, a que acrescem as “oscilações diárias de preços, a escassez de produtos ou prazos de fornecimento anormalmente longos”, reconhecendo que “todas as estruturas de betão armado, estruturas metálicas e obras como as barragens e as ferrovias necessitam de grandes volumes desta matéria-prima”.

Aumento do custo da energia impacta preço dos produtos

Em causa estão agora a execução de grandes empreitadas públicas e também privadas, num momento em que ainda falta finalizar o PT2020 e lançar as obras do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR). José de Matos refere que é provável que exista uma “interrupção da produção por algumas siderurgias na Europa, nomeadamente em Portugal e Espanha, por causa do comportamento divergente entre a evolução dos preços do aço e os custos da energia”.

Vale a pena lembrar que a antiga Siderurgia Nacional, agora Megasa, suspendeu no início de setembro, depois de uma paragem em março, a produção no período noturno, dado os elevados preços da eletricidade e do gás natural. Para já, as paragens nas obras têm sido pontuais “as empresas têm conseguido ultrapassar as dificuldades, quer relacionadas com interrupções de fornecimento ou prazos de entrega demasiado longos, quer relacionadas com a anómala subida de preços”, declara Reis Campos.

Segundo José de Matos “a situação é perfeitamente normal”, já que não existem indícios de escassez de aço nem de derivados e que os principais armazenistas também não comunicam roturas de stock, garantindo que “existem muitos pequenos problemas de atrasos nas entregas desta ou daquela referência por parte dos diversos fabricantes, sobretudo devido a alterações nos planos de produção para minorar efeitos dos custos com a energia, ou devido a atrasos na chegada de equipamentos ou componentes importados, principalmente da China”. No entanto, acredita que por os preços estarem em queda devido à diminuição da procura global e com os stocks a acumularem-se que podem vir a surgir problemas como, por exemplo, os empreiteiros deixarem as encomendas para o último dia de modo a beneficiarem de preços mais baixos acabando por causar constrangimentos nos fornecimentos ou, pior, a paragem das siderurgias.

O Dinheiro Vivo diz ainda que Reis Campos acredita que as principais dificuldades “estão relacionadas com o preço e os tempos de entrega que prejudicam todo o processo construtivo e a conclusão das obras”, representando encargos muito significativos, “com reflexos importantes na tesouraria das empresas”.