Será altura de as empresas ocidentais deixarem de se abastecer na China e em Taiwan, devido ao receio de um conflito armado que abalaria a cadeia de abastecimento em ambos os países? O fabricante de automóveis elétricos Tesla pensa que sim.
De acordo com um artigo publicado a semana passada no sítio NikkeiAsia.com, a Tesla informou os seus fornecedores de que devem começar a fabricar componentes e peças fora da China e de Taiwan – e já no próximo ano – devido ao aumento das incertezas geopolíticas, incluindo uma potencial invasão chinesa da ilha de Taiwan, que a China considera sua.
Ainda há duas semanas a China realizou dois dias de exercícios militares nas imediações de Taiwan, tendo os militares chineses apelidado estes exercícios de “forte castigo” pelos “atos separatistas” da ilha autónoma.
A Tesla terá enviado uma mensagem aos fornecedores que fabricam componentes como placas de circuito impresso, ecrãs e sistemas de unidades de controlo eletrónico para utilização nos modelos Tesla vendidos fora da China, de acordo com executivos da cadeia de abastecimento com conhecimento direto do assunto, noticia o Nikkei Asia.
“Recebemos o pedido da Tesla de que esperam ter componentes que sejam tanto OOC como OOT, ou seja, fora da China e fora de Taiwan”, disse ao Nikkei Asia uma fonte de um fornecedor da Tesla e de outros fornecedores, sediado em Taiwan. “Esperam que essa proposta se materialize a partir dos novos projetos do próximo ano”.
O Nikkei Asia também falou com um executivo de outro fornecedor de componentes que disse que a sua empresa estava a aumentar as suas capacidades na Tailândia na sequência daquele pedido. “Para muitos clientes, incluindo a Tesla, a chamada estratégia China+1 inclui evitar Taiwan também”, disse o executivo.
Fontes afirmam que outros fabricantes de automóveis americanos, como a General Motors e a Ford, pediram aos fornecedores que estudassem a possibilidade de transferir a produção de produtos eletrónicos para fora da China e de Taiwan, mas, ao contrário da Tesla, não fizeram disso uma exigência formal.
Na mesma notícia é ainda citado o executivo de uma empresa de fabrico de produtos eletrónicos, que afirmou: “Servimos vários fabricantes de automóveis americanos, e a Tesla é a mais agressiva em termos de tentar evitar os riscos em torno da China e de Taiwan”. Acrescentou que “é muito difícil e dispendioso fazer OOC e OOT, uma vez que é aí que se encontra a cadeia de abastecimento madura”.
O Nikkei Asia refere ainda que a China e Taiwan produzem em conjunto a maior parte das peças e componentes eletrónicos avançados do mundo, incluindo ecrãs, placas de circuitos impressos, lentes de câmaras e semicondutores. Por exemplo, 87% dos principais fornecedores da Apple têm instalações de produção na China, segundo a análise do Nikkei Asia.
A Tesla não respondeu ao pedido de comentário do site sobre esta sua estratégia de aprovisionamento.