Ler é uma viagem, mas a viagem do livro começa muito antes da do leitor. A logística é a personagem principal desta história e a responsável pelo dito ‘final feliz’: chegar às mãos do leitor. Pedro Veiga, gerente, diretor financeiro, informática e de logística da Penguin Random House Grupo Editorial mostrou à Supply Chain Magazine os cantos e recantos do seu centro logístico, localizado na Vialonga, que armazena cerca de 4 milhões de livros. É lá que a magia acontece.
A divisão portuguesa da Penguin Random House Grupo Editorial, que faz parte do grupo internacional Penguin Random House que, por sua vez, integra o grupo alemão Bertelsmann, está em Portugal desde 2014 e, desde então, tem vindo a adquirir várias chancelas editoriais, totalizando 22 atualmente. Publica e distribui para o mercado nacional, incluindo ilhas, um catálogo de 6.000 títulos, de géneros literários diversos.
No entanto, antes de os livros chegarem às mãos dos leitores, há todo um processo logístico a cargo da Penguin Random House Grupo Editorial, do qual só está excluída a componente de impressão. É no centro logístico de Vialonga que são rececionados os livros que vêm das gráficas e armazenados até serem expedidos a nível nacional para pequenas e grandes superfícies de retalho (sendo o maior cliente a SONAE), livrarias, além da vertente B2C, diretamente para o consumidor final.
O centro logístico, de 8.000 metros quadrados de área e 10 metros e meio de altura, armazena cerca de 4 milhões e meio de livros. “Quando comecei esta operação tínhamos um armazém de 400 metros quadrados, com 2 metros e meio de altura, e era tudo trabalhado à mão. Fomos crescendo e agora temos uma logística a sério”, revela Pedro Veiga, com alguma nostalgia. “Nunca tivemos tanta altura, nunca tivemos tanto espaço”.
Uma das áreas do centro logístico destina-se, então, à preparação do abastecimento. Os operadores vão buscar os livros requisitados pelo cliente e, seguidamente, fazem o picking do código de barras para o sistema indicar a que loja se destina e a quantidade de livros que deve conter cada caixa. À medida que o operador vai abastecendo, o sistema dá baixa da encomenda. Cada caixa corresponde a uma encomenda que é deixada nos postos de embalamento, colocadas em paletes e, no final do dia, são levadas para os portões de saída, prontas para expedição. A recolha é feita uma vez por dia pelos vários transportadores que têm parceria com a editora, nomeadamente a VASP, Correos, DHL e CTT, que efetua as entregas do e-commerce.
“Na logística há sempre a necessidade de otimizar, e nós já estávamos a trabalhar com o mesmo processo há vários anos. Agora sentimos a necessidade de mudar porque já não estava a ir até onde nós queremos. Vamos sempre tentar otimizar para conseguir rentabilizar as pessoas” – Pedro Veiga
Para a operação, a editora tem um software específico de armazém, e um ERP de faturação que estão agora a mudar para um mais “robusto”. O ERP está conectado com um sistema específico de logística de armazém, de picking e embalamento. “Neste momento estamos a alterar, precisamente, a componente tecnológica porque, atualmente, a logística sem a parte informática já não funcionaria”, assume, acrescentando ainda que “quando comecei, trabalhávamos muito em papel, mas hoje, sem um tablet, sem um PDA, sem um computador, não se consegue fazer nada”.
Sazonalidade rege o mercado do livro
Em Portugal publicam-se 20 livros diariamente e, segundo o responsável, a dificuldade reside em saber que apenas um desses 20, terá sucesso. “O espaço de prateleira é curto, e os livros só lá podem estar se venderem”. A representar 40% das vendas de livros no nosso país, está o Modelo/Continente. “O que o Modelo/Continente faz é vender espaço em prateleira, e aquele espaço vale ouro. Se está lá um produto que não lhes rende porque não tem rotação, sai e entra outro”, explica. O preço do livro está relacionado com dois fatores: a tradução e a expectativa de compra.
Em média, um livro em Portugal não vende mais de 700 exemplares e, num ano, o máximo que deverá vender-se são 30 mil exemplares. Portugal não é um país que tenha hábitos de leitura enraizados como outros países da Europa. Segundo Pedro Veiga, o motivo prende-se com o facto de o mercado nacional ser sazonal. No caso da editora, os picos de compra registam-se no período do Natal, no Dia da Mãe, na Páscoa e nos meses de verão, que coincidem com as férias dos portugueses. “Metade dos livros que se vendem em Portugal são para oferta, e esse é o motivo da sazonalidade”, refere.
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Foto: Isabel Dantas dos Reis