No dia 10 de outubro participei na conferência promovida pela Supply Chain Magazine com o tema “Procurement: a tecnologia como ferramenta de gestão de risco.” Durante a minha intervenção, partilhei alguns resultados do estudo da WTW – Global Supply Chain Risk Report: Can supply chains withstand another global disruption crisis?”.
As cadeias de abastecimento são a energia que alimenta a economia global. Através delas, as matérias-primas chegam aos centros de produção, são levadas aos centros de armazenamento ou distribuição e, finalmente, chegam às prateleiras dos
supermercados ou às nossas casas, permitindo-nos ter acesso aos produtos que necessitamos para manter o nosso nível de vida ou garantir a subsistência de milhões de pessoas. No entanto, a pandemia revelou muitas fragilidades. Um efeito dominó causou uma disrupção nas cadeias de fornecimento, desde a escassez de matérias- primas e componentes até aos atrasos no transporte marítimo, bloqueios nos portos e falta de motoristas.
As cadeias de abastecimento não conseguiram ajustar-se às enormes quedas na procura dos consumidores durante os confinamentos, seguidas de aumentos súbitos. Os armazéns já estavam cheios e não podiam aceitar novas entregas. O bloqueio foi tão generalizado que as opções de contingência, como mudar de fornecedores ou redirecionar a logística, tornaram-se muito difíceis, senão impossíveis. Neste contexto, quase dois terços dos participantes neste estudo indicaram que as perdas relacionadas com a cadeia de abastecimento foram maiores do que o esperado no período da pandemia. As perdas foram mais significativas em setores com necessidades logísticas complexas, como alimentação e bebidas, que dependem da entrega de bens perecíveis, e energias renováveis, que necessitam de construir e mover materiais grandes e complexos, como turbinas eólicas.
Este estudo da WTW sugere que as empresas aprenderam lições e estão a adaptar- se para aumentar a robustez e a resiliência das suas cadeias de abastecimento contra futuros choques. No entanto, a incerteza global está a aumentar os riscos da cadeia de abastecimento. São mais diversos, mais impactantes e mais complexos. Em cadeias complexas, os riscos podem surgir em qualquer ponto, começando a montante com as fontes de matérias-primas. A perda de um único ingrediente crítico pode ter um impacto disruptivo significativo. Em setores especializados, as empresas dependem frequentemente de um único fornecedor, tornando os riscos a montante uma ameaça maior do que os riscos a jusante, como logística e transporte marítimo. A digitalização e automação da produção aumentam os riscos de ciberataques aos fornecedores, causando atrasos nos pedidos e entregas. As mudanças climáticas e o meio ambiente são vistas como principais tendências globais que afetam os riscos da cadeia de abastecimento, assim como os fatores geopolíticos, como os conflitos na Ucrânia, Médio Oriente e as tensões no Mar da China, que podem levar a restrições comerciais, aumento das sanções e bloqueios nos portos.
A vasta extensão e escala dos riscos da cadeia de abastecimento podem ser intimidantes. Se ter simplesmente visibilidade de todos os elos da cadeia de abastecimento já é difícil, muito mais complicado pode ser calcular a probabilidade e o impacto de muitos riscos. O acesso a tecnologia que ajude no mapeamento a cadeia de abastecimento pode ajudar as empresas a entender onde estão as lacunas, e começar a preenchê-las. Um total de 41% dos participantes neste estudo diz que implementar um software de mapeamento da cadeia de abastecimento estava entre as medidas que teriam um impacto na gestão de riscos. Estas ferramentas, como a Supply Chain Risk Diagnostic da WTW, permitem que as empresas mapeiem a
localização de todos os elos e ativos na cadeia e avaliem como se conectam e interagem entre si. Esta transparência pode dar às organizações uma visão panorâmica das dependências e fatores de risco para permitir uma melhor tomada de decisões. Por exemplo, se este mapeamento identificar uma concentração de fornecedores críticos próximos de uma zona de ciclones, as empresas poderão tomar decisões sobre se deve relocalizar a produção ou ajustar a cobertura de seguros.
Este tem sido um período de mudanças na gestão das cadeias de abastecimento. As empresas estão agora mais conscientes das suas vulnerabilidades e estão a tomar medidas para lidar com elas. Algumas destas medidas incluem estabelecer parcerias com os principais fornecedores, garantindo visibilidade sobre os riscos a que estão expostos, e criando relações de médio e longo prazo que incentivem os fornecedores a investir em medidas de proteção. É essencial também posicionar a gestão das cadeias de abastecimento a um nível mais estratégico nas empresas, identificando e quantificando riscos e implementando planos de ação para os mitigar. Além disso, é importante também garantir que os programas de seguros estão adequados aos riscos identificados e que funcionam como um instrumento financeiro eficaz para proteger as empresas contra perdas económicas que podem, em muitos casos, colocar em causa a sustentabilidade dos negócios.
Luís Teixeira, risk & broking sales director | WTW