No passado dia 13 de novembro, a GS1 Portugal organizou um evento para a apresentação do seu novo estudo “Tracking de Frescos”. O momento decorreu no MARL e contou com alguns dos principais players do setor.

Jorge Reis, presidente da SIMAB e do MARL, começou por dar as boas-vindas aos participantes, contextualizando o estado do setor e a importância dos mercados abastecedores para o seu desenvolvimento, com destaque para a atuação que a Portugal Fresh tem tido na promoção do setor.

A abertura coube a João de Castro Guimarães, diretor-executivo da GS1 Portugal, que entre os agradecimentos, destacou o papel dos códigos de barras para o desenvolvimento das cadeias de abastecimento, bem como do recente estudo para apoiar as empresas e proporcionar-lhes uma ferramenta de trabalho para que consigam otimizar os seus processos. “Este estudo de tracking é uma oportunidade extraordinária de poder prestar um pequeno serviço, no sentido de ajudar as empresas do setor a conseguirem levar o produto mais fresco e em melhores condições às prateleiras dos vossos clientes, valorizando aquele muito valor que já têm os produtos que produzem”, realçou.

Seguidamente, Gonçalo Santos Andrade, presidente da Portugal Fresh, começou por abordar a importância do setor e o seu impacto no PIB nacional, bem como os desafios de adaptação aos novos consumidores e as estratégias do setor. As novas exigências aumentaram a preocupação com os níveis de sustentabilidade do setor, e a transição tecnológica veio ajudar a otimizar os processos e a alcançar metas.

“O setor das frutas, legumes e flores em Portugal evoluiu muito nos últimos 20 anos, muito devido aos requisitos que os próprios clientes apresentam”, explicou Gonçalo Santos Andrade em entrevista à Supply Chain Magazine, “houve uma evolução muito grande a nível de investimento em tecnologia, robótica, controlo de operações, com o objetivo de conseguirmos um uso mais eficiente dos recursos”.

Em 2023, o setor agroalimentar representou 12,2% das exportações nacionais de bens, e apesar de a economia nacional ter apresentado um ligeiro decréscimo de 78 mil milhões para 77 mil milhões, entre 2022 e 2023, mesmo assim o setor conseguiu crescer de 8,8 mil milhões para 9,5 mil milhões de euros.

Nos últimos 13 anos o setor multiplicou por duas vezes e meia o valor da produção, atingindo 5.161 milhões de euros em 2023, tendo triplicado as exportações durante o mesmo período, atingindo 2.303 milhões de euros de valor de exportação. Ainda assim, enfrenta um desafio claro: água. “Há 20 ou 30 anos, todos os operadores e todos os agricultores falarem numa gestão por hectare, hoje os agricultores gerem à planta e à gota de água”, afirma o presidente da Portugal Fresh.

O responsável defende que houve grandes investimentos por parte dos agricultores na modernização, mas que estes não foram acompanhados por infraestruturas de distribuição de água. “Tem de haver uma prioridade do país de modernizar perímetros de rega e aproveitamentos hidroagrícolas que têm mais de 50 anos e que precisam de grandes modernizações”, defende.

A nível tecnológico, refere a importância de implementar processos de rastreabilidade, “porque senão estão fora de mercado”, aponta

 

“A tecnologia já não tem de ser vista como um custo, mas como um investimento, que faz parte de todos os requisitos que os clientes têm. Nós temos de saber rastrear todos os nossos produtos ao pormenor. Se queremos estar no mercado global é um requisito que temos de cumprir”

– Gonçalo Santos Andrade, presidente da Portugal Fresh.

 

Seguidamente, Raquel Abrantes, diretora de Qualidade da GS1 Portugal, explicou como funcionam os standards no setor dos hortofrutícolas e a diversidade de códigos de barras de que dispõem, de modo a conseguirem responder às necessidades de diversos setores e apoiar as empresas.

A rastreabilidade foi um claro ponto de preocupação, devido às questões de segurança alimentar. Através dos standards, as empresas conseguem identificar os pontos da cadeia pelos quais os produtos passaram e ter um maior controlo sobre estes.

Nesse sentido, destacou o papel dos códigos de barras bidimensionais, devido à quantidade de informação que permitem fornecer, ocupando um pequeno espaço, e à sua linguagem simples e de fácil acesso, e defendeu a importância de os sistemas falarem todos a mesma linguagem.

Seguidamente procedeu-se à intervenção da AECOC (GS1 Espanha), na voz de Victor Aparicio González, supply chain project manager do Proyecto Benchmarking Frescos. O responsável aponta a importância do estudo – que em Espanha já vai na quarta edição -, e de as empresas participarem nele, tendo tido uma adesão cada vez maior por parte das empresas e fornecedores. O objetivo deste estudo é medir a relação comercial e o nível de serviço logístico que os fornecedores conseguem fornecer aos seus clientes.

Deste modo, é possível ter uma visão comparativa de todos os fornecedores, identificar áreas de melhoria, definir ações corretivas para permitir um melhor serviço e colaboração, e compreender o ponto de vista dos distribuidores nas suas estratégias. “Em conclusão, o rastreamento torna o setor dos produtos frescos mais forte e mais resiliente”, defende Victor Aparicio González.

Quase a terminar o dia, deu-se um painel de debate com a participação de Octavio Alvarez (El Corte Inglés), Alexandre Almeida Garrett (MC), Marcelo Dias (E. Leclerc) e Sérgio Costa (Frutas Patrícia Pilar), sob a moderação de Artur Andrade (GS1 Portugal).

Os oradores defenderam que o estudo era uma ferramenta importante de trabalho, permitindo-lhes ter uma visão mais abrangente e melhorar e desenvolver as cadeias de abastecimento, tanto para os fornecedores como para os clientes.

Marcelo Dias explica que foi o primeiro ano que o E. Leclerc participou nestas iniciativas, e que perceberam desde logo os seus benefícios para a relação com os fornecedores. “Não podemos estar sós. Desde a produção aos consumidores”, afirmou, sendo uma forma de conseguirem avaliar os seus fornecedores e de perceber o que outros clientes também acham do seu serviço, podendo assim reunir com eles e perceber oportunidades de melhoria e reforçar a comunicação entre as partes. Neste sentido, acrescenta que “queremos parceiros, não apenas fornecedores pontuais”.

Octavio Alvarez concorda com a relação com os fornecedores, e defende que deve haver visitas presenciais para não só conhecerem as operações de perto, mas também poderem partilhar as suas dificuldades e ouvir o outro lado. “Já não é um negócio de margem e sim de qualidade e frescura, e para o podermos exigir, temos de dar condições aos nossos fornecedores para o conseguirem fazer”, defende. Dando o exemplo do El Corte Inglés, revela que estão preparados para medir o calibre e os níveis de açúcar, e ao detetarem variações perceberam, em conjunto com os fornecedores, que se tratava de uma questão de clima. Demasiado calor deixava a fruta com outra cor, ou demasiada chuva modificava a qualidade. “Podem parecer detalhes, mas tem impacto no relacionamento entre o fornecedor, cliente médio e cliente final. Se todos falarem a mesma linguagem e a comunicação for transparente, poderá ajudar a melhorar”, afirma,

Para Alexandre Almeida Garrett, este estudo é uma importante peça de trabalho que estava em falta. Conta que utilizam regularmente estas ferramentas, pegando nos exercícios e estudos e trabalhando-os com os fornecedores. A comunicação é uma das vertentes que considera ter potencial de melhoria, afirmando que “com uma melhor relação, temos uma cadeia de abastecimentos mais oleada”.

No papel de único fornecedor do painel, Sérgio Costa teve o desafio de transmitir o ponto de vista destes para os retalhistas e para a audiência. Indica que a exigência dos clientes é algo a que têm de conseguir responder, mas que através do estudo é possível ver as dificuldades de ambos os lados, e muitos dos pontos indicados são oportunidades de melhoria. Como desafio à GS1, deixou uma maior transparência também para o cliente, pois poderá existir muita informação que também poderá ter interesse para ele, devido às novas exigências dos consumidores. “O que existe neste momento não é claro para o consumidor. Todas estas datas, sazonalidade, data de colheita, a necessidade de câmaras de frio, etc. Toda esta informação só é possível através do 2D”, indica.

Em termos de conclusão, João de Castro Guimarães destacou que “este estudo vai permitir aos fornecedores de hortofrutícolas entenderem os aspetos fulcrais do seu desempenho, aos olhos dos seus clientes de retalho alimentar, garantindo melhoria contínua e eficiência logística”.

O dia terminou com uma visita à Nufri, empresa com 50 anos de experiência no setor de frutas e legumes, e que conta com uma forte aposta na rastreabilidade.