Os dias 7 e 8 de maio vão ficar para a história da SCM Conference que se apresentou, este ano, com o mote: “Supply Chain: Nada se Perde, Tudo se Recria e Transforma”. Mais uma edição, que contou com vários profissionais de topo de supply chain e procurement que procuraram acrescentar valor e conhecimento aqueles que o procuraram. Cerca de 400 participantes reuniram-se na Casa de Reguengos, na Malveira, para absorverem insights valiosos, para serem desafiados a pensar fora da caixa, e para ouvirem uma ou outra história de desafios e superação neste setor que se caracteriza por não ter dois dias iguais. Veja aqui o resumo da SCM Conference 2024.

 

  • Dia 7

Coragem e humildade. Estas são duas competências fundamentais inerentes à liderança, na ótica de Isabel Paiva de Sousa, especialista em gestão estratégica de pessoas, que protagonizou a intervenção inaugural da SCM Conferente 2024. “Liderar para transformar e superar” foi o tema com que galvanizou a audiência. Humildade para reconhecer que todos os dias se cometem erros e coragem para ousar. “Um líder tem de ser corajoso”, notou, sublinhando a importância de liderar pelo exemplo, mas chamando à atenção para a necessidade de se ter consciência do que se faz bem e do que se faz mal. Porque “liderar com baixa consciência é um grande risco”. Na sua perspetiva, um líder tem de desenvolver o autoconhecimento, tem de envolver as equipas no propósito da empresa e, ainda, deve ter a capacidade de perguntar mais e falar menos.

Mantendo o tema das pessoas, Miquel Serracanta, general manager da Solutions & Decisions, falou da conectividade entre as pessoas e as empresas, com o tema “La nueva dinámica del talento en Supply Chain: Oportunidad o Riesgo?”. Uma das principais ideias defendidas prendeu-se com a conectividade, destacando a importância de haver uma boa conexão entre as necessidades das empresas e os candidatos, tendo sido este um dos seus focos principais. “A cadeia de abastecimentos é feita através de conexões”, afirmou o responsável, sendo que a tecnologia está a ser um game changer para estabelecer esta ligação.

Atualmente, as empresas têm apresentado alguma dificuldade na atração de talento, mas Miquel Serracanta considera que as empresas procuram “super-homens e super-mulheres” a um custo abaixo do estabelecido no mercado. “Não é fácil encontrar as pessoas ideais, mas também não há milagres. Vai demorar e vai ser difícil, vão ser necessários muitos candidatos para encontrar o certo”, defende ainda Miquel Serracanta.

 

“A tecnologia vai ser um game-changer, e não vai acontecer: está a acontecer. Já está cá.”

– Miquel Serracanta

 


“O poder das parcerias: como a colaboração impulsiona o sucesso no recrutamento e outsourcing de pessoas”, foi o tema que juntou Andrea Nunes, country general manager do Grupo Constant, Miguel Pina Martins, CEO da Science4You, e Bruno Faneco, administrador da Sogenave. Durante a sessão abordaram-se os desafios que impactaram as cadeias de abastecimento de empresas tão diferentes como a Science4You e a Sogenave. Além de uma pandemia, onde foi preciso uma adaptação do negócio da Science4You, tendo começado a produzir óculos de proteção e álcool gel, outros constrangimentos como a guerra entre a Ucrânia e a Rússia, a inflação e conflitos geopolíticos trouxeram vários desafios. Bruno Faneco destacou também o desafio das “pessoas”. São precisas parcerias fortes para gerir os contratempos. “Não somos capazes de ir lá sozinhos”, confessava. Abordou-se ainda a importância do outsourcing, evidenciando-se como estratégico para as organizações. 

De seguida, o professor José Crespo de Carvalho, presidente da Comissão Executiva o ISCTE Executive Education, destacou quatro pontos (mais um), que os profissionais de supply chain devem ter em conta. O primeiro tem que ver com o customer journey, ou seja, pensar como é que as decisões impactam o cliente, e não só como impactam a empresa. O segundo consiste no tempo. O professor incentivou a desmaterializar a ideia de que “tem de ser tudo para ontem”, uma vez que nem todas as empresas são iguais e, assim, “as nossas supply chains não têm de ter comportamentos similares, mas sim adaptar-se ao tipo de argumento que querem”. A capacidade foi o terceiro tópico apresentado por José Crespo de Carvalho como “um conceito temporal”, visto que a capacidade é diferente de lotação. O quarto ponto está relacionado com working capital, “um problema de tesouraria” que tem de fazer parte do conhecimento dos supply chain managers. Por último, falou sobre a inovação, nomeadamente a importância de tirar partido da utilização de Inteligência Artificial (IA) para gerar ganhos de produtividade. “Somos capazes de inovar se quisermos, e somos responsáveis pela inovação que somos capazes de criar”, terminou. 

 

“As nossas supply chains não têm de ter todas comportamentos similares. Depende do workflow com que estamos a trabalhar. Se é para criar escassez, entregamos escassez, se é para criar rapidez, temos de entregar rapidez.”

– Prof. José Crespo de Carvalho

 

O debate do dia 7 focou-se no que as cadeias de abastecimento e a área da logística irão enfrentar no futuro a curto, médio e longo prazo. Luís Santos, senior manager da KPMG moderou a sessão que contou com a participação de Pedro Hugo Rocha, contract manufacturing director EMEA do Campari Group, Miguel Martins da Silva, group chief supply chain officer da Dr. Max Pharmacy Chain, Sandra Augusto, VW Group Material logistic manager da Volkswagen, e Vasco Lemos, head of global logistics da Imperial Brands PLC. Os temas-chave que acompanharam a sessão foram a flexibilidade; tecnologia, nomeadamente a integração de novas tecnologias na cadeia de abastecimento e a sua utilização a médio-prazo; e sustentabilidade, momento em que se focaram no que é necessário para manter a cadeia de abastecimento em funcionamento com todas as restrições ambientais que têm vindo a ser implementadas ou abordadas.

“A sustentabilidade é um tema de board, estratégico e político”, afirmava Sandra Augusto, acrescentando ainda que é necessária a capacidade para trabalhar em temas estratégicos como este, uma vez que a legislação está a avançar e é necessário ter isso em conta para aplicar as diretrizes. Já Pedro Hugo Rocha confirma que no Campari Group estão a integrar a sustentabilidade na proposta de valor para o cliente final, afirmando que “não queremos ter apenas produtos sustentáveis para o cliente ter de pagar mais”. O responsável destaca ainda que existe a ideia de que o cliente pede por produtos sustentáveis, mas que não está disposto a pagar por eles. Por sua vez, Miguel Martins da Silva aponta a importância das tecnologias e da automação enquanto principais drivers das empresas, e que hoje estas ferramentas estão muito acessíveis, mas que “a automação em si é um meio, não um fim”. Complementando os colegas de painel, Vasco Lemos defende a necessidade de haver uma supply chain flexível e otimizada, mantendo os mesmos níveis de serviço com um menor nível de entregas simultâneas, alertando que “a sustentabilidade é um dos principais drivers das empresas”.

 

“Na teoria, o cliente pede produtos mais sustentáveis, mas depois não está disposto a pagar.”

– Pedro Hugo Rocha

 

O primeiro dia desta SCM Conference não podia ter acabado da melhor forma: João Correia, fundador da empresa Flying Sharks e orador motivacional, tomou conta do palco e da plateia, com as suas histórias de vida. Histórias que envolvem “Tubarões, Camiões, Aviões, Melgas e Afins”, como decorreu o título da sua intervenção. E que começam no seu desejo de trabalhar com tubarões, um desejo que o levou, primeiro, ao curso de Biologia Marinha na Universidade do Algarve, depois ao Jardim Zoológico de Lisboa e, no ano da Expo’98, ao Oceanário. Foi aí que ganhou a experiência que suportou a criação da sua empresa, há quase 18 anos. Destas histórias retém várias lições, entre elas, a importância de construir reputação e o imperativo da adaptabilidade como ferramenta de sobrevivência.

 

  • Dia 8

O segundo dia da SCM Conference iniciou-se com Pedro Amorim, co-founder da LTPLabs, que trouxe o tema “IA Generativa na gestão da cadeia de abastecimento: mito ou realidade?”. Começou por referir que o objetivo da sua intervenção passaria por nivelar o conhecimento sobre aquela que é hoje a técnica mais falada em todo o lado, que é a IA Generativa. Atualmente, a nível de abordagem na área da supply chain, apenas 3% das empresas conseguem efetivamente retirar valor da IA Generativa, enquanto que 52% não estão familiarizadas (ou não querem estar). “Vamos conseguir desbloquear muito valor através da IA Generativa. As vossas tarefas vão ser muito mais empoderadas”, referiu Pedro Amorim. Ainda assim, salientou que é preciso falar-se mais sobre esta tecnologia na área da supply chain, ou seja, perceber melhor o seu potencial e onde acrescenta e não acrescenta valor, bem como trabalhar as bases do negócio enquanto se familiariza com esta tecnologia. 

Seguiu-se Arne Lingemann, member of executive board da Emons Spedition gmbh, que falou sobre como as pequenas e médias empresas se podem adaptar ao aumento da volatilidade do mercado. Começou por referir que desde sempre que tem havido flutuações entre o fornecimento e a procura, e o mesmo se aplica às disrupções na supply chain (desastres naturais, guerras, terrorismo), que geram impactos como perdas nas vendas e nas oportunidades de negócio, clientes insatisfeitos ou custos operacionais. Estes são grandes desafios, e quanto menor a dimensão de uma empresa, maior é o desafio. Apresentou alguns inputs, desde logo alavancar tecnologias-chave, processos e workflows lean para melhor lidar com a procura volátil, adotar estratégias de gestão e mitigação de riscos e monitorização de desempenho, diversificar a cadeia, contar com planos de contingência para minimizar possíveis impactos e manter parcerias estratégicas assentes na lealdade.

 

“A lealdade funciona para ambos os lados. Temos de ser tão leais para os nossos fornecedores quanto eles para nós.”

– Arne Lingemann

 

Para apresentar a centralidade logística de Sines, reuniram-se Jorge D’Almeida, presidente da Comunidade Portuária e Logística de Sines, José Luís Cacho, presidente da administração dos portos de Sines e do Algarve, e Isabel Caldeira Cardoso, CEO e presidente da Comissão Executiva da AICEP Global Parques. Jorge D’Almeida apresentou a Comunidade Portuária e Logística de Sines (CPLS), cuja missão é promover o desenvolvimento do complexo portuário, industrial e logístico de Sines congregando os interesses e as valências dos seus associados, com o objetivo de consolidar Sines como o principal porto Atlântico da Península Ibérica. Por sua vez, José Luís Cacho focou-se na nova estratégia que foi delineada para o Porto de Sines, cujos fatores de competitividade passam por centralidade e conectividade, coordenação e eficiência e sustentabilidade, bem como na Agenda Nexus que está alinhada com estes fatores de competitividade. Por fim, Isabel Caldeira Cardoso, apresentou a Zona Industrial e Logística de Sines (ZILS) e as suas potencialidades, bem como os fatores competitivos para a logística nacional. 

Alex Van Breedam, CEO da Tri-vizor NV, foi um dos convidados internacionais, começando por desafiar a audiência com a pergunta “Devem as cadeias de abastecimento tornar-se mais pequenas, mais ecológicas ou mais inteligentes?”. Ao longo da sua apresentação foi abordando os desafios pelos quais a supply chain global tem passado nos últimos anos, como a pandemia de COVID-19, o navio Ever Given, da Evergreen, encalhado no Canal do Suez, a guerra na Ucrânia ou os recentes ataques dos Houthis no Mar Vermelho. Todos estes eventos têm levado a cadeia de abastecimento a passar por grandes mudanças e adaptações, como o nearshoring e a digitalização.

Para criar cadeias mais ecológicas, deixa a ideia de criar uma comunidade para a gestão logística e aproveitar a capacidade entre as empresas, enquanto forma de reduzir a frequência dos envios, e não apenas de encomendas, mas também de paletes que tenham como destino outros países e cujo envio não seja urgente, podendo ser feito um cross-docking próximo das fronteiras por várias empresas que vão aproveitando o espaço disponível e aproximando a carga do destino. “Se colaborarmos podemos tirar proveito das nossas sinergias”, destaca.

 

“Se colaborarmos podemos tirar proveito das nossas sinergias.”

– Alex Van Breedam

 

Foi com o tema “Procurement: o game-changer na gestão da cadeia de abastecimento?”, que Pedro dos Santos Vareda, corporate procurement director da Luís Simões Logística Integrada, Tiago Cruz, lead – procurement and sourcing EMEA da ORICA, Francisco Machado Serra, procurement & supply chain manager da The Force CT GmbH, iniciaram o debate, tendo a moderação de Marcela Castro, professora Adjunta ESCE IPS. Nos últimos anos, o procurement tem ganhado mais relevância dentro das organizações, e a pandemia foi importante para destacar a sua importância. Pedro dos Santos Vareda destacou a mudança de mentalidade que ocorreu desde a pandemia, pois “até 2019 olhava-se muito para o preço, e agora olha-se muito para o custo”. Ao nível da supply chain, apontou que o procurement é fundamental para garantir o abastecimento da cadeia, reforçando a ideia de que “cada euro que poupamos é um euro direto nas contas da empresa”.

A transformação digital foi apontada como sendo uma base importante para as operações das equipas, e Francisco Machado Serra reforçou a importância de as empresas não se fixarem apenas nos processos digitais e atualizarem-nos, implementando ferramentas de data analytics e machine learning, pois os modelos atuais com que as empresas trabalham já não são adequados. De modo a poderem inovar e agregar ainda mais valor, aponta que o procurement tem de compreender não só de que forma o consegue fazer, mas também, se ao fazê-lo, está a fazer o melhor para a empresa e para os clientes, e que para isso é necessário ter voz nas organizações e estar a par dos processos para conseguir tomar as melhores decisões. 

 

“O procurement não deve ser considerado um cost center, mas um profit center, ou seja, tem de ser um negócio dentro do próprio negócio.”

– Francisco Machado Serra

 

“Pessoas, Processos e Tecnologia” foi o foco da sessão que se seguiu, que contou com a participação de Tiago Fernandes, business development manager Industry 4.0, da SAP, que evidenciou a introdução de IA para resolução de problemas, e referiu ainda que a SAP tem vindo a incorporar este tipo de tecnologia nos negócios; de Carlos Fonte, VP head of digital transformation EMEA da Exed Consulting, que mostrou a importância de trabalhar junto com o cliente nas implementações; e de Jorge Carrola Rodrigues, digital transformation professor da SAP Academic Board, que destacou a necessidade de investir na formação dos trabalhadores, referindo que “o problema das implementações que não têm sucesso nesta área, não é por causa de tecnologias, mas sim por fatores como gestão de projeto ou liderança”. 

Fábio Santos, National Business Development Manager da Modula, manteve o tema dos processos e da tecnologia, sob o mote “a melhoria nos processos na produtividade e no controlo impulsionada pela Modula”. O responsável apresentou casos de estudo de implementações da empresa nas operações dos clientes, de diferentes áreas e com características e especificidades distintas, e os ganhos que estes apresentaram, tanto ao nível do espaço como da minimização de erros, mantendo os níveis de desempenho e controlo mesmo em setores com elevados standards.

Rui Bessa, mobile robots manager da Europneumaq, e Diogo Ramos, digital transformation officer da HORSE Aveiro, apresentaram a potencialidade de soluções robóticas nas operações, nomeadamente o caso HORSE (ex-Renault Cacia). Foi apresentada a solução robótica móvel que a Europneumaq que implementou na HORSE Aveiro, que permitiu uma maior adaptabilidade às mudanças na linha, segurança de monitorização, baixo custo e um design clássico, ou reutilização do equipamento.

A mesa redonda que se seguiu juntou Dália Moreira, head of supply chain da Sogrape, Célia Pedro, supply chain manager da GenSun, Fernando Nogare, head of operation logistics Portugal and Europe do Grupo Boticário, Hugo Duarte Fonseca, managing partner da Devlop, Filipe Carrondo, Co-fundador & CEO da EPL – Mecatrónica Robótica, e Pedro Caldeira, da NOVA SBE na moderação, para falar sobre os desafios e oportunidades da  colaboração e integração nas cadeias de abastecimento. Durante a sessão destacaram-se os riscos de dependência de determinados mercados, a importância de fazer um planeamento e mitigar os riscos para evitar disrupções, os desafios nas cadeias de abastecimento dos oradores, colaboração com os fornecedores e quais as potencialidades da tecnologia.

Chegada a Portugal há três anos, e já com grandes investimentos em Lisboa, Porto e Santarém, a Panattoni Iberia seguiu-se no programa, na voz de Jesús Lancharro, director of Leasing & Asset Management da empresa, com o tema “Pioneering Modernization in the Logistics and Industrial Sectors”. Durante a apresentação destacou-se a importância de as empresas contarem com espaços personalizados para as suas operações, sendo essa uma possibilidade nos espaços da Panattoni, e os benefícios que as empresas podem obter desde logo por não investirem num espaço genérico.

Carlos Pereira, chief supply chain officer da Coindu, fez uma apresentação sobre a empresa, bem como o que se poderá esperar do futuro através do novo investidor Mastrotto, um dos maiores fornecedores de couro para o setor automotivo. A Coindu pretende ampliar as suas ofertas de couro, bem como aumentar a sua presença global, uma vez que este investidor está localizado na África do Norte e América do Sul. Carlos Pereira falou ainda sobre a nova parceria com a SAGE, player de materiais de superfície para o setor automotive, da qual a Coindu pretende aumentar a oferta destes materiais, e alcançar novos clientes.

Durante a mesa-redonda “Como a sustentabilidade está a liderar a transformação da Supply Chain?”, Carlos Vasconcelos, chairman da Medway, Cristina Jorge, supply chain manager da Teka e António Paulo, managing director da DB Schenker abordaram o tema da descarbonização nas operações logísticas, sob a moderação de Catarina Anjo Balona, senior manager da EY. O responsável da ferroviária destacou que a sustentabilidade é um objetivo da empresa e as medidas que estão a implementar de modo a atingir a neutralidade, mas também as suas limitações. Procuram também promover a descarbonização apresentando um cálculo das emissões evitadas pelos clientes ao optarem pela ferrovia.

António Paulo sente que têm surgido “movimentos estranhos” por parte da UE no que toca à ferrovia. Apesar de também ser um operador ferroviário, não está à espera que a UE legisle e promova o camião, tendo antecipado estas medidas através dos seus planos de investimento e procurando reduzir os seus impactos ambientais. Nessa ótica, Cristina Jorge destaca que hoje a sustentabilidade é um foco importante para os clientes, e que as empresas devem ter esse cuidado e ir ao encontro das suas expectativas, bem como controlar as suas cadeias de valor e transmitir a transparência necessária sobre as origens dos seus produtos. No entanto, Carlos Vasconcelos deixa no ar a questão também levantada por Pedro Hugo Rocha: “até que ponto estamos disponíveis a pagar um bocadinho mais por um produto amigo do ambiente?”

 

“Para sermos competitivos no mercado, temos sempre de olhar para a variável ‘custo’ e podemos estar a competir com players que não terão as mesmas preocupações ao nível da sustentabilidade.”

– Cristina Jorge

 

Seguidamente, Gui Athia, especialista em governança e relações com stakeholders, trouxe um tema disruptivo à conferência: “Gestão na era da opinião: decidir bem e comunicar eficientemente”. Apresentou quatro casos sobre como algumas empresas se posicionaram publicamente face a temas controversos, e como isso impactou a visão dos seus clientes/consumidores e, consequentemente, os seus lucros e reputação. “A opinião, hoje, está acima do compliance”, referiu Gui Athia, acrescentando que antigamente, na era da informação, as empresas comunicavam sobre produtos e processos através de talking points baseados em leis e dados, e que, atualmente, na era da opinião, os stakeholders esperam que as empresas se comuniquem de forma pública, rápida e clara sobre temas voláteis, complexos e ambíguos. 

A culminar uma tarde de trabalho focada na sustentabilidade, a head of Sustainability do Rock in Rio, Dora Palma, partilhou a experiência do evento na construção de um legado sustentável. A visão de sustentabilidade do festival – disse – é muito focada na pessoa, além de que a sustentabilidade não é uma meta: é uma jornada, o que significa que há sempre melhorias a implementar. A propósito, sustentou que o Rock in Rio não se posiciona como um evento sustentável, mas como um evento que trabalha a sustentabilidade.