A Global Fashion Agenda, com o apoio da Maersk, elaborou o estudo “Reverse Logistics for circular fashion systems: an exploration of untapped potencial”, que foi realizado a partir de entrevistas feitas a especialistas da indústria da moda e da área da supply chain, e que revela o que as empresas devem ter em conta para criar um sistema de moda circular.
As marcas de moda estão a colaborar mais estreitamente com os seus parceiros logísticos com o objetivo de criar sistemas mais circulares, de forma a enfrentar a legislação cada vez mais rigorosa, o escrutínio sobre os impactos ambientais, o aumento do risco de interrupções na cadeia de abastecimento, e a mudança no comportamento dos consumidores.
Apesar de a “economia circular” ser um termo bastante falado, a indústria da moda ainda carece de um sistema abrangente para a apoiar. As abordagens que existem são fragmentadas e, muitas vezes, não garantem a viabilidade comercial. Assim, as empresas precisam de uma abordagem holística que atenda às necessidades e expectativas de múltiplos intervenientes, que alcance escala e que demonstre o retorno sobre o investimento, enquanto implementa tecnologia avançada com uma maior integração dos parceiros logísticos.
A Global Fashion Agenda aponta três aspetos essenciais que as empresas devem abordar para criar um verdadeiro sistema de moda circular: o design da rede, a propriedade financeira, e o aumento dos volumes de recolha.
Um design de rede eficaz é crucial para os sistemas de moda circular, pois permite o fluxo otimizar o de materiais e produtos dos utilizadores finais, de volta para a cadeia de valor através de uma logística inversa eficiente. Uma das oportunidades evidenciada neste segmento é a gestão eficiente de inventários e forecasting: A localização estratégica de infraestruturas para recolha, triagem e reciclagem, juntamente com a integração da logística inversa, garante a recolha e redistribuição atempada de itens dos utilizadores finais, de volta para a cadeia de valor. Como resultado, a visibilidade do inventário e a previsão do forecast melhoram significativamente. Além disso, a transparência de uma abordagem logística integrada pode ajudar a mitigar o excesso de produção, visto que cerca de 30% de todas as roupas produzidas no mundo estão por vender.
Por sua vez, também há desafios, nomeadamente uma abordagem fragmentada. A principal barreira para a implementação eficaz da logística inversa é, geralmente, a falta de coordenação entre os vários intervenientes, nomeadamente os fabricantes, retalhistas, recicladores, prestadores de serviço logísticos, fornecedores de tecnologia, entidades reguladoras, entre outros. Coordenar processos e estabelecer parcerias pode ser uma tarefa exigente e consumir muitos recursos.
Relativamente à propriedade financeira, compreender os modelos financeiros e a propriedade dos ativos dentro dos sistemas de moda circular é essencial para desenvolver casos de negócio viáveis e atrair investimento. Modelos financeiros claros promovem a colaboração ao definir papéis, responsabilidades e mecanismos de partilha de lucros, melhorando a gestão de risco. A estrutura dos modelos financeiros depende de se os materiais são revendidos, alugados, reparados, refabricados ou reciclados, cada um com diferentes implicações financeiras. A orquestração de soluções é apontada como uma oportunidade. Modelos financeiros claros em sistemas de moda circular permitem uma melhor orquestração de soluções, como programas de reciclagem, plataformas de revenda, serviços de reparação e esquemas de recolha de produtos, entre outros. Os prestadores de serviços logísticos também conseguem compreender melhor com quais intervenientes se envolver, os respetivos papéis, propostas de valor e as soluções ou processos de logística inversa necessários.
Um dos desafios passa por retornos mais lentos do investimento. O elevado investimento em infraestruturas para a recolha, triagem e reciclagem de têxteis em sistemas circulares está associado a períodos de retorno sobre o investimento (ROI) mais longos em comparação com práticas tradicionais. Consequentemente, pode ser difícil de gerir e justificar, especialmente para PMEs.
Por último, o aumento dos volumes de recolha. Os atuais sistemas logísticos da indústria da moda, concebidos principalmente para a distribuição de novos produtos, não dispõem da infraestrutura necessária para uma logística inversa eficiente, capaz de recolher e processar resíduos têxteis pós-industriais e pós-consumo em larga escala. A recolha regionalizada é vista como uma vantagem. As empresas, ao se focarem em centros locais, podem otimizar a logística e os custos de transporte partilhados. Além disso, estratégia de recolhas regionalizadas são fundamentais para desenvolver abordagens adaptadas que atendam às necessidades e preferências locais, aumentando o envolvimento da comunidade e permitindo uma adaptação mais rápida a mudanças regulamentares e exigências do mercado. Enquanto isso, as empresas precisam de defender uma legislação que promova taxas de recolha mais elevadas, colaborando com os governos para estabelecer pontos de recolha convenientes, financiados por subsídios e fundos públicos.
No entanto, há o desafio da otimização da recolha. A logística pode ser complexa e dispendiosa, no que diz respeito ao movimento eficiente de resíduos têxteis pós-industriais e pós-utilização a partir de múltiplos pontos de recolha até pontos de armazenamento, triagem e reciclagem. Requer um planeamento cuidadoso em conjunto com parceiros logísticos e investimento no desenvolvimento da capacidade necessária (pontos de recolha, instalações de triagem, ou rede de transportes) para igualar a eficiência das redes de logística direta e garantir a viabilidade económica a longo prazo.
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