Não é preciso recorrer a equações matemáticas para resolver este problema: quanto mais as dimensões de um produto forem ajustadas, menos espaço vão ocupar no seu transporte até ao destino final. Assim, são efetuadas menos viagens para esse fim, e evitam-se mais emissões de CO2. Numa altura em que a sustentabilidade está na ordem do dia, as empresas reconhecem a sua importância, e algumas já se estão a posicionar para reduzir a sua pegada ecológica através de designs mais sustentáveis dos seus produtos. A Tetra Pak e a DS Smith, especializadas em soluções de packaging, explicaram à SCM o que está implícito por detrás destas decisões, e quais os benefícios para as empresas e para o ambiente.

São várias as empresas que têm efetuado alterações nas embalagens dos seus produtos, no sentido de reduzir a utilização de determinadas matérias-primas e, consequentemente, de emissões na sua produção, mas também visando a eficiência no processo de transporte. Se as embalagens forem mais pequenas ou estreitas podem ser transportadas em maior número, o que se traduz em menos viagens e, necessariamente, menos CO2 é produzido durante a viagem. 

Em 2021, a Yoggi, marca de iogurtes pertencente ao Grupo Longa Vida – Lactalis Nestlé, criou uma garrafa reciclável que permitiu reduzir 28 toneladas de plástico. Na altura, o diretor-geral do grupo, Nuno Tavares, referiu que este reposicionamento focado no meio ambiente, que se traduz numa embalagem mais pequena, “permite minimizar o nosso impacto tanto pela redução de plástico como pela redução do número de camiões a fazer o transporte, via um fluxo logístico mais otimizado”. Por sua vez, a Licor Beirão também efetuou alterações na sua garrafa de vidro, sendo que agora tem um formato mais estreito, permitindo “uma melhor otimização no transporte e logística das embalagens, para além da nova composição que permite o recurso a uma maior variedade de materiais reciclados”, afirma a empresa em comunicado. 

Já a CIN, empresa que atua no mercado das tintas e vernizes, também lançou recentemente uma nova embalagem de 15 litros de tinta, com um novo design, que proporciona uma otimização do consumo de material, que beneficia o manuseamento e transporte da tinta graças à redução do seu peso. No que diz respeito à sustentabilidade, esta aposta traduz-se numa diminuição de 6.6% da pegada de carbono. 

Além destas, a marca de vinhos O Pequenos Rebentos Alvarinho também alterou o formato normal da garrafa, que era alta e esguia, e passou a ser mais baixa, larga e leve, o que, do ponto de vista logístico e de armazenamento, é uma vantagem. Márcio Lopes, produtor da marca, indica que este formato está a ser implementado noutras referências do projeto. “Atualmente, no portefólio de vinhos, utilizamos garrafas de 75cl, aproximadamente, 45% mais leves no global”, explica. Acrescenta ainda que “uma das nossas principais ambições é reduzir a pegada ambiental em toda a cadeia de valor, ao mesmo tempo que privilegiamos a experiência do consumidor”. Neste sentido, reduziram a utilização de plástico e de caixas com tintas e colas tóxicas, e passaram a disponibilizar caixas com espaço para seis garrafas, com impressões simples, para reduzir o número de embalagens e de resíduos. “Trabalhamos em parceria com transitários para efetuar as entregas e, em geral, transportar cargas com menos peso permite uma poupança no combustível”, refere Márcio Lopes.

A importância de uma embalagem adequada ao produto

Ingrid Falcão, sustainability manager da Tetra Pak Iberia, indica que a empresa visa, por um lado, satisfazer a procura dos consumidores e dos clientes por embalagens seguras e sustentáveis e por outro, garantir a total rastreabilidade do conteúdo em todas as partes da cadeia de valor para medir o seu impacto e poderem cumprir com algumas metas que têm vindo a definir. No caso dos operadores logísticos, estes são agentes “essenciais” em todo o processo, uma vez que estão incluídos na cadeia de valor que a Tetra Pak pretende que alcance as zero emissões de gases com efeito de estufa até 2050. 

“Hoje, as embalagens têm uma forma que permite ocupar todo o espaço disponível no transporte, e a relação peso/produto faz com que seja possível transportar mais produto e menos embalagens”, indica. Um dos exemplos são as embalagens para alimentos e conservas Tetra Recart®, que proporcionam aquilo que a empresa chama de “logística inteligente”, ou seja, permite mais unidades por camião (mais 19% de unidades em comparação com latas, e mais 64% face a unidades de vidro) e palete, otimização do espaço, e menos 81% das emissões de CO2. Quanto aos custos de transporte, estas embalagens representam menos 39% face ao vidro, e menos 16% em relação às latas.

A maior parte das embalagens da Tetra Pak é entregue aos clientes em grandes bobines, facilitando o transporte e armazenamento deste material de embalagem, uma vez que é possível tirar o melhor partido do espaço e reduzir o número de viagens. “Chega a ser possível transportar entre seis e 10 vezes mais embalagens para alimentos, por exemplo, as Tetra Recart® num só camião, quando comparadas às latas”, acrescentando ainda que “também no caso dos produtos embalados, uma vez que se encontram em embalagens retangulares ou quadradas, o espaço que irá ser necessário para o seu transporte e armazenamento será mais reduzido, estimando-se que se podem transportar cerca de 10 a 20% mais unidades por camião do que, por exemplo, aquando do transporte e armazenamento das latas”. 

“Hoje, as embalagens têm uma forma que permite ocupar todo o espaço disponível no transporte, e a relação peso/produto faz com que seja possível transportar mais produto e menos embalagens” – Ingrid Falcão, sustainability manager da Tetra Pak Iberia

Atualmente, as embalagens da Tetra Pak são produzidas, na sua maioria, a partir de matérias-primas renováveis, como o cartão com certificação FSC®, e disponibilizam plásticos de origem vegetal, provenientes da cana-de-açúcar, para substituir plásticos de origem fóssil. “No final, temos embalagens mais leves, maioritariamente em papel, recicláveis, que vão representar também uma redução no espaço a nível logístico, de transporte, e que cumprem o desafio de levar alimentos e bebidas até aos consumidores, com segurança e todo o valor nutricional, com uma menor pegada de carbono”, conclui a sustainability manager. 

Por sua vez, a DS Smith, especializada em soluções de packaging sustentáveis e eficientes, tem uma visão bastante rigorosa no que diz respeito à sustentabilidade ambiental, sendo este um dos seus grandes pilares. André Matos, design & innovation manager cluster Portugal da DS Smith Packaging, refere que “a adoção de práticas sustentáveis está a tornar-se imperativa em todos os setores e estende-se a toda a cadeia de fornecimento”. Assim, sublinha a importância de apostar em novos designs de packaging sustentáveis e otimizados, que permita equilibrar a proteção dos produtos com um processo logístico eficiente, de modo a reduzir a pegada de carbono. “A chave está não tanto em utilizar embalagens pequenas, mas sim em ajustar as embalagens de modo a não transportarem ar. Reduzir os espaços vazios dentro das embalagens é fundamental para se conseguir aumentar o número de caixas nos camiões e contentores, reduzindo, assim, o número de viagens, com enormes poupanças ao nível financeiro e ambiental”, explica. Desta forma, uma embalagem ajustada ao produto torna-se “uma aliada indispensável à logística moderna”, visto que permite reduzir os tempos de processamento e possibilita entregas mais rápidas. 

Segundo André Matos, “o packaging é um dos elementos que mais contribui para favorecer a cadeia de fornecimento e ajudar a ultrapassar obstáculos logísticos”. Assim, a DS Smith foca-se em soluções que facilitam o acondicionamento e permitem introduzir mais produtos por palete, o que se traduz em menos paletes para armazenamento, menos camiões para transporte, reduzindo custos operacionais e o impacto ambiental. “Detemos um vasto conhecimento das cadeias de fornecimento, pelo que, estamos conscientes de que as nossas soluções têm um papel fundamental a desempenhar na eficiência das operações logísticas dos nossos clientes”, indica. A empresa realizou um inquérito a 300 executivos com responsabilidade nas áreas de supply chain, compras, packaging, matérias-primas e sustentabilidade, para compreender qual o papel do packaging nas suas estratégias. Concluíram que as soluções otimizadas são encaradas por 56% dos inquiridos como a maior oportunidade para reduzir custos logísticos. “Assim, estamos focados em otimizar, cada vez mais, as nossas soluções, tanto ao nível da logística, como no que diz respeito à sustentabilidade ambiental”.

“A adoção de práticas sustentáveis está a tornar-se imperativa em todos os setores e estende-se a toda a cadeia de fornecimento” – André Matos, design & innovation manager cluster Portugal da DS Smith Packaging

A DS Smith já conta com vários casos de sucesso, sendo um deles a colaboração com a Vernusi (ex-Phillips Domestic Appliances), para a qual desenvolveram um novo packaging que inclui medidas adicionais de sustentabilidade e eficiência. O foco passou por criar uma embalagem 100% reciclada e reciclável, resistente ao transporte e otimizada em termos de espaço. “Assim, além da opção por packaging 100% em cartão canelado, a nossa atenção incidiu igualmente na minimização das áreas vazias em cada caixa de produto, o que contribui para que as dimensões das embalagens estejam a ser reduzidas”, explica André Matos. Além disto, substituíram também os tradicionais guias de instruções em papel por códigos QR digitalizáveis impressos nas embalagens. Ao reduzir a área externa impressa, diminuíram em 65% a utilização de tinta.

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