No dia 14 de março, o Museu do Oriente recebeu o 2º Seminário de Logística de Frio, organizado pela Associação Portuguesa de Logística (APLOG), onde as temperaturas controladas foram o tema do dia. Foi neste local, que outrora também fora um armazém de frio para o armazenamento de bacalhau, que cerca de 160 profissionais do setor se reuniram para debater temas como a rastreabilidade, controlo de temperaturas, melhores práticas para o setor, ou mesmo as maiores dificuldades de cada interveniente da cadeia.
Ao longo do dia, o envolvimento das várias partes da cadeia permitiu que estes compreendessem as dores dos seus parceiros, e que através deste entendimento procurassem uma solução conjunta para estes problemas.
A abertura foi feita por Raul Magalhães, presidente da APLOG, fechando assim o seu último seminário nesta função. Começou por destacar a importância destes momentos de debate para o setor da logística de frio, devido à sua complexidade, por se tratar de uma área altamente regulada e controlada, por poder colocar em causa a saúde pública.
O evento começou com o tema “Da Produção ao Retalho – Qual a importância do frio nas diferentes cadeias de valor”, contando com vários intervenientes da cadeia. Pedro Lopes, da Unilever, André Fradinho, da Aldi, Jorge Rato, do Grupo Frip, e Fernando Câmara, do Recheio, foram os responsáveis por dar início ao dia de debates, sob a moderação de Eunice Silva.
Entre os principais temas debatidos na sessão, estiveram os cuidados com os produtos e com as operações, muito associado ao transporte, conservação e exposição dos produtos, a agilidade das operações, soluções utilizadas para evitar perdas de energia, certificação e rastreabilidade. Foram também partilhados alguns casos de sucesso internacionais, com possibilidade de serem aplicados nas operações portuguesas.
Num segundo momento de debates, Hugo Gaspar, da Americold, Vítor Figueiredo, da Logifrio, Luís Mota, da STEF, Manuel Gomes, da Salvesen Logística, e Luís Carmo, da Carreras, abordaram o tema “Operadores Logísticos – Os desafios da cadeia de frio”, tendo como moderador Sérgio Soares.
Os operadores logísticos olharam para as suas cadeias de frio e para as suas dificuldades habituais, envolvendo o rastreamento e roteamento dos produtos, os tempos de espera para as cargas e descargas, desafios da omnicanalidade e da distribuição urbana.
Dentro do desafio da distribuição urbana, sentem uma dificuldade comum ao nível das regras para a distribuição de last mile e restrições, que variam entre os diferentes municípios, e que dificultam a criação de rotas de distribuição. Um dos exemplos que deixaram foi do recente caso da Jornada Mundial da Juventude, em que inicialmente tiveram algum receio, mas que consideraram um caso de sucesso, afirmando que as regras estavam muito bem definidas, em termos de rotas, horários e ruído, e que todas as dificuldades foram contornadas com colaboração, regras e coordenação.
Foram ainda abordados os investimentos que estão a ser realizados na área, e as necessidades futuras do setor para a distribuição, armazenagem e sustentabilidade, bem como os projetos de melhoria dos acessos aos transportes públicos para os colaboradores, com a ajuda dos municípios.
Seguidamente, deu-se a apresentação da NewCold, através do seu founder & CEO Bram Hage. A multinacional que chegou ao mercado português em 2021 e que, através da aquisição da antiga FrigoService em 2022, iniciou as suas operações no verão passado, estando situada em Palmela, com uma capacidade para 3.700 paletes.
O CEO apresentou o projeto sob o tema “The Future of Cold Chain”, e os investimentos que estão a fazer a nível internacional, envolvendo a aquisição de entre 6 a 8 novas instalações todos os anos. Destaca que um dos grandes custos do grupo é em energia, mas avança que pretendem ser sustentavelmente independentes e que têm investido neste sentido.
Durante o momento de perguntas e respostas, foram ainda abordados temas como a utilização de energia nuclear como alternativa e forma de redução da pegada carbónica, os custos laborais e aumentos salariais do país, automação, transporte e inteligência artificial.
A iniciar a sessão da tarde, António Guedes, da CodeOne, e Nuno Landeiras, da MC, abordaram o tema “Voice Picking nas Operações de Frio” através um caso de estudo, envolvendo uma implementação nas instalações da Sonae de forma a que os operadores obtivessem mais ergonomia, mãos livres, produtividade e eficiência num ambiente “hostil” e complexo, que gerava problemas com ecrãs embaciados, papel húmido, dificuldades de leitura no picking, etc.
Após o caso de estudo, Luís Pereira, da JAC Motors Iberia, apresentou o camião elétrico da empresa, que chegou ao mercado no final do ano passado, através do tema “JAC Motors, o camião elétrico que muda tudo”. O lema da empresa é que se trata de um “camião elétrico para as cidades”, mas não para as cidades do futuro, trazendo benefícios ao nível da sustentabilidade, ruído, autonomia ou tempo de carga.
Quase a terminar a ronda de debates, o tema “Infraestruturas – Sustentabilidade e Inovação” foi abordado por Ricardo Nogueira, da Infrisa, Bruno Azevedo, da AddVolt, Willem Stehouwer, da Toyota, e João Leal, da Frigicoll, sob a moderação de Carlos Mendonça.
Durante este momento, foram abordados vários temas relativamente às infraestruturas utilizadas para a armazenagem de frio, os seus custos com energia e as formas de gerar poupanças através do reaproveitamento energético.
A Infrisa expôs a importância de as empresas terem bem definido previamente o investimento total nas infraestruturas, e de se assegurarem dos custos de possíveis subinvestimentos e manutenções, pois onde poderão inicialmente existir poupanças, poderá haver uma taxa de retorno a longo prazo, o que faz com que o investimento não seja viável.
Em termos de eletrificação, foi exposto o caso da AddVolt e dos benefícios de utilizar uma bateria externa para a alimentação da câmara de frio dos veículos e a mantém a funcionar mesmo com o motor desligado, funcionando como uma “powerbank”, que também pode alimentar a plataforma elevatória do veículo. Ao nível do TCO foram apresentadas várias vantagens de utilização, bem como casos de sucesso internacionais.
A Frigicoll apresentou as suas soluções de refrigeração, onde também já tinham uma implementação em conjunto com a AddVolt e a JAC Motors, e as vantagens associadas a estes sistemas.
No caso da Toyota, a transição energética foi o grande tópico, estando mais focados no hidrogénio, que consideram ter os mesmos benefícios dos veículos elétricos, mas com um rápido abastecimento. Também a circularidade foi um tema importante, aliado à sustentabilidade, e Willem Stehouwer avançou que estão envolvidos numa joint venture para produzir hidrogénio no Japão.
A terminar o dia de debates, Gustavo Paulo Duarte, da Transportes Paulo Duarte, Vítor Enes, da Luís Simões, Fábio Santos, da Sonae, e Rui Nobre, da DPD, abordaram “O papel dos transportes na logística de frio”, reunindo transportadores e cliente retalhista, de forma a conseguirem em conjunto aperceber-se das dificuldades comuns, sendo moderados por José Limão.
Durante este momento foi abordada a importância das pessoas e a dificuldade de reter e atrair novos talentos para o setor dos transportes, mais precisamente para o cargo de motoristas, e que é difícil dar-lhes melhores condições de trabalho dentro deste espectro.
A entrega de last mile, e-commerce e os desafios da distribuição urbana foram importantes focos de debate, especialmente no que toca à logística de frio, que enfrenta os problemas das variações de temperatura, certificações e perdas energéticas ao longo das viagens, para além de todas as habituais questões associadas a este tipo de distribuição. Neste sentido, sentem que existe uma pressão muito maior numa entrega de frio do que numa entrega “a seco”.
Uma evolução que se sentiu no setor foi a evolução da forma como os transportadores são vistos pelos clientes, sendo atualmente mais envolvidos nas operações e vistos como parceiros e prestadores de serviço de valor acrescentado, não sendo um problema, mas sim uma solução.
Por parte do cliente, a Sonae apontou que controlam toda a operação logística e tentam ao máximo mitigar ao máximo os acontecimentos, e que todos os meses reveem questões variáveis não previsíveis, como por exemplo os custos de combustíveis, e tentam encontrar um equilíbrio nos preços praticados com os transportadores.
Os tempos de carga e descarga foram também uma das dificuldades apontadas pelos transportadores, notando que por vezes se torna difícil de planear as rotas devido aos tempos de paragem dos veículos para abastecer ou descarregar.
A terminar o evento, Afonso Almeida, vice-presidente da APLOG e candidato à presidência da nova lista, destacou a importância não apenas destes seminários, mas também da participação de pessoas vindas de empresas internacionais e com uma visão mais global sobre as operações e sobre o que está a ser feito além-fronteiras, de modo a trazerem um diferente know-how para o país.
Nota: Poderá acompanhar o tema com mais algum detalhe na edição #51 da SCMedia News.