As compras online continuam a crescer rapidamente e oferecem hoje a possibilidade aos clientes de receber na morada desejada praticamente qualquer tipo de artigo, a qualquer hora, com diversos benefícios como, por exemplo, evitar deslocar-se.
As lojas online estão sempre abertas através dos nossos smartphones e a experiência de compra é fácil, rápida e intuitiva. Por outro lado, todos os benefícios para o cliente trazem diferentes desafios no que toca a alcançar uma logística otimizada, eficiente e acima de tudo sustentável.
São vários os efeitos negativos do ponto de vista das dimensões ambientais, sociais e de sustentabilidade da logística de última milha: emissões de gases de efeito estufa (por exemplo, CO₂ e outros), congestionamento, acidentes, ruído, consequências diretas na saúde humana e na qualidade de vida urbana, entre outros.
O Fórum Económico Mundial prevê que as emissões urbanas ligadas às entregas de última milha aumentem globalmente em 30% até 2030 nas 100 principais cidades mundiais. As emissões podem chegar a 25 milhões de toneladas de CO2 anualmente até 2030 (atualmente estima-se que sejam perto de 8 milhões de toneladas), e espera-se que o congestionamento do tráfego aumente em mais de 21%, o que significa um aumento médio de 11 minutos nas deslocações diárias de cada cidadão.
A logística de última milha está a tornar-se um dos segmentos mais caros e complexos da supply chain e estima-se que represente hoje cerca de 50% das emissões totais na supply chain de um produto, com uma média global de 204 gCO2 por encomenda. Com o crescimento da procura, ter uma operação sustentável hoje é um requisito fundamental e, por iss, aqui fica uma proposta de 3 métricas que podem ajudar a melhorar a sustentabilidade na última milha:
- CO2 por encomenda
Calcular o CO2 por encomenda não é uma tarefa fácil: a proposta que faço é um modo simples e não contempla diversas variáveis (como por exemplo, o peso da encomenda). Considerem-na um primeiro passo para quem ainda não tem esta métrica implementada. A primeira coisa a fazer é identificar o meio de transporte utilizado para depois calcular seja a distância percorrida, seja a eficiência energética do veículo (ou seja, quanto CO2 é emitido pelo veículo na totalidade dos km’s percorridos). Depois, basta dividir este valor pelo número de encomendas entregues e o valor final (normalmente em gr por encomenda) representa quanto CO2 por encomenda é emitido na vossa operação. Medindo semanalmente este valor, por exemplo, pode levar-nos a tomar decisões de substituição de frota, optimização de entregas, entre outros.
- Sucesso na primeira tentativa de entrega
Esta é uma métrica simples (normalmente expressa em percentagem) e que é já presente na maioria das operações de última milha. A diferença aqui é que estamos a medir não só o sucesso da entrega no dia previsto, mas também a capacidade de entregar a encomenda na primeira tentativa como forma de poupar combustível/tempo. A métrica será calculada com a totalidade de encomendas entregues na primeira tentativa a dividir pela totalidade das encomendas em fase de entrega. O aumento do sucesso de entregas na primeira tentativa, aumenta a possibilidade de aumentar o número de entregas feitas por rota (obviamente poupa combustível) e, consequentemente, melhorar a produtividade e a sustentabilidade.
- Reclamações e incidentes com a comunidade
Esta é talvez a métrica mais difícil de implementar mas essencial para medir o impacto das nossas operações nas comunidades que servimos, cada vez mais atentas a questões ambientais e de bem-estar. O seu objetivo não é medir a satisfação dos nossos clientes (para isso existem já métricas tradicionais), mas sim o impacto que provocamos na vida dos cidadãos que vivem nas nossas zonas de atividade. Uma forma de medi-la pode passar por recolher informação sobre reclamações feitas pela comunidade servida pela nossa operação (que podem chegar por telefone ou e-mail, por exemplo) bem como eventuais incidentes (estradais e outros, multas de trânsito, entre outros) e dividi-los pela totalidade de encomendas entregues. Este tipo de métrica pode ajudar-nos a perceber qual é o sentimento da comunidade que servimos em relação à nossa empresa e tomar medidas para aumentar a profissionalização dos nossos motoristas ou, por exemplo, mudar determinados horários de entregas.
Tiago Abreu | Delivery Station Manager l Amazon