Num mundo em que a necessidade faz o engenho, o negócio urge, o tempo escasseia e a estratégia vacila, as melhores práticas de gestão de um negócio ou de uma organização nem sempre são tidas em consideração.

Importa, por isso, parar e perceber a sua importância estrutural! Porque adotar as melhores práticas é muito mais do que seguir diretrizes ou replicar fórmulas. Trata-se de incutir foco, criar relação, integrar processos, minimizar os riscos e inovar de forma contínua. São estes princípios que permitem a construção de um ambiente resiliente e ágil, capaz de suportar os desafios crescentes de mercados voláteis e consumidores exigentes. No fundo, a valorização de uma cultura de melhoria contínua, que incorpore as lições aprendidas, as inovações tecnológicas e os valores organizacionais num ciclo de evolução constante.

As melhores práticas das cadeias de abastecimento estão em constante evolução. Ainda assim, existe uma tendência muito ligada a 3 conceitos chave:

Organizações dirigidas por um propósito
Ao definir um propósito claro e alinhado com valores sociais e ambientais, as organizações não só reforçam a sua identidade interna, como criam uma base sólida para uma transformação centrada no cliente. Visando maximizar o retorno financeiro, mas entregando valor em benefício de todos os stakeholders, as parcerias e alianças criadas são transparentes e colaborativas, focadas numa estratégia de integração e posicionamento win-win entre todos os envolvidos, numa esfera interna e externa à organização.

Essa conexão entre propósito e relacionamento é fundamental, pois uma empresa que sabe o que representa, pode melhor responder às expectativas e necessidades dos seus clientes, construindo uma relação de confiança e adaptabilidade em tempos de mudança.

Transformação do negócio em função do cliente
A aposta na qualidade da relação e numa visão centrada no cliente implica ainda a adopção de canais de comunicação integrados e modelos operacionais centrados numa experiência excepcional por parte do cliente, o que pressupõe, também, cada vez maior capacidade de personalização e flexibilidade. Esta deverá, contudo, ser acompanhada de processos otimizados e escaláveis, evitando a complexidade excessiva na operação e aproximando o cliente quer da cadeia, quer da solução.

Eventos como a COVID-19 exemplificam a necessidade de repensar conceitos como proximidade, circularidade e sustentabilidade, hoje essenciais para acrescentar valor ao
produto e à cadeia de abastecimento (CA). Tal implica, porém, grande agilidade e maior capacidade de análise e adaptação de forma a responder a factores como pandemias, crises estruturais ou endémicas, alterações climáticas e pressões geopolíticas.

Transformação digital
Não há como fugir, resiliência e mitigação do risco estarão fortemente ancoradas na análise e otimização de dados, exercendo um impacto profundamente transformador na CA. Tal exige um investimento estratégico em tecnologia, com ferramentas que proporcionem maior transparência e visibilidade à cadeia, aproveitando o potencial do blockchain, inteligência artificial, machine learning, robótica, big data e da análise preditiva (entre outros) para antecipar tendências emergentes e futuras disrupções.

Apostar numa cultura de dados assim como na criação de ecossistemas colaborativos, com recurso a plataformas que permitam conectar os diversos stakeholders e os diferentes
dispositivos e sistemas numa rede comum é, por isso, uma forma de investir na optimização de processos e soluções. Assim como de criar fluxos de trabalho mais eficientes e inteligentes, expressamente direccionados para suprir as necessidades do mercado, minimizando o risco e garantindo maior assertividade nos investimentos. Quando feita de forma continuada, esta tomada de decisão, pode mesmo ser um factor critico de sucesso, mantendo as organizações na vanguarda do progresso, conferindo-lhe um posicionamento estratégico face aos seus concorrentes e um nível de satisfação máxima dos seus clientes, o que em última análise se traduzirá num retorno de activos para a empresa ou organização.

Estas 3 tendências chave representam assim uma cultura baseada na inovação, na disrupção e na tecnologia com foco num propósito e na relação, através de uma cultura empresarial de abertura e partilha de conhecimento. Será, por isso, legítimo assumir que as boas prácticas na Supply Chain não são apenas operações. São também responsabilidade social, corporativa e ambiental, de A a Z. E a verdade é que existem empresas que levam esta preocupação ao mais alto nível.

Um dos melhores exemplos a nível mundial é o da Cisco, empresa líder em TI, que arrecadou vários prémios pelas iniciativas e resultados que tem obtido com as boas práticas na sua CA.

Com uma estratégia e modelo de negócio focados em objetivos sociais e de sustentabilidade, a Cisco aposta num sistema de ERP de última geração para gerir a escala, a qualidade e a complexidade da sua cadeia global de abastecimento. Esta integração melhora o fluxo de trabalho entre os diferentes tiers da cadeia e os diversos stakeholders, aumentando a competitividade. A Cisco garante o sucesso da operação monitorizando e apoiando continuamente os seus fornecedores, alinhando-os com a sua estratégia, cultura e valores através de códigos de conduta ajustados, contractos, auditorias e planos de melhoria contínua. O mesmo acontece com os respectivos colaboradores e com os colaboradores dos seus fornecedores, todos incitados a trabalhar mediante os mesmos princípios, com base em altíssimos padrões ambientais, laborais, éticos e de higiene e segurança.

Este é o exemplo perfeito de como a Supply Chain deve construir a sua cadeia de valor. E seguir este caminho não é apenas desejável, é essencial para o futuro das cadeias de
abastecimento! Optar por um Ciclo Virtuoso, que se auto alimenta com a qualidade do resultado, onde o lucro é compatível com o respeito pela natureza ambiental e humana. Uma aplicação de um conjunto de boas práticas que, sem dúvida, importa seguir e onde, uma vez mais, a Supply Chain pode ser (e dar) o exemplo!

A autora escreve sob pré-acordo ortográfico.

Cláudia Penhas | Supply Chain Specialist