Dotar todos os ecossistemas logísticos de uma linguagem universal, por via da tecnologia, é o objetivo do projeto Standtrack, que está a ser desenvolvido pelo CITET – Centro de Inovação para a Logística e Transporte de Mercadorias, de Espanha, e que tem em Braga uma das cidades-piloto.
Trata-se de uma iniciativa pioneira que visa permitir a todos os agentes da cadeia de abastecimento acesso a uma plataforma e a uma linguagem comuns que garantam a identificação e traceabilidade das encomendas com recurso aos mesmos códigos. Facilitando a comunicação, facilitam-se os processos, ganha-se em eficiência e em sustentabilidade.
São estes os contornos do Standtrack, que nasce, de acordo com o diretor de Projetos do CITET, Enrique Sánchez, da identificação de que o excesso de população nas grandes cidades, o crescimento do comércio eletrónico e, por via dele, o imediatismo das compras impacta diretamente com a crescente regulamentação em matéria de sustentabilidade para o transporte urbano. “Esta situação complexa leva-nos a procurar soluções inovadoras e disruptivas que não passem apenas pela aposta nos veículos de baixas emissões, mas que nos levem a aplicar a inteligência coletiva a toda a cadeia de abastecimento”, afirma, em entrevista à SCM. É assim que surge esta iniciativa: “Nasce como uma necessidade colocada pelo ecossistema logístico de dispor de uma solução definitiva que permita a todos os intervenientes ter uma linguagem universal para identificar encomendas e fazer a respetiva traceabilidade”, reforça.
Sobre os benefícios desta plataforma, o porta-voz do CITET especifica que variam em função do ponto da cadeia em que se coloque o foco. E concretiza, sustentando que, para fabricantes e retalhistas, uma comunicação simples e padronizada potencia a traceabilidade integral da mercadoria, independentemente das empresas de transporte que participem na operação. Ao mesmo tempo, confere-lhes um ponto único de incidências para melhorar os níveis da sua qualidade de serviço, dotando-os de uma maior flexibilidade na contratação de serviços de operadores em épocas com picos de trabalho. “Se falamos, por exemplo, da última milha, a colaboração na distribuição permite consolidar mercadoria em hubs urbanos com base nos pontos de destino, independentemente das empresas que realizam o transporte. Com esta consolidação, podemos realizar uma entrega com apenas um veículo numa rua ou num código postal, sem que várias empresas tenham de fazer a distribuição nessa mesma localização”, descreve.
Um código único como matriz da integração
De modo a padronizar a colaboração e a comunicação ao longo da cadeia de abastecimento, a plataforma dispõe de quatro tipologias de mensagens que, após recolha das necessidades reais do setor, são colocadas à disposição de todos os utilizadores. Estas mensagens giram em torno da “chave” da Standtrack: trata-se de um código IUB, isto é, um código único gerado pela plataforma para identificar a encomenda em qualquer ponto da cadeia. As mensagens são disponibilizadas através de uma API (interface de programação de aplicações) segura: a solicitação de intervalos de códigos IUB, a gestão da colaboração entre os atores, a gestão dos respetivos GLN (número global de localização) e a solicitação de serviço entre os atores, além da própria traceabilidade, que é reportada à plataforma. “Esta padronização nas integrações permite que facilmente duas empresas comecem a colaborar, façam a gestão de um serviço específico e disponham da rastreabilidade desde a origem até à entrega final da encomenda”, nota Enrique Sánchez.
Esta é uma solução alicerçada sobre um sistema Cloud, com o objetivo de proporcionar mais flexibilidade, mas também escala. No que toca ao código único, o diretor de projetos do CITET esclarece como funciona: um agente, em qualquer ponto da cadeia, faz um pedido de intervalos de códigos e, através dos algoritmos, é-lhe reservado um intervalo, que não contém qualquer informação da entidade que o pede, seja origem, destino ou volume de códigos com que está a trabalhar. “Isto faz com que o código seja seguro e possa servir como complemento aos sistemas e codificadores de rastreabilidade das empresas”, ressalva.
Braga focada em mobilidade eficiente e sustentável
Melhorar a gestão logística, reduzir a pegada de carbono e criar um ambiente urbano mais sustentável e bem organizado. São estes, em síntese, os benefícios que a Câmara Municipal de Braga espera alcançar com a adesão ao projeto Standtrack. Nas palavras da vereadora com o pelouro da Mobilidade, Olga Pereira, que inscreve esta iniciativa na estratégia que visa posicionar a cidade como “um modelo de inovação e eficiência na gestão da mobilidade urbana”.
A parceria entre a autarquia e o CITET nasceu da necessidade crescente de soluções inovadoras para os desafios da logística urbana na cidade: “Braga destaca-se pela sua estratégia abrangente de mobilidade sustentável, que inclui a promoção de transportes suaves e limpos, a redução de emissões e a implementação de tecnologias inteligentes. O CITET, com sua vasta experiência em inovação logística e transporte de mercadorias, surgiu como parceiro ideal para uma colaboração profícua”, enquadra a vereadora.
E surge na esteira de outros projetos desenvolvidos no âmbito do EIT Urban Mobility, que, através das Main Innovation Calls, promove parcerias e projetos que visam transformar cidades europeias em espaços mais sustentáveis e eficientes. ”O Standtrack, com o seu foco na rastreabilidade e na comunicação eficiente entre agentes logísticos, representa uma extensão natural destas iniciativas, oferecendo uma resposta tecnológica aos desafios logísticos atuais”, acrescenta.
Em Braga, o piloto envolverá a integração do sistema Standtrack nas operações diárias de logística, com a colaboração de operadores logísticos, comerciantes locais e outros stakeholders. O teste permitirá uma análise detalhada dos impactos na eficiência, redução de emissões e melhoria na qualidade do serviço de entrega, estabelecendo uma base sólida para a expansão futura. Esta fase inicial incluirá a disponibilização de um armazém para microhub logístico, em que um dos parceiros utilizará a solução desenvolvida, permitindo a formação de utilizadores e a monitorização contínuo para ajustes necessários. O CITET liderará a coordenação técnica e metodológica, enquanto os parceiros locais, como a autarquia e a associação de comerciantes, garantirão a adequação e eficácia das soluções implementadas.
Pode ler o artigo na íntegra na SCMedia News #53.