De acordo com o mais recente estudo do Research Institute da Capgemini, “The automotive supply chain: Pursuing long-term resilience”, o nível de confiança dos construtores automóveis face a eventuais interrupções na cadeia de abastecimento que possam ocorrer no futuro aumentou, e 60% dos casos afirmam que conseguiriam reduzir em mais de metade das perdas, caso as disrupções de 2022 se repetissem hoje.

As cadeias de abastecimento do setor automóvel estão a passar por uma reformulação, desde as recentes interrupções sentidas. Os abastecimentos offshore reduziram em 22% nos últimos dois anos, sendo que a Europa lidera esta tendência, com uma redução de 25% do abastecimento offshore desde 2021. Por sua vez, os EUA e as regiões da APAC reduziram em 18 e 20%, respetivamente. Segundo o estudo, espera-se que este abastecimento diminua ainda mais 19% até 2025, sobretudo à medida que a produção de veículos elétricos aumenta e a produção de componentes eletrónicos essenciais se desloca para outras geografias.

Semicondutores alertaram para o nearshoring
Uma das razões para a interrupção das cadeias de abastecimento do setor automóvel foi a falta de semicondutores. Por vários pontos da Europa surgiram avanços para a produção destes componentes, que cada vez mais se tornam necessários, e especialmente no setor automóvel, devido ao avanço dos BEV (Battery Electric Vehicles). Deste modo, as empresas promovem o nearshoring e minimizam os riscos e os lead times.

Apenas metade dos fabricantes consideram que o fornecimento atual dos componentes dos semicondutores é seguro. 70% dos inquiridos afirmaram que o grosso do abastecimento atual provém da China, de Taiwan, do Japão e da Coreia. De modo a reforçarem o nível de segurança das supply chains e a afastarem-se dos fornecedores de tier 1 e 2.

Partilha de informação é crucial
Embora a confiança dos fabricantes face às disrupções tenha aumentado, em parte devido a terem reduzido em 61% os pedidos em atraso (prevendo-se uma redução adicional de 39% para o próximo ano), o estudo destaca que os níveis de confiança entre os fornecedores e os fabricantes diminuíram, o que previne a partilha de informação entre as partes. 71% dos inquiridos aponta esta falta de partilha devido à confiança entre as partes, e apenas 45% dos fornecedores entrevistados acreditam que os fabricantes os consideram parceiros iguais.

Cerca de metade (53%) das empresas que responderam ao estudo possuem cadeias de abastecimento inteligentes e maduras, que lhes permitem tomar decisões baseadas em dados e que integram as tecnologias mais recentes, como IA e análise de dados. No entanto, o estudo também destaca que para poderem alcançar os seus objetivos em matéria de resiliência e longevidade, os players do setor automóvel precisam cada vez mais de colaborar em ecossistemas de dados padronizados, abertos, fiáveis e onde podem incluir novos fornecedores de serviço de software.

Stocks não são viáveis a longo prazo
O estudo nota que os fabricantes contam com um stock de matérias-primas de baterias para veículos elétricos para um máximo de três anos. Depois do impacto dos semicondutores, houve um investimento nos stocks ao invés de no método JIT (Just In Time), muito utilizado pela indústria automóvel. O estudo nota que 81% dos fornecedores e 44% dos fabricantes acumularam stocks como forma de combater futuros problemas semelhantes, mas destaca que esta estratégia não é sustentável a longo prazo, devido aos custos adicionais que o excesso de stocks pode ter para a economia das empresas.

Sustentabilidade passou para segundo plano
Outra área de destaque do estudo foi a sustentabilidade. Devido às diversas crises pelas quais o setor passou, notou-se uma regressão da prioridade que os fabricantes tinham para com a sustentabilidade, que ficou em segundo plano. Segundo o estudo, apenas 37% dos players inquiridos têm em conta a gestão da pegada de carbono e os riscos ambientais nas suas decisões relativamente à supply chain. Ao nível da aposta na sustentabilidade, os construtores mantiveram o seu investimento anual, enquanto os fornecedores reduziram-no em 17%.

O desafio agora é que as empresas do setor equilibrem a sustentabilidade e a economia circular com o custo e a acessibilidade, o que, segundo o estudo, poderá ser auxiliado por soluções digitais.

Por parte da Capgemini, Alexandre Audoin, Global Head of Automotive Industry, nota que “para fazerem face às múltiplas convulsões que se registaram nos últimos anos, os operadores do setor automóvel foram forçados a reestruturar e refinanciar rapidamente as suas cadeias de abastecimento. Com esta situação ultrapassada, é chegado o momento de se focarem mais numa estratégia de longo prazo, para dotarem as suas cadeias de abastecimento de mais inteligência e aumentarem a tomada de decisões baseadas em dados. Desta forma poderão tornar os seus negócios mais robustos e ter mais vantagens competitivas. A circularidade deve também tornar-se numa prioridade, já que os operadores deste setor têm não só que responder às alterações regulamentares, mas também precisam de facilitar a integração de novos intervenientes nos seus ecossistemas de abastecimento que lhes permitiam alcançar as suas ambiciosas metas de combate às alterações climáticas”.

O estudo foi realizado junto de 1.004 gestores seniores em 10 países, pertencentes às principais empresas do setor automóvel a nível mundial, durante os meses de junho e julho de 2023. Ao nível dos fabricantes, foram inquiridos 449 OEM, com receitas anuais superiores a mil milhões de dólares, e fornecedores do setor automóvel com receitas anuais superiores a 500 milhões de dólares. Os inquiridos detinham cargos de direção ou superiores. Foram ainda realizadas 24 entrevistas de aprofundamento junto de gestores seniores da indústria e de especialistas quer dos OEMs, quer dos fornecedores, com o objetivo de compreender o estado atual da gestão da cadeia de abastecimento na indústria automóvel e disponibilizar informação sobre as estratégias que podem ser aplicadas para criar uma cadeia de abastecimento resiliente, conectada, inteligente e sustentável.

Poderá aceder ao estudo através do seguinte LINK.