Decorreu ontem, dia 21 de março, no Instituto Superior de Engenharia do Porto (ISEP), o Metalomecânica Logística, evento setorial organizado pela Supply Chain Magazine. Uma tarde repleta de conhecimento em torno deste setor, onde se abordaram os desafios e oportunidades, com um foco especial sobre o impacto da tecnologia na cadeia logística e nas operações.
A primeira intervenção esteve a cargo de Ricardo Nascimento, diretor-geral da Sinuta FCE, que abordou os desafios e oportunidades que estão a moldar o panorama atual global. Apontou como desafios os custos elevados, ou seja, o acesso ao dinheiro está mais caro, a inflação que ressurgiu após a pandemia e os conflitos regionais entre a Rússia e a Ucrânia, que afetam a estabilidade global. Além disso, há também a crise no Mar Vermelho, que tornou difícil d estimar a chegada dos transportes marítimos de longa distância, bem como os custos de transporte, que aumentaram.
As novas tecnologias, como Inteligência Artificial (IA), blockchain e Internet of Things (IoT), podem ser encaradas como desafios ou oportunidades. “Será um forte apoio para as empresas no futuro. Na Sinuta consideramos que é uma oportunidade, mas também um desafio, principalmente para as empresas que não se conseguirem adaptar”. Ainda assim, enquanto oportunidade, oferecem melhorias na eficiência e visibilidade da cadeia de abastecimento, e asseguram a globalização do mercado, uma vez que permite a ligação entre clientes e fornecedores à escala global.
Outro dos pontos abordados por Ricardo Nascimento tem que ver com a dependência das empresas dos mercados asiáticos, que se revelou um problema durante a pandemia. “Esta instabilidade tem trazido ao nosso contacto várias empresas que procuram desassociarem-se da produção asiática porque sentem que o risco é maior”, refere. Em modo de conclusão, referiu que a logística global apresenta desafios significativos, mas também oportunidades para as empresas que estão dispostas a inovar e a se adaptar. “A gestão eficiente dos desafios e capitalização das oportunidades podem ser diferenciais e cruciais para o sucesso empresarial num mundo cada vez mais interligado e competitivo”.
De seguida, Manuel Pereira Lopes e Renata Santos, do ISEP, apresentam um caso de estudo de uma empresa multinacional que comercializa soluções de automação, sistemas de maquinação e ferramentas de corte de alta precisão. Este último ponto foi o abordado pela equipa do ISEP, em conjunto com a Universidade de Salento, para ajudar a resolver o problema da produção das ferramentas. O objetivo passava por minimizar os tempos de setup, diminuir os atrasos nas entregas e aumentar a produtividade e eficiência. Após a prova de conceito foi possível reduzir em 4% os tempos de setup, em 15% o número de montagens das ferramentas e 16% nas desmontagens, não se registaram atrasos nas entregas e a nível de produtividade, foi possível diminuir em duas horas os tempos inativos. A prova de conceito foi aprovada e, neste momento, estão a tentar melhorar ainda mais estes resultados.
Javier Fernández, diretor de vendas da Mewa Portugal e Espanha, introduziu a empresa que se dedica a serviços têxteis, desde vestuário profissional e de proteção a panos de limpeza, e destinam-se a pequenas, médias e grandes empresas de indústria produção artesanal, comércio, saúde e serviços. Apostam num modelo de reutilização e economia circular.
Romeu Klug, do departamento de sales & marketing da Devlop, indicou como é que um WMS pode otimizar processos logísticos na indústria metalomecânica, e começou por apontar os desafios deste setor, tais como gestão de inventário, a complexidade da produção, o manuseamento de peças pesadas e volumosas, a necessidade de rastreabilidade, a otimização de processos, e a integração com sistemas de produção.
Através de um WMS é possível ultrapassar estes desafios. Em relação à gestão de inventário, com o WMS a empresa passa a ter um controlo total das localizações e, este recurso também permite efetuar a rota de aprovisionamento. Quanto à complexidade da produção, como existe uma grande diversidade de produtos e referências, há dificuldade em fazer planeamento e saber o que há em stock. Um WMS que tenha uma correta integração com os sistemas de produção, pode fazer o alinhamento com o que há em stock, permitindo suporte à área de produção. Há ainda a dificuldade de manuseamento de peças pesadas e volumosas, e um WMS pode analisar a rotatividade das peças de produtos acabados ou matéria-prima e identificar a melhor posição baseada em regras. Além disso, o WMS também permite assegurar a total rastreabilidade de produtos acabados ou matéria-prima. Por último, um WMS permite a gestão de processos sob a filosofia de just in time, assegurando a criação de processos de reaprovisionamento das linhas de pedido, e integrá-lo não só a nível do ERP, mas também com o sistema de produção, fornecedores e clientes.
Na indústria metalomecânica, a aplicação do WMS na gestão de armazém de stock de matéria prima e produto acabamos permite: a gestão de operações em armazém (inbound, outbound e internas), controlo de rastreabilidade, codificação e armazenagem, entre outros. Na ferramentaria, assegura a gestão de requisições, de movimentos de ferramentas, e da codificação das mesmas. Quanto à gestão de operações logísticas na produção, permite a gestão de movimentos logísticos em chão de fábrica, e a codificação de produtos em processo e produtos finais.
“Como a robótica pode impactar na logística interna” foi o tema que trouxe Luís de Matos, chairman e CEO da Follow Inspiration, ao Metalomecânica Logística. Começou por apontar os desafios que são transversais a toda a indústria que passam por automatizar tarefas repetitivas que ainda são feitas por pessoas, e que não trazem flexibilidade, e que podem resultar em lesões a longo-prazo para os trabalhadores. A robótica ajuda neste tipo de problemas.
Apresentou os robôs que desenvolvem na Follow Inspiration, nomeadamente os de plataforma, e os empilhadores autónomos (ou stakers). Os equipamentos estão todos ligados à plataforma de gestão de frota onde é possível ver em tempo-real tudo o que está a acontecer. Referiu ainda um caso prático com a SONAE, cujo objetivo era automatizar o armazém por detrás das lojas do Continente. A maior loja da empresa recebe, provavelmente, mais de 20 camiões por dia e, portanto, é necessário repor o stock que vai ser consumido ao longo dos dias a seguir. Esta operação é manual, desde a descarga do camião até à reposição do produto. O que é agora feito é, através de braços industriais ou colaborativos (dependendo do produto), é “despicada” toda a palete que se recebe do camião, faz-se a identificação visual do campo que se está a “picar”, e divide-se o produto em paletes sensoriais, que são levadas por equipamentos autónomos para dentro dos setores. “Isto evita que, num processo noturno com 100 pessoas, possamos passar a fazer com 20″.
O último momento da tarde consistiu numa mesa redonda moderada por António Galrão Ramos, do ISEP, e contou com a participação de Jorge Novo, logistics manager da Grohe, João Leão, coordenador de logística da Maran, Elisabete Coelho, ocean managing director da Abreu Logistics, e Paulo Oliveira, logistics director da Simoldes.
A questão inicial relacionava-se com a forma como a tecnologia está a impactar o setor de atividade onde estas empresas estão inseridas. Elisabete Coelho referiu que “é o futuro”, e que os clientes estão cada vez mais exigentes quanto a essa necessidade. Sem a digitalização não é possível avançar, de acordo com a profissional. Já Paulo Oliveira corroborou a ideia, indicando que os próprios clientes pediram que abordassem a digitalização. Assim, a informação partilhada é sempre transparente e a tecnologia está no centro da relação entre clientes e fornecedores. No mesmo âmbito, João Leão indicou que neste momento não deverá existir nenhuma empresa de metalomecânica sem digitalização. Jorge Novo afirmou que desde que a Grohe está a avançar no que diz respeito às transformações digitais, especialmente desde que foram adquiridos pelo grupo do qual fazem parte, pois estão ligados a uma estratégia digital inserida num grupo com cerca de 30 fábricas.
Como não podia deixar de ser, abordou-se o tópico da substituição do Homem pela tecnologia. Elisabete Coelho referiu que há, de facto, tarefas rotineiras sem valor acrescentado efetuadas pelos trabalhadores que podem ser realizadas por robôs, mas que não tem ideia da velocidade a que chegaremos a essa realidade. Deverá, no entanto, ser o futuro. Por sua vez, Paulo Oliveira informa de que essa já é uma realidade na Simoldes, uma vez que alguns robôs já substituíram postos de trabalho na produção. No entanto, ressalva que “quando queremos implementar um processo completamente automatizado, temos de fazer os nossos processos perfeitos, repetitivos e seguros, e só depois automatiza-los. E ainda estamos longe de ter processos perfeitos”, indica. João Leão acrescenta que a robotização é um bom recurso para tarefas repetitivas e de elevado esforço físico. “Em empresas com elevado nível de produção, a robotização enquadra-se bem na gestão de stocks, e entrada e saídas de materiais”, revela. Já Jorge Novo indica que é uma inevitabilidade, mas que, neste momento, o foco da Grohe recai sobretudo na aposta de produção de capital, de inteligência e de soluções criativas sobre os problemas e sobre a melhoria dos diversos processos e das pessoas.
Abordou-se ainda a diferença de mentalidades e necessidades dos mais jovens, e da importância de os integrar nas empresas, uma vez que podem trazer novas ideias e realidades com as quais as empresas podem beneficiar.