A Alia – Clúster Logístico de Aragón, deu a conhecer a sua iniciativa para promover linhas regulares de transporte compartilhado de mercadorias para todas as empresas que estejam interessadas em reservar contentores de Saragoça a Paris e de Saragoça a Lisboa e Porto, respetivamente, segundo avançou o jornal ElMercantil.
Os operadores ferroviários Medway e Lineas estão interessados em abrir novas rotas ferroviárias a partir deste destino, juntamente com o cluster. Ambas as empresas apresentaram os seus planos de ligação entre estes países, e estão a averiguar se existem pedidos suficientes para rentabilizar estes serviços.
Ángel Gil, gestor da Alia, considerou que a procura se deva encontrar próxima aos 80% dos contentores que os comboios são oferecer para concretizar as rotas, num total de 6.000 contentores por ano para França, e 3.000 para Portugal. O dia 30 de maio foi a primeira data definida pela Alia para analisar os pedidos e medir essa procura.
O gestor considerou que a partir dessa data já deverá ser possível fazer uma estimativa da quantidade de carga que estas rotas deverão movimentar, sendo que o próximo passo seria obter um compromisso das empresas para reservarem as suas capacidades nos comboios.
Em 2013 já existiu uma ligação entre Saragoça e Paris, mas que acabou por encerrar por falta de “massa crítica de retorno”, notou Ángel Gil. A possibilidade de as operadoras ferroviárias operarem entre os países iria depender, em grande parte, desse fluxo de retorno, que o Cluster pretende incentivar. “Tentaremos movimentar tudo o que pudermos em França”, defendeu o gestor.
A belga Lineas propôs a possibilidade de partir desde o Terminal Marítimo de Saragoça, e que poderia chegar tanto a Paris como a Lile, “dependendo das necessidades dos clientes”, afirmou Martijn Elbers, head of sales intermodal da Lineas.
A expectativa é de serem realizadas duas rotações semanais a cruzar a fronteira através de Portbou nos próximos dois anos, com a possibilidade de explorar a passagem por Irún quando as obras neste local terminarem. A empresa conta com 247 locomotivas espalhadas pela Europa, e tem “uma grande frota no sul de França e percursos na linha entre Portbou e o norte de França”, explicou Martjin Elbers, sendo que o transporte até à fronteira ficaria a cabo da Renfe Mercancias, com quem já trabalham em comboios de Tarragona, Martorell ou Madrid.
Seriam comboios multicliente e, em ambos os casos, aceitariam todo o tipo de contentores e caixas móveis, mas não semirreboques. A Lineas não avançou valores, mas a Medway estimou uma previsão de 523 euros para um contentor de 20 pés com destino ao Porto, podendo chegar aos 723 euros para um de 40 ou 45 pés, enquanto os comboios para Lisboa seriam entre 808 e 1.008 euros, respetivamente.
A Medway compromete-se a fazer uma rotação semanal para cada uma das cidades portuguesas, em ambos os casos com partida através do Terminal Saragoça Plaza, operado pela CSP Terminal Ibérico (Cosco). Os destinos da empresa do grupo MSC são o SPC Valongo (Porto) e Bobadela (Lisboa).
A antiga CP Carga tem serviços de primeira e última milha, conforme solicitação, e coloca à disposição dos clientes os seus próprios contentores, mas com a condição de ser feito um retorno do equipamento, de forma a rentabilizar a rota. Álvaro Yagüe, representante do departamento comercial da empresa, apontou que “dependendo da procura”, a rota poderá considerar opções alternativas, como o aproveitamento das ligações internas que a Medway tem em Portugal para ligar o Porto a Lisboa, em vez de fazerem as duas rotas através de Saragoça. O responsável acrescenta que, apesar de a rota também não permitir o transporte de semirreboques, “se isso for possível nalgum momento, estaremos mais do que interessados”.
Recorde-se que ainda no início do ano, Carlos Vasconcelos, presidente da Medway, tinha reforçado a entrada da Medway em França em 2025.
As solicitações serão feitas através de uma plataforma blackchain lançada pela Usyncro, onde “vamos registar os direitos de utilização dos contentores na plataforma”, afirma Ángel Gil, apesar de que nesta primeira fase não represente um compromisso firme. O Cluster explica que, caso os projetos se concretizem, o sistema da Usyncro irá servir para estabelecer um corredor digital que conecta todos os membros da cadeia logística nas rotas ordenadas pelas empresas.
O responsável da Alia considera haver um grande potencial para aumentar a quota ferroviária e descarbonizar as rotas, tendo estimado uma redução de 40 mil toneladas de emissões de CO2 por ano. No caso de as propostas não ficarem finalizadas até à data estabelecida, Ángel Gil defende a continuidade da proposta até que seja gerada a procura necessária.