Portugal viu um aumento significativo nas importações de calçado no ano passado, com a China a emergir como o segundo principal fornecedor do país, de acordo com o World Footwear Yearbook, uma publicação estatística da Associação Portuguesa dos Industriais de Calçado, Componentes, Artigos de Pele e Seus Sucedâneos (APICCAPS).
As importações de calçado em Portugal cresceram 20% em volume e mais de 30% em valor em 2022, totalizando 54 milhões de pares de sapatos comprados do exterior, no valor de 704 milhões de euros. Espanha continua a ser o maior mercado de origem, fornecendo quase metade dos sapatos importados por Portugal. No entanto, a China demonstrou um notável aumento, passando da quinta posição em 2021 para o segundo lugar em 2022. Esta detém agora uma participação de mercado de 36% em termos de volume, representando cerca de 16 milhões de pares importados, e uma participação de 14% em valor, correspondendo a aproximadamente 80 milhões de euros.
Assim, nos últimos cinco anos, a China foi o país que mais cresceu nas exportações de calçado para Portugal, com um aumento acumulado de 24 milhões de euros, equivalente a um aumento de 41%. Esse crescimento também é impulsionado pelo facto de a China ser maior produtor mundial de calçado, fabricando mais de 13 mil milhões de pares em 2022, o que equivale a quase 55% da produção global.
Segundo o Dinheiro Vivo, Paulo Gonçalves, diretor de comunicação da APICCAPS, afirmou que Portugal, ao contrário de muitos países europeus, continua a exportar principalmente o calçado que produz, enquanto outros países atuam como “centros de reexportação”. Por exemplo, Espanha produziu 83 milhões de pares de sapatos em 2022, mas importou 328 milhões de pares, incluindo 197 milhões da China e 37 milhões do Vietname. A Bélgica, que não possui indústria de calçados, exportou 307 milhões de pares, com mais de 70% originários do Vietname, China e Indonésia. A Alemanha, que produziu apenas 58 milhões de pares, importou 793 milhões de pares, a maioria dos quais da Ásia.
O preço médio de importação de calçado para Portugal em 2022 foi de 13 euros, em comparação com os 26,4 euros do calçado fabricado em Portugal exportado para outros países. Em 2023, a tendência de aumento nas importações de calçados continua, com Portugal importando 31 milhões de pares no valor de quase 420 milhões de euros nos primeiros sete meses do ano. Isso representa um aumento de 2,3% em quantidade e 12,9% em valor em comparação com o mesmo período do ano anterior. As importações da Espanha aumentaram 4% em quantidade e quase 21% em valor, enquanto as importações da China tiveram um aumento de quase 7% em volume, mas uma queda de 11,4% em valor. O preço médio do calçado importado da Espanha foi de 14 euros, enquanto o da China não ultrapassou os 4 euros.
A APICCAPS aponta que esses números também refletem o menor poder de compra dos portugueses, que estão cada vez mais a comprar produtos baratos. Paulo Gonçalves atribui parte desse aumento no consumo à presença crescente de imigrantes em Portugal, que atualmente somam quase 800 mil pessoas: “Isto é a antítese do que defendemos. Ainda recentemente colocámos nas redes sociais um vídeo promocional sob o lema All you need is less e com o qual procurámos ensinar as pessoas a cuidarem do calçado para que ele dure mais. A verdade é que há excesso de produção e de consumo a nível mundial. Não é sustentável. Todos nós devíamos comprar menos e sermos mais responsáveis nas nossas escolhas, preferindo produtos de maior qualidade e que perdurem no tempo”.